domingo, 21 de novembro de 2021

Em nome do carvão, da China e da Índia

Entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro do ano corrente, em Glasgow, ocorreu a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, COP26, com a participação de quase 200 países. Como habitual, o propósito desta conferência foi avaliar a situação das mudanças climáticas no planeta e propor novos mecanismos com a finalidade de garantir a efetividade da Convenção. Os objetivos principais foram:

ü Proteger a rede zero global em meados do século e manter 1,5 graus como alcance;

ü Adaptação dos países para proteger comunidades e habitats naturais;

ü Mobilizar finanças;

ü União dos países para enfrentar os desafios da crise climática  - finalizar o Livro de Regras de Paris (regras detalhadas que tornam o acordo de Paris operacional) e acelerar as ações para enfrentar a crise climática por meio da colaboração entre governos, empresas e a sociedade civil.

No decorrer da COP26 novos acordos foram feitos, outros melhorados e objetivos lançados. Contudo, no último dia da conferência, nos momentos finais das negociações sobre o acordo que tinha como alvo os combustíveis fósseis, a Índia e a China, em conjunto com outros países dependentes do uso de carvão, pressionaram de forma a mudar a cláusula do texto em que se dizia “eliminação gradual” do uso da energia a carvão para, apenas, “redução gradual”. Esta alteração causou grande impacte nos ambientalistas e analistas, defendendo estes que o acordo final da COP sofreu um enfraquecimento, potencializando, assim, as emissões de gases de efeito estufa e fragilizando a tomada de ações conducentes à mitigação das mudanças climáticas.

     Alok Sharma, presidente da COP26, disse que a Índia e a China teriam de apresentar razões e prestar contas aos países mais afetados pelo aquecimento global: “We are on the way to consigning coal to history. This is an agreement we can build on. But in the case of China and India, they will have to explain to climate-vulnerable countries why they did what they did” (Alok Sharma, numa entrevista ao jornal The Guardian).

Sendo a China o maior produtor mundial de carvão, o país usa este recurso para produzir cerca de 60% da eletricidade, fazendo com que seja o maior emissor de gases poluentes do mundo. Neste momento, a China vive uma crise energética devido à subida do preço do carvão que, como consequência, leva ao racionamento do uso dessa energia no país. A subida do preço do carvão deve-se ao encerramento de minas de carvão devido a inundações e à existência de limites na produção de carvão impostos pelos objetivos para o clima. Estimativas dizem que o PIB do país, que neste momento, é de 13 028 009 milhões de euros, e irá descer em 6% em 2021, potencialmente por causa desta crise.

          A Índia, o 2º maior produtor e importador de carvão do mundo, produz quase 70% da sua eletricidade através deste recurso. Atualmente, o país encontra-se numa crise de carvão que, posteriormente e muito provavelmente, tornar-se-á numa crise energética. Esta crise deve-se à escassez deste recurso no país, ao aumento da procura de energia depois da paragem da indústria, consequência da pandemia de covid-19, e aos períodos de chuva que, este ano, foram mais longos e dificultaram a extração nas minas a céu aberto. Espera-se que aconteça à Índia o mesmo que está a acontecer à China.

          Nos últimos dois parágrafos, é notória, para os dois países em questão, a extrema necessidade do uso do carvão, tanto para a produção de energia como para as economias. Porém, penso que não é uma razão suficientemente plausível para a elevada recorrência a este mineral. A China e a Índia são países de elevada poluição, maioritariamente devida ao carvão, o que faz com que o nível de bem-estar da população, relativo à saúde e ao ambiente, seja mínimo. Logo, acho imprescindível um maior esforço no desenvolvimento de infraestruturas de produção de energias renováveis e menos poluentes nos países, de forma a melhorar não só a forma de viver dos indivíduos e do clima nessas zonas como em todo o mundo.

 

Ana Carolina Rodrigues Araújo 

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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