Ao longo dos últimos anos, o rendimento das famílias portuguesas não tem conseguido acompanhar a subida dos preços das casas, principalmente nas maiores cidades do nosso país. Entre 2015 e 2020, os preços das habitações subiram 31% a mais que os rendimentos das famílias, colocando assim Portugal com o pior cenário de todos os países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Em março de 2020, o
coronavírus paralisou o mundo, e o nosso país não foi exceção, fazendo com que
as imobiliárias fechassem, prevendo-se assim um cenário catastrófico no setor
imobiliário. As previsões apontaram para que o setor fosse ter um comportamento
semelhante ao que teve na crise de 2008 (uma queda no mercado imobiliário), no
entanto, durante toda a pandemia os preços das casas continuaram a crescer até
aos dias de hoje. Segundo os dados do INE, no final de 2020, os preços das
habitações subiram 7,8% face ao ano anterior, com destaque para as regiões do
Algarve e do Porto, onde os preços subiram ainda mais que a média nacional
(10,1% e 14,7%, respetivamente).
O setor imobiliário
acabou por superar todas as expectativas, passando de um setor que no início da
pandemia prometia gerar grandes prejuízos, para um setor que atraiu as
poupanças das famílias portuguesas e cada vez mais novos investidores. Algumas
das razões encontradas para este fenómeno, foram as baixas taxas de juro (que
facilitaram o acesso ao crédito), a capacidade de atração de investimento
estrangeiro e até mesmo o teletrabalho, que foi uma realidade nas casas de
muitas famílias portuguesas durante os largos períodos de confinamento. Assim,
este comportamento inesperado do mercado imobiliário face à crise pandémica fez
com que inúmeras questões se levantassem, como, por exemplo, será que os preços
estão demasiado elevados? Existe uma bolha imobiliária?
Na minha opinião, o
elevado nível de desemprego em Portugal, assim como os baixos salários não
justificam este nível elevado de preços no mercado imobiliário, e torna-se
muito difícil para um casal jovem começar a sua vida “a dois”, sendo cada vez
mais comum os jovens saírem de forma tardia da casa dos seus progenitores. Por
outro lado, acredito que exista uma bolha imobiliária, pois estes preços
elevados não refletem o valor real destes imóveis. Deveria haver uma
intervenção mais direta do regulador para controlar as “pressões
inflacionistas”, pois, como disse anteriormente, os salários do nosso país não
acompanham o ritmo do aumento dos preços das habitações.
Desta forma, muitas
famílias recorreram a empréstimos para comprar a sua habitação, e com o
surgimento da COVID-19 parte dos pagamentos destas hipotecas ficaram suspensos
com as moratórias definidas pelo nosso Governo, com o objetivo de proteger
as famílias e empresas mais atingidas pelos efeitos da pandemia da COVID-19. No
entanto, no mês passado, estas mesmas moratórias terminaram e, por isso, muitas
famílias portuguesas tiveram de retomar o pagamento da prestação da sua casa e
de outros créditos.
Em suma, acredito que os
preços no mercado imobiliário se mantenham ou até aumentem mesmo depois do fim
da pandemia, pois a procura neste setor é muito superior à oferta, sendo
necessária uma intervenção eficaz e urgente do governo.
Gonçalo Sá Pinto
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular
“Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da
EEG/UMinho]
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