segunda-feira, 22 de novembro de 2021

A educação e literacia financeira em Portugal

Dado o seu poder de transformação, a educação é associada a uma profunda mudança na sociedade para que a promessa do direito que cada jovem tem a uma educação de qualidade seja efetivamente cumprida e potenciada no sentido da criação de uma sociedade mais sustentável.

Não há dúvida que a educação melhorou muito nas últimas décadas. A taxa de analfabetismo desceu consideravelmente assim como a taxa de abandono escolar e, algo mais evidente nos últimos anos, é o aumento significativo de alunos que entram no Ensino Superior público. No entanto, pouco tem mudado nos últimos anos no que toca ao ensino em Portugal: continua-se a usar métodos de aprendizagem e instrumentos de avaliação semelhantes aos que se usavam há 30 anos e é de notar que, na prática, o que os alunos retiram dessa aprendizagem é bastante pouco, comparado com o resto dos países da Europa.

Além disso, uma grande adversidade que tem começado a ficar mais evidente é o crescente aumento da idade média dos docentes, sendo que, em 2019, por cada 100 professores com menos de 35 anos, havia 1595 com mais de 50 anos. Estes dados, a meu ver, provam que nos próximos anos iremos entrar numa crise educativa, pois muitos deles chegarão à reforma, o que, acompanhado com a falta da entrada de novos docentes no mercado de trabalho, levará a que não haja professores suficientes para todos os alunos, problema este que já existe em certas partes do nosso país.

Na minha opinião, deve-se fazer como vários países do norte europeu, como a Dinamarca, Noruega e Suécia, e investir mais percentagem do PIB em educação. Penso que esta medida é eficaz pois são essas mesmas nações que demonstram uma melhor qualidade de ensino, tanto a nível europeu como a nível mundial. Ademais, deve-se apostar imenso na instrução nas áreas da Economia e Finanças, não só para alunos da área, mas para todos, em geral. É de notar que existe muita gente com elevadas dificuldades em, por exemplo, preencher a declaração de IRS, entender para que servem alguns dos impostos que pagam ou gerir o orçamento familiar. Estas dificuldades são visíveis principalmente nas populações mais velhas, porém também são cada vez mais evidentes na população mais jovem. Deste modo, eu acho que a iliteracia financeira continua a ser um dos principais obstáculos da educação no nosso país.

A literacia financeira faz parte do nosso quotidiano e desempenha um papel determinante não só para uma economia mais saudável como para uma sociedade mais informada do impacte das suas decisões financeiras. A meu ver, o conhecimento financeiro é um dos tópicos mais importantes para a resiliência das sociedades desenvolvidas do século XXI, sendo uma necessidade transversal a qualquer idade.

Do meu ponto de vista, a promoção da literacia financeira junto de jovens em idade escolar, através de, por exemplo, campanhas de sensibilização sobre a poupança ou ações de formação sobre temas, como gestão de orçamentos familiares ou de investimentos, é um dos meios mais eficientes para educar as gerações mais novas com uma cultura financeira que lhes permita, enquanto jovens e futuros adultos, desenvolver comportamentos e atitudes racionais face a questões de natureza económica e financeira. Acredito que o desenvolvimento de bases financeiras adequadas na idade escolar permitirá dar aos jovens ferramentas úteis, que irão desenvolver ao longo da sua vida, contribuindo para que sejam futuros cidadãos mais informados.

Em suma, eu acho que devia haver uma mudança estrutural no que toca à educação em Portugal, pois existem ainda muitos problemas a nível da forma como funciona na prática o processo de ensino, e penso que algo deveria ser feito para tornar a carreira de professor mais aliciante. Além disso, vê-se uma falta clara de literacia financeira no nosso país em todas as faixas etárias, o que é um problema bastante preocupante pois grande parte do bem-estar da sociedade está dependente de decisões económicas.

 

Diogo Creio

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]     

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