quinta-feira, 25 de novembro de 2021

A relação inversa entre a produtividade e a duração do trabalho: o estudo feito na Islândia

              Será que realmente menos é mais? Será que as empresas exigindo menos trabalho dos seus trabalhadores conseguirão obter mais destes? A Islândia decidiu experimentar o conceito de uma menor carga semanal nos últimos 5 anos.

          Na Islândia, foi feito um estudo sobre isto e encontraram que uma semana com apenas 4 dias de trabalho, sem uma redução de salário, foi benéfica a nível produtivo e de bem-estar. Os trabalhadores passaram de trabalhar 40 horas semanais para 35 a 36 horas semanais e os resultados foram positivos. Apesar da redução da carga horária, a produtividade manteve-se e, em alguns casos, aumentou. Os trabalhadores notaram uma redução de stress e cansaço.

          Este estudo funcionou também devido à flexibilidade dos trabalhadores e dos empregadores que se submeteram a esta experiência e a mudanças quando algo não funcionava. Por curiosidade, a Islândia é dos países que regista mais horas de trabalho por funcionário, uma média de 44,4 horas semanais.

           Os benefícios a nível físico e psicológico foram notórios, e pareceram ser duradouros. Seguindo o sucesso da iniciativa, os sindicatos de trabalho na Islândia tiveram a possibilidade de negociar cortes no número de horas de trabalho semanais. No total, cerca de 85% da população decidiu reduzir o número de horas de trabalho ou ganhou pelo menos o direito de o fazer.

          Uma das pessoas que fez parte deste estudo relatou que, como uma mãe de cinco crianças, é complicado organizar a vida com um trabalho de 8 horas diárias, mais tarefas de casa e cuidar das crianças. No início, optou por reduzir uma hora de trabalho por dia, onde aprendeu a encurtar o tempo das suas reuniões, reduzir o tempo de viagens e organizar o seu trabalho de uma maneira mais eficiente. Revelou também que se sentia mais focada agora, que gastava muito tempo do seu dia em viagens então, adaptou-se e tem agora reuniões on-line, passando a trabalhar 8 horas por dia de segunda a quinta-feira e 4 horas na sexta. Isto permitiu-lhe ganhar novas skills de trabalho, subir de posição na empresa, tirar um mestrado e, nos dias em que não tem aulas, até caminhar.              

Como é possível observar, isto tudo parece ter um impacte muito positivo. É bom que as pessoas tenham o tempo livre, que tenham tempo para se focar nelas próprias e, claro, depois tal será notório no ambiente de trabalho, e até em casa e na vida social. A produtividade tem uma relação direta com o bem-estar das pessoas. Se uma pessoa se sentir bem, tiver tempo para se organizar, a produtividade vai estar no pico.

          O estudo englobou trabalhadores de todas as áreas, hospitais, museus, escritórios do governo, estações da polícia etc. Notou-se também reduções nas pausas de almoços e de café, o que levou aos trabalhadores a terem uma maior capacidade organização das suas tarefas no trabalho.

          Será que outros países deverão adotar esta medida? A verdade é que foi um sucesso enorme na Islândia: a produtividade manteve-se ou em outros casos até aumentou, os salários não baixaram e os trabalhadores notaram um alívio, menos cansaço, menos stress e mais tempo para eles próprios, para a família e amigos.

 

Luís Filipe Oliveira

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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