quarta-feira, 3 de novembro de 2021

IMPACTO DA PANDEMIA NO MERCADO IMOBILIÁRIO DO SUL DA EUROPA

Depois de muito tempo do mundo “de pernas para o ar” graças a uma crise sanitária, que rapidamente se tornou económica, social e política, quais foram, então, os efeitos da Covid-19 no mercado imobiliário do sul da Europa?

Em relação à evolução do preço médio unitário (€/m2) em Portugal, Espanha e Itália durante 2020, concluiu-se que as localidades costeiras têm, normalmente, preços unitários superiores. Contudo, até ao momento, a pandemia não teria ainda influenciado de forma significativa os preços em nenhum destes três países. As zonas mais dependentes do turismo sofreram mais com o impacto da pandemia, mas mesmo nestas os preços não desceram, como muitos esperavam no início de março do ano passado.

Em relação à procura, sabemos que houve uma queda considerável na altura do primeiro confinamento, mas apesar desta queda, até maio de 2020, os três países recuperaram, tendo até Espanha e Itália apresentado valores superiores ao pré-pandemia. Portugal também recuperou, de forma mais lenta que os outros dois países, uma vez que se fez sentir uma tendência decrescente respetiva ao período da segunda vaga da Covid.

No que toca ao mercado de arrendamento, Portugal atingiu o máximo de procura no início de 2020, mas com o confinamento esta diminuiu significativamente, não tendo recuperado face aos valores do início de 2019. Espanha e Itália recuperaram no verão de 2020, mas apresentaram uma tendência decrescente em Agosto, principalmente causada pela falta de turismo.

Nas grandes cidades portuguesas, como Porto e Lisboa, o preço unitário continuou estável, sendo que, contrariamente à descida esperada, até subiram ligeiramente devido à redução da oferta de imóveis no mercado causada pela pandemia.

Ao contrário do que aconteceu em Espanha e Itália, as propriedades de arrendamento de curto prazo viradas para o turismo não entraram para o mercado de arrendamento a longo-prazo, o que fez com que o stock de arrendamento não aumentasse como esperado em Portugal devido à falta de turismo.

Nos três países, os consumidores começaram a dar preferência a espaços exteriores, isto é, imóveis com terraços, jardins e/ou piscinas, tanto no mercado de venda como no mercado de arrendamento. A procura destes espaços deve-se ao confinamento e à obrigatoriedade de passar mais tempo fechados em casa. Posto isto, a procura destes imóveis aumentou exponencialmente, e a procura de espaços mais pequenos e fechados desceu bastante.

Concluímos então que os efeitos da Covid-19 no mercado imobiliário passaram por uma ligeira descida dos preços nas zonas dependentes do turismo, mas no geral não houve grande alteração do preço unitário em nenhum dos três países. O mesmo aconteceu com a procura a longo-prazo, uma vez que apesar de uma grande queda no período do primeiro confinamento, os países acabaram por recuperar ou até apresentar valores superiores (caso da Espanha e Itália). Ou seja, o maior impacto da Covid-19 no mercado imobiliário acabou por ser nas preferências dos consumidores, que passou a ser virada para os espaços grandes e exteriores, desvalorizando os espaços pequenos e fechados.

 

António Vieira Trabulo

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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