sábado, 13 de novembro de 2021

Brexit: luz ao fundo do túnel ou um passo para o precipício?

No dia 31/01/2020, o Reino Unido deixou de ser um Estado-Membro da União Europeia. A partir desse momento, entrou em vigor o Acordo de Saída, designadamente “Brexit”.

O Brexit pode ter consequências económicas que podem acarretar valores entre os 40 e os 60 mil milhões de €. A economia britânica deverá sofrer variadas quedas, eclodindo dessa forma, com um arrefecimento e desvalorização da libra após a saída da UE, qualquer que seja o acordo posterior que venha a acontecer com Bruxelas. O Jornal Económico aponta para a possível ocorrência de um “Hard Brexit”, onde cálculos estimam uma previsão da queda do PIB em 8%, que poderá eventualmente se desenrolar nos próximos 15 anos.

Os efeitos do resultado no referendo alastraram-se aos mercados bolsistas mundiais, o que levou a uma descida de 8,62% no Índice Euro Stoxx, concretizando a maior queda diária em 30 anos. A primeira consequência imediata do Brexit foi o aumento da volatilidade dos mercados, que mergulhou a economia britânica num clima de incerteza, provocando uma depreciação abrupta na cotação da libra esterlina, que refletiu no seu pico uma desvalorização de quase 8% face ao euro.

A desvalorização da libra provocará o aumento dos custos de importação de bens, tendo como principal consequência a subida da inflação. No entanto, é expectável que a procura por parte do consumidor atinja valores inferiores, levando as empresas a desempenhar um processo de maior cautela, de forma a evitar a subida dos preços junto dos clientes. Perante este cenário de retração das margens de lucro, o setor empreendedor vai sofrer pesadas consequências, refletindo um crescente aumento da taxa de desemprego, que pode chegar aos 6% a curto/médio prazo, o que corresponde a um aumento efetivo de 230 mil britânicos desempregados.

Numa perspetiva mais abrangente, constata-se também que o Brexit irá ter implicações diretas no aumento das barreiras ao comércio, nos  fluxos de capital e na mobilidade de mão-de-obra afeta à produção e emprego, não só no Reino Unido como em todos os 27 países integrantes da União Europeia. Isso irá implicar elevadas perdas e custos para ambas as partes. Numa visão de longo-prazo, esta reversão da integração irá prejudicar o rendimento, as taxas de empregabilidade e o produto real.

Desta forma, se o Reino Unido e a UE optarem por um acordo de livre comércio (ALC) com tarifas baixas sobre o comércio de bens, estima-se que, em comparação com a situação atual, o produto real da UE diminuirá em cerca de 0,8%, e o emprego em 0,3%. No longo-prazo, se forem aplicadas por ambos as normas regidas pela OMC, a queda do produto real será ainda mais relevante (1,5% no longo-prazo), enquanto que a taxa de empregabilidade sofrerá perdas na ordem dos 0,7%.

Segundo dados da Bloomberg Economics, a economia britânica poderia ter somado 153 mil milhões de € a mais de 2016 até 2019 num cenário sem o Brexit. Este valor pode ainda ascender a uma quantia de 63 mil milhões de € até final de 2021, atingindo um total de 216 mil milhões em 5 anos.

Em 2017, a economia começou a desacelerar, uma vez que a queda da libra condicionou altamente a inflação, deteriorando assim o rendimento real disponível. Em 2018 e em 2019, a crescente incerteza sobre o tipo de saída, nomeadamente se haveria ou não acordo entre o Reino Unido e a União Europeia, fomentou uma maior desaceleração do PIB (poderia ter-se verificado um aumento de 3% do PIB).

Em suma, na minha opinião, estando ela suportada pelas estatísticas já evidenciadas, a economia do Reino Unido vai sempre sair prejudicada com o “Brexit”, quando em comparação com a manutenção do país no seio da União Europeia. A saída da UE representa assim um retrocesso no setor económico e bancário, que acarreta diversos prejuízos que têm de ser tidos em conta ao longo das futuras gerações.

A nível social, este Brexit revela-se fulcral não só no setor político, mas fundamentalmente na mudança de paradigma e mentalidade das culturas britânicas, eclodindo como o maior ponto de viragem na História da UE. Desta forma, o Brexit pode marcar o início de um longo período de desemprego estrutural, revertendo parte dos incríveis aumentos registados no setor do emprego dos últimos anos.

Para combater estes efeitos devastadores, políticas ativas para o mercado de trabalho, como a reconversão e a assistência na recolocação profissional, serão decisivas na realocação e bem-estar dos trabalhadores. Para isso, torna-se imperativo o apoio aos trabalhadores e não aos setores ou empregos específicos.

 

Tiago Miguel Rodrigues Martins

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

 

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