sábado, 20 de novembro de 2021

VOLUNTARIADO – UM IMPULSIONADOR DA COESÃO SOCIAL, TERRITORIAL E ECONÓMICA

Os estudos sobre a verdadeira importância do voluntariado têm-se intensificado nos últimos anos em resultado da gradual atenção que a Organização das Nações Unidas e a União Europeia têm dedicado a este fenómeno. Na verdade, a declaração do dia 5 de dezembro como o Dia Internacional do Voluntariado, e do ano de 2011 como o Ano Europeu das Atividades de Voluntariado constituem dois momentos fundamentais de reconhecimento do papel do voluntariado como um instrumento impulsionador do desenvolvimento social e do crescimento económico.

As interpretações relativas a esta atividade não são consensuais, na medida em que divergem de país para país. Ainda assim, as Nações Unidas são a entidade cuja definição revela ser a mais abrangente: “O voluntário é o jovem ou o adulto que, devido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social, ou outros campos de intervenção”.

Segundo o Inquérito Piloto ao Trabalho Voluntário, elaborado em 2012 pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), na União Europeia, cerca de um quarto das pessoas dedicaram uma parte do seu tempo livre a uma atividade de cariz voluntário (24%).

No caso português, segundo os dados recolhidos pelo European Value Survey, a taxa de voluntariado tem vindo a diminuir, tendo passado de 14% em 2008 para 11,5% em 2012 e 7,8% em 2018. Esta tendência de decréscimo vai ao encontro da conclusão do INE no mesmo inquérito quando refere que os portugueses são dos europeus que menos ações de voluntariado realizam e que, portanto, se encontram relativamente distantes da média da UE.

No Tratado de Maastricht (Holanda, 1992), está definido como um dos objetivos da União Europeia a coesão económica, social e territorial. Esta coesão, no fundo, expressa a solidariedade entre os diversos Estados-Membros e as demais regiões da UE que têm como propósito a promoção de um desenvolvimento harmonioso da União, como um todo, por meio da mitigação das disparidades entre os níveis de desenvolvimento das diversas nações. O cumprimento deste objetivo é assegurado pela implementação de políticas económicas coordenadas entre os diferentes Estados-membros.

Relativamente à coesão social, é consensual que o voluntariado constitui um importante aliado no reforço da mesma, dado que complementa algumas políticas públicas no combate a diversos problemas desta índole, como a pobreza, a exclusão social, a poluição, a discriminação, os direitos humanos, a criminalidade, entre outros.

No que concerne à coesão territorial, pressupõe-se que todos os territórios têm o direito a aceder a e atrair novas oportunidade, garantindo condições de acesso aos serviços de saúde, justiça, desporto, sociais e culturais. Deste modo, o voluntariado pode agir, realizando ações com vista não só à diminuição de problemas como a litoralização e o despovoamento mas, também, à aproximação das diferentes regiões e respetivos padrões de qualidade de vida.

No caso da coesão económica, é de salientar que o voluntariado, em 2012, segundo o INE, contribuiu na ordem de 1% para o PIB nacional e que este corresponde a, aproximadamente, 40% do emprego total do Terceiro Setor português. Segundo o Centro Europeu do Voluntariado (2007), pessoas que se envolvem em ações deste género têm menos probabilidades de estar em situação de desemprego. Neste sentido, o voluntariado promove a empregabilidade, na medida em que permite ao voluntário adquirir aptidões, qualificações e competências que melhoram a sua produtividade e, consequentemente, têm impacte no valor económico de um país.

A meu ver e pelas razões que mencionei anteriormente, o voluntariado é um fenómeno impulsionador da coesão social, territorial e económica. Assim, considero que é necessária a promoção desta prática, através, por exemplo: da sensibilização para problemas como os elencados acima; da mobilização e facilitação das redes de agentes de voluntariado; da capacitação dos mesmos; de uma maior divulgação de projetos e oportunidades deste tipo e de uma maior inclusão de pessoas idosas e deficientes como sujeitos ativos do voluntariado e não somente como beneficiários.

Em jeito de conclusão, acredito que todos nós podemos partilhar competências, conhecimento e tempo, contribuindo para um mundo mais coeso e solidário. Para mim, como voluntária ativa, o voluntariado é uma demonstração forte de como a solidariedade subjacente ao objetivo da União Europeia pode construir um mundo melhor para todos.

 

Patrícia Silva

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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