sábado, 20 de novembro de 2021

Educação - a chave para o desenvolvimento

É bastante comum associarmos o crescimento económico ao aumento generalizado do rendimento. No entanto, este pensamento não chega para definir o que de facto significa crescer economicamente. Este foi o tema que Robert Solow, Prémio Nobel da Economia em 1987, investigou durante a sua carreira profissional. Solow propôs que o crescimento económico a longo-prazo está fortemente associado ao crescimento da população, à poupança (capital) e ao progresso tecnológico.

Solow, em parceria com outro economista, criou um modelo matemático que combina os elementos referidos acima de modo a estudar o comportamento de países com caraterísticas semelhantes. Assim, foi possível estabelecer um padrão no desempenho dos países e formular uma hipótese que relaciona a taxa de crescimento do PIB com as três principais variáveis que ditam a função. Solow concluiu que a tecnologia aplicada aos meios de produção é um dos principais fatores que permite o desenvolvimento económico. Assim, no seu modelo, fica explícito que o capital está diretamente relacionado com a tecnologia conhecida e, à medida que a tecnologia se vai aperfeiçoando, o novo capital é mais valorizado quando comparado com o capital desprovido da mesma.

Com base nesta linha de pensamento, a teoria desenvolvida por Solow faz da educação um dos principais pilares da economia - isso porque indivíduos com acesso a uma educação de qualidade desenvolvem formas de pensamento superiores, promovendo assim a inovação tecnológica. De acordo com o modelo de Solow, o incentivo à criatividade humana torna-se um instrumento fundamental para estimular o crescimento económico.

Confrontando tais ideias com a realidade portuguesa é possível perceber o porquê de ser tão difícil alcançarmos algum tipo de crescimento económico no longo-prazo. A falta de investimentos na educação, aliada à péssima gestão do setor, cria pouquíssimos incentivos para o desenvolvimento de indivíduos intelectualmente notáveis.

Em 2018, na prova do PISA, exame anualmente organizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) para medir os níveis de educação dos países, Portugal obteve um desempenho de 492 em leitura, 492 em matemática e 492 em ciências. Em matemática, o desempenho médio foi semelhante ao alcançado durante o período de 2009 a 2015 e, em ciências, o desempenho médio baixou significativamente e retornou para o nível observado em 2009 e 2012.

É importante sublinhar que o contexto socioeconómico tem uma influência muito significativa no desempenho dos alunos portugueses nos três domínios. No domínio da leitura os alunos mais favorecidos socioeconomicamente ultrapassaram o desempenho dos alunos desfavorecidos em 95 pontos. Nos primeiros lugares ficaram Singapura, China e Finlândia, países que tiveram um crescimento económico estável no longo-prazo, aliado a um enorme desenvolvimento social.

Assim, investir na educação aparenta ser uma forma bastante eficiente e eficaz de proporcionar um crescimento económico estável e duradouro. É muito comum que em países onde as desigualdades são mais acentuadas ocorra a chamada “Fuga de Cérebros”, onde estudantes e pesquisadores promissores mudam-se para outros países onde a qualidade de vida e apoio científico são melhores, agravando assim a situação económica e financeira do seu país de origem.

Face ao exposto, é bastante percetível que a teoria do crescimento económico concebida por Solow reforça a ideia de que o progresso tecnológico tem um enorme peso no crescimento económico. O progresso tecnológico só pode ser alcançado por mentes curiosas e criativas, tornando-se assim de grande importância refletir sobre o quão importante é fomentar estes valores nos alunos do presente e investigadores do futuro. Uma vez que a educação é um dos principais meios para incentivar a criatividade, é de extrema importância investir nas instituições educacionais, pois são elas que definem o nosso futuro.

 

Francisco Fernandes 

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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