segunda-feira, 22 de novembro de 2021

A indústria têxtil em Portugal e na Europa

A indústria têxtil encontra-se entre os maiores e mais importantes setores empresariais nacionais e mundiais. O setor do vestuário é caraterizado por ciclos de vida do produto muito curtos, instabilidade nas preferências do consumidor e heterogeneidade das atividades de produção.

Para esta indústria, 2020 foi o ano em que tudo mudou. A pandemia tomava conta do mundo e a moda registava um dos piores anos de sempre. O comportamento dos consumidores mudou e as empresas tiveram de se adaptar, nomeadamente em termos de crescimento no digital.

As pessoas continuam relutantes em juntar-se em ambientes com muita gente e o tráfego nas lojas mantém-se baixo; por isso, o digital é a melhor opção para grande parte da população, principalmente na Europa, onde as restrições ainda são bastante significativas. A indústria têxtil sofreu uma redução acentuada do volume de negócios e de emprego. Em Portugal, muitas empresas tiveram de fechar portas, o que levou o setor a perder cerca de 5000 empregos em 2020. No resto da Europa, o cenário não foi diferente. As cerca de 267 mil empresas localizadas neste continente obtiveram os piores valores de sempre, vendo uma queda nas vendas a rondar os 24,4%.

O setor têxtil, no referente à parte do vestuário, tem elevada maturidade, sendo que muitas das empresas têm mais de 25 anos. Apesar de serem bem estabelecidas e responsáveis por um volume de negócios elevado, as vendas em 2021 estão muito aquém do ambicionado. Num mês, os empresários vão amortizar o prejuízo, no mês seguinte vão tentar falar com os clientes para negociar um aumento do preço final dos produtos, mas esta situação é inconcebível no longo prazo, pelo que não se pode prolongar por muito tempo.

E se, antes da pandemia, a redução da carga fiscal já era prioridade, face às quebras no setor, tornou-se ainda mais necessário. Portugal é um dos países da Europa com maior carga de impostos sobre as empresas, o que compromete a competitividade no setor. Por este motivo, a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) destaca a necessidade dos Orçamentos do Estado futuros terem em vista medidas que reduzam os custos e a carga fiscal.

A indústria queixa-se da “culpa” dos impostos na falta de dimensão para competir a nível internacional e ambiciona que, com a redução na carga fiscal, seja possível a fusão com outras empresas do setor. O solicitado é no sentido da redução de impostos como o IRS e o IRC, além disso a ATP propôs também uma redução da carga fiscal sobre a eletricidade, de modo a atenuar o custo deste serviço.

Como já mencionei, as empresas do setor têxtil estão a passar por uma fase crítica no que diz respeito à tesouraria. Então, o setor alude à necessidade de encontrar soluções de forma a amenizar os efeitos das quebras. Uma solução proposta é o pagamento do montante correspondente aos impostos em prestações e sem vencimento de juros.

A venda de empresas também é uma proposta em cima da mesa. Muitos empresários têm vontade de vender e muitos novos empresários estariam dispostos a comprar, mas a legislação portuguesa aparenta não compactuar com isso. A diferença entre o preço de venda e o valor do balanço é enorme e, por outro lado, quem compra sai prejudicado porque não consegue amortizar o novo ativo.

Concluindo: o setor têxtil, que já se encontrava algo debilitado, encontra-se agora numa situação quase decrépita com o impacte da pandemia de covid-19. Sejam crises económicas ou crises pandémicas, o setor tem de se manter resiliente a fim de acelerar a sua recuperação. Na minha opinião, e face aos problemas do setor, resultado da pandemia da COVID-19, o aspeto do ponto de vista fiscal é crítico e deve ser avaliado e, na melhor das hipóteses, modificado.

 

Maria Mateus

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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