terça-feira, 16 de novembro de 2021

´Nudge`: a estratégia económico-comportamental capaz de alterar decisões de forma profícua

A Teoria Clássica da economia pressupõe que as pessoas são racionais - tomam decisões com base nas informações de que dispõem e fazem escolhas de acordo com aquilo que mais as beneficiará. Assim, será lógico um consumidor não comprar três pacotes de bolachas, quando precisa de apenas um, apenas para que possa receber um brinde qualquer, do qual também não necessita. Será igualmente previsível que alguém que se encontre endividado proceda a um corte nos seus gastos, ao invés de persistir com o seu comportamento consumista, que não consegue suportar. Contudo, se somos realmente racionais, porque razão tanta gente age precisamente dessa forma?

          Richard Thaler, economista norte-americano e Prémio Nobel da Economia em 2017, defende que o processo de tomada de decisão não é assim tão simples como a Teoria Clássica prevê. Afirma que somos influenciados por questões subjetivas e culturais, as quais podem, muitas vezes, pesar até mais que a própria racionalidade. Paralelamente a Thaler, acredito que a visão por si defendida se encontra muito mais próxima daquilo que acontece na realidade. Por vezes, influenciados pelo desejo fugaz, acabamos por decidir com base naquilo que será mais cómodo no momento, desprezando o bem-estar de longo prazo, seguramente mais benéfico.

          Emerge então a Economia Comportamental, linha de pensamento defendida por Thaler, intimamente relacionada com o conceito de nudge. Este é definido pelo economista americano como “qualquer aspeto da arquitetura de escolha que altere o comportamento das pessoas de uma forma previsível, sem proibir nenhuma opção ou alterar significativamente os incentivos económicos associados”. Assim, é importante reforçar o facto de um nudge preservar a liberdade de escolha das pessoas, não existindo qualquer tipo de obrigação ou coerção, mas sim uma espécie de persuasão que direcione a decisão para aquilo que produza o melhor resultado para o agente económico.

Aplicação nas Políticas Públicas

Existem vários exemplos de como os nudges podem ser utlizados para o bem público. O Reino Unido apresenta-se como referência nesse aspeto, tendo sido criada a primeira “unidade nudge”, a chamada Behavioural Insights Team (BIT). Uma das experiências apoiadas pela BIT foi desenvolvida pela organização GreeNudge, a qual procura reduzir o desperdício de comida em estabelecimentos comerciais. Nesse sentido, foram adotadas duas estratégias: reduzir o tamanho dos pratos servidos; e afixar avisos informativos relativamente à possibilidade de repetir quantas vezes os clientes desejassem. Após implementação deste processo, o desperdício de comida foi reduzido em quase 20% sem que fosse verificado qualquer impacto negativo na satisfação dos clientes, tendo, portanto, repercussões não só a nível social mas, também, no que diz respeito ao espetro económico.

          Paralelamente, do outro lado do Pacífico, a adesão ao plano de pensões norte-americano 401k explodiu após a intervenção de Richard Thaler durante o governo de Barack Obama. No fundo, Thaler optou por mudar a forma de adesão, passando de voluntária a automática. Assim, todos os novos trabalhadores estariam inscritos por defeito nesse plano de aposentadoria, tendo, contudo, absoluta liberdade de o revogarem a qualquer altura. Uma vez mais, confirmou-se a eficácia da estratégia aplicada, quadruplicando o número de adesões ao plano e corroborando a conceção de que a maior parte das vezes as pessoas desejam efetivamente realizar algo, mas não o fazem devido à falta de motivação, de tempo ou até mesmo à burocracia envolvida. Assim, um nudge consegue captar um estímulo para que as pessoas tomem decisões com menos objeções e dificuldades.

Assim, acredito que este conceito económico inter-relacionado com o ramo da Psicologia ainda se trata de algo muito pouco investigado e claramente subaproveitado, sendo um possível instrumento de estratégia política e económica com enorme potencial.

 

Fábio Freitas

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]


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