quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Covid-19: uma Pandemia de Saúde Mental

 A 17 de Novembro de 2019 surge o primeiro caso conhecido de infeção pela Covid-19, em Wuhan. Em pouco tempo, a 2 de Março de 2020, são confirmados os primeiros casos em Portugal. A vida dos portugueses muda! Troca-se as visitas familiares por videochamadas, os beijos e abraços por cotoveladas; o teletrabalho e a telescola tornam-se uma realidade; a crise económica e a incerteza do futuro captam a nossa atenção. Todos estes fatores contribuíram para a “pandemia” de saúde mental a que temos vindo a assistir!

Segundo os resultados do estudo “Saúde Mental em Tempos de Pandemia (SM-COVID19)”, cerca de 25% dos inquiridos apresentaram sintomas, moderados a graves, de ansiedade, depressão e stress pós-traumático, os quais se destacam sobretudo nos jovens adultos e mulheres.

Embora o aconselhamento psicológico da linha telefónica do SNS 24 tenha evitado um pior cenário na saúde mental devido à pandemia, Francisco Miranda Rodrigues considera que este serviço seja ainda limitado. Acerca deste tema, considero que, apesar da evolução verificada, seria possível melhorar este serviço, especialmente através da contratação de mais psicólogos, de modo a que seja possível dar uma resposta em tempo útil no Serviço Nacional de Saúde.

E a saúde mental dos profissionais de saúde?

Como é do conhecimento geral, o surgimento de pandemias traduz-se num desafio para os sistemas de saúde em todo o mundo. Perante estas circunstâncias, os profissionais de saúde revelam-se mais suscetíveis à vulnerabilidade física e psicológica. Neste sentido, são constatados elevados níveis de POC, depressão/sintomas depressivos, ansiedade, sofrimento psicológico, qualidade de sono inadequada, stress e perturbação de stress pós-traumático, que desafiam os seus mecanismos de coping.

Inúmeras horas de trabalho, escassez de equipamentos de proteção, solidão, esgotamento físico, separação da família, exposição a casos de infeção, e quarentena abalam o bem-estar dos profissionais de saúde.

Com base no relatório supracitado, os profissionais de saúde, com especial destaque para os que tratam de doentes com Covid-19, manifestaram sintomas de ansiedade moderada a grave (42%), sendo que estes indivíduos demonstraram os níveis de burnout (exaustão física e emocional) mais elevados (43%).

De acordo com o testemunho de Catarina Henriques da Silva, interna do 4º ano de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar, ao Jornal Médico, «o nosso sistema de saúde, antes da pandemia, estava a funcionar no seu limite, com os profissionais de saúde a fazer os possíveis (e impossíveis) para "segurar as pontas"». Catarina Henriques da Silva referiu, ainda, que é necessário aumentar a quantidade de médicos, enfermeiros e secretários clínicos e, caso não haja consideração pela saúde dos profissionais de saúde, verificar-se-á uma redução da qualidade de desempenho, colocando em risco a segurança dos pacientes.

Na minha opinião, dado o que os profissionais de saúde ultrapassaram em prol do bem-estar da sociedade, deveríamos dar-lhes o merecido valor e proporcionar-lhes melhores condições, como, por exemplo: aquisição de mais equipamentos de proteção; atualização de equipamentos de instalação; contratação de mais profissionais de saúde; etc.

Para concluir, nós, como sociedade, necessitamos de refletir acerca da importância da saúde mental e deixar de subvalorizar problemas relacionados com esta!

 

Ana Catarina Gonçalves Caridade 

Referências bibliográficas:

Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (2021, Janeiro 15). Estudo Saúde Mental em Tempos de Pandemia (SM-COVID19): principais resultados. Serviço Nacional de Saúde (SNS) Web site. Acedido a Outubro 25, 2021, em    http://www.insa.min-saude.pt/estudo-saude-mental-em-tempos-de-pandemia-sm-covid19-principais-resultados/

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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