sábado, 13 de novembro de 2021

Eletricidade e crescimento económico?

      Quer seja a energia que utilizamos dentro das nossas próprias casas para tomar banho, cozinhar, iluminar o livro que estamos a ler, quer seja lá fora a energia que ilumina as ruas e que faz as portas automáticas se abrirem, constatamos que o nosso acesso à eletricidade é praticamente garantido. Mas e se não fosse? Será que viveríamos num país com acesso aos cuidados básicos de saúde, à educação, com direito a um salário mínimo digno? Provavelmente não.

          A ideia para escrever sobre este assunto surgiu enquanto lia o livro do Bill Gates “How to avoid a climate disaster”. Ele apresentou um gráfico em que o rendimento per capita de um país era tanto maior quanto maior fosse o uso de energia por pessoa. Pode não parecer óbvio à primeira vista, mas a correlação entre ambos é forte.

 

Fonte: European Environment Agency

Gráfico 1- Demonstra, similarmente a um gráfico apresentado no livro mencionado à priori, que, quanto maior a quantidade de eletricidade consumida, maior é o PIB per capita

          Nos países de baixo rendimento, há três hipóteses: ou a população não tem acesso à eletricidade; ou esta é de fraco desempenho e, como tal, há várias falhas elétricas; ou, quando a energia existe, é demasiado cara. Por exemplo: segundo o Banco Mundial, na Libéria apenas 2% da população tem acesso regular à eletricidade; um terço dos países em desenvolvimento tem pelo menos 20 horas mensais de falhas elétricas; e “em muitos países da África Subsariana pagam cerca de 20 a 50 cêntimos por kilowatt-hora, contrastando com uma média global de cerca de 10 cêntimos”.

          Ora, sem eletricidade, as crianças não têm luz para estudarem nas horas em que a luz solar é fraca ou nenhuma, reduzindo a sua produtividade. Sem uma educação adequada, nenhum país pode perspetivar um futuro de crescimento económico sustentado. Por outro lado, sem energia a indústria e setor terciário não funcionam. Com energia cara, a indústria não cresce por ter elevado custo de inputs, e o investimento estrangeiro não surge. O próprio setor primário (o principal setor da economia de países em desenvolvimento) pode ser deficiente: sem sistemas de rega automáticos, maquinaria elétrica, etc., torna-se vulnerável e ineficiente, muitas das vezes, suficiente apenas para consumo próprio. Também as infraestruturas das cidades são mais fracas e subdesenvolvidas. Uma bola de neve que parece não terminar, impedindo o desenvolvimento destes países.

          É fulcral que todos possam ter acesso a energia (funcional e barata) tal como nós temos. Contudo, a abordagem terá que ser diferente. Não poderá ser energia tal como a que nós temos. Terá que ser energia proveniente de fontes renováveis. Estes países que não têm acesso a eletricidade acabam por ser os que menos poluem. Se agora fôssemos implantar energia como a nossa em todos eles, o planeta convergiria para um desastre climático de forma muito mais acelerada. Portanto, é importante que a técnica seja outra. Que não se repitam os erros que os países desenvolvidos já cometeram e continuam a cometer. É importante que as fontes de energia instaladas nestes países sejam as energias verdes. Mais eficientes e desenvolvidas, mais baratas (eventualmente, todos os países deveriam “saltar” para estas energias, mas isso é outra discussão).

          Assim sendo, as evidências mostram que, para que estas populações evoluam para estilos de vida mais dignos, a eletricidade tem que estar presente no seu dia-a-dia, tal como está no nosso. Acredito na igualdade de oportunidades, de acesso aos mesmos bens e serviços e, como tal, penso que as entidades supranacionais e os governos dos países em questão deveriam unir esforços para o conseguirem.

 

Bruna Sequeira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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