sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Que impacto terá efetivamente a Inteligência Artificial na economia?

A tecnologia surgiu e desde então que a evolução do mundo tem sido exponencial. As vantagens são claras e a vida de muitos ficou facilitada. No entanto, como em tudo, vem acompanhada de desvantagens.

Já há alguns anos que a introdução da inteligência artificial traz consigo a questão da eliminação de empregos, mas será isso real? Diz-se também que novas profissões surgirão e que a qualificação será fundamental. O Think Tank Bruegel estima que 54% dos empregos na União Europeia podem estar em risco, nos próximos 20 anos. Os cenários de desemprego abundantes e em escala global assustam, mas também vêm acompanhados da expectativa de crescimento económico e da geração de novos tipos e emprego, mas será isso suficiente? Segundo 32 países membros da OCDE, quase um em cada dois empregos será afetado pela automação.

David Autor e Anna Salmons desenvolveram um paper que, em 2017, foi apresentado pelo BCE no fórum de bancos centrais. Este paper aborda mais o lado do crescimento da produtividade, no qual a robotização é apenas uma influência. Os autores analisaram 19 países ao longo de quatro décadas e tentaram perceber em que medida é que a produtividade influencia o emprego. O objetivo passou por descobrir se a inovação, que faz com que seja cada vez mais fácil produzir mais bens e serviços com menos pessoas, tende a criar uma massa cada vez maior de desempregados. Os dados sugerem que é exatamente o contrário. Existe uma ligação positiva entre produtividade e emprego, porque apesar do aumento de produtividade numa determinada indústria reduzir o volume de postos de trabalho nessa mesma indústria tal acaba por ser contrabalançada pela criação de empregos noutras que mais do que compensam o choque inicial. Os países mais robotizados: Alemanha, EUA e Japão, são exatamente aqueles em que o desemprego é mais baixo.

Para além disso, estudos de consultoras de renome indicam que o impacto da Inteligência Artificial na economia pode ser estimado em mais de 15,7 triliões de dólares na próxima década [Rao e Verweij, 2017]. Deste valor estimado, 6,6 triliões ocorrerão do aumento da produtividade, enquanto 9,1 triliões estão associados aos efeitos no consumo. Este impacto ocorrerá em todos os setores da economia. Além disso, [Brynjolfsson et. al., 2019] é necessário considerarmos, inclusive no PIB, o valor intangível dos bens digitais. Muitos destes bens digitais são derivados de técnicas e ferramentas da inteligência artificial e ciência da computação.

Brynjolfsson e os seus colaboradores mostraram experiências em que os consumidores são convidados a avaliar o preço dos bens digitais que consomem diariamente (como as redes sociais, Instagram, Facebook e motores de busca, como o Google) e concluíram que os consumidores pagariam entre 40 dólares (no caso do Facebook) e 1.500 dólares por mês (no caso dos motores de busca, como o Google) pelos serviços que hoje obtemos de forma gratuita. A consequência do estudo é um forte indício da forma como estes bem digitais impactam na economia.

Adicionalmente, indicadores económicos mostram que, nas últimas décadas, organizações de base tecnológica (Amazon, Microsoft, Alphabet (Google), Apple e Facebook) tiveram valorizações crescentes em termos de capitalização de mercado. A valorização das ações destas empresas representa, entre outros fatores, uma expectativa de desempenho baseada nas tecnologias e dados que estas empresas detêm.

Em junho de 2020, a Amazon, Microsoft e Apple atingiram, cada uma, mais de 1,3 triliões de dólares de capitalização de mercado. Neste mesmo tempo, a gigante de óleo e gás, maior do setor nos EUA, atingiu valores abaixo dos 300 biliões de dólares. Estes números ilustram algumas caraterísticas da economia: organizações centradas em dados, conhecimento e capital intelectual, hoje têm maior impacto entre investidores. Adicionalmente, a base de negócios e tecnologias destas empresas é fundamentada na ciência da computação e, recentemente, na adoção de tecnologias inovadoras de inteligência artificial. De facto, temos de refletir e perceber que a adoção destas tecnologias fez com que estas empresas se tornassem paradigmas de uma nova era da economia do conhecimento. Ao contrário de tecnologias inovadoras do passado recente, a Inteligência Artificial tem maior potencial de impacto econômico, social, cultural e político por ser uma tecnologia de aplicação e impacto em todos os setores económicos.

Podemos ter a certeza de que a inteligência artificial terá impactos muito positivos no crescimento económico, na produtividade e no aumento da riqueza. É expectável que o desemprego, apesar de poder atingir níveis indesejáveis, o que provoca um impacto negativo na economia, não seja algo fulcral, visto que poderá ser contrabalançado pela criação de outros empregos. Tudo dependerá de se conseguir compatibilizar o ritmo acelerado de tecnologias e a velocidade de adaptação do fator trabalho.

 

Renata Salgueiro

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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