sexta-feira, 26 de novembro de 2021

O futuro português no euro – dentro ou fora?

Nos últimos anos, temos observado alguns economistas e políticos a defenderam a saída de Portugal da moeda única.

O euro, como moeda, está em circulação desde 2002. Tem, neste momento, 19 países integrantes (Portugal incluído). Estes países são os estado-membros da União Económica e Monetária (UEM), que foi criada com o intuito de promover a integração europeia e facilitar as trocas comerciais entre os países aderentes, bem como competir com o dólar americano.

Por um lado, é inegável que a moeda única trouxe bastantes vantagens para Portugal. Trouxe uma maior integração e transparência nos mercados, bem como um reforço na credibilidade da economia portuguesa, por esta ser agora seguida com uma maior atenção por pertencer a um espaço económico de moeda única, partilhado com outros países. Isto trouxe, sem dúvida, uma maior competitividade para a nossa economia, servindo também como estímulo para a modernização desta.

Para além disso, a moeda única trouxe, como grande benefício, a eliminação do risco cambial e dos custos de conversão nas transações com países pertencentes à UEM, grupo onde se encontram a maior parte dos principais parceiros de comércio. Outro aspeto positivo que adveio desta situação foi a diminuição das taxas de juro e a maior facilidade na obtenção de crédito, que acabou por favorecer o investimento em Portugal.

Por outro lado, com a maior integração dos mercados, veio também o aumento da concorrência entre as empresas de diferentes países. Os países pequenos, como o nosso, não tiveram tempo de se adaptar aos mercados internacionais em que subitamente entraram, passando a competir com outros de um nível de industrialização largamente superior.

Portugal perdeu também autonomia na condução das políticas monetárias e cambiais, pertencendo este controlo agora ao Banco Central Europeu (BCE). Isto significa que o governo deixa de, em situação de necessidade, poder alterar as taxas de câmbio da moeda do país, aumentando a oferta de moeda com o intuito de potenciar as exportações, e deixa de ter a capacidade de ajustar as suas taxas de juro, de forma a estimular a atividade comercial. As economias mais debilitadas, como a portuguesa, são muitas vezes afetadas pelas decisões do BCE, que privilegiam recorrentemente a estabilidade dos preços dentro da zona euro em detrimento do emprego e do crescimento económico dos seus estados-membros.

Ao analisar estas vantagens e desvantagens, rapidamente concluímos que pertencer à UEM é bastante benéfico para um país que tenha uma economia e uma indústria fortes e desenvolvida. Contudo, para países que não o são, como era o caso de Portugal em 2002 (e ainda o é atualmente), pertencer a uma zona de moeda única pode vir a prejudicar mais do que propriamente beneficiar.

Mas, neste momento, pouco adianta discutir se Portugal deveria ou não ter aderido à UEM. O que é necessário agora é decidir o caminho pelo qual o país deve agora trilhar. Deve abandonar a união, ou manter-se resoluto no seu lugar? Na minha opinião, deve-se manter. Uma saída do euro significa, por si só, uma total reestruturação da nossa economia. Entraríamos numa enorme crise financeira, e a única forma de a mitigar um pouco seria se os nossos parceiros do euro aceitassem a nossa saída ordenada. Isto nunca aconteceria, uma vez que teriam de pagar custos enormes para compensar a nossa ausência.

Portugal perderia também um grande volume de negócios de exportações, uma vez que os seus maiores parceiros de comércio se encontram quase todos na UEM. Com uma nova moeda, que terá uma tendência de desvalorização, pelo menos na sua fase inicial de vida pela fuga de ativos do país, estes países terão maior interesse económico em negociar com outros países da UEM ou, pelo menos, com países com uma economia estável, agravando ainda mais a situação económica hipotética portuguesa.

Portugal deve, portanto, manter-se na UEM e procurar, com os instrumentos que ainda tem, tomar decisões políticas e económicas que procurem maximizar o crescimento da economia portuguesa.

 

Gonçalo Vaz Vieira de Castro

https://www.economias.pt/vantagens-do-euro/

https://europa.eu/european-union/about-eu/euro/benefits_pt

https://core.ac.uk/download/pdf/62686527.pdf

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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