terça-feira, 16 de novembro de 2021

Os salários baixos dos licenciados

O recente chumbo do orçamento, para além de muitas outras questões, teve como dilema o aumento do salário mínimo. Mas será que a questão dos salários baixos no nosso país passa apenas pelo aumento do salário mínimo?

Portugal está preso numa “armadilha” de salários baixos e acaba por perder boa parte da população ativa mais qualificada. Se há algo de que não podemos ter dúvidas é que estamos mesmo perante a geração mais bem preparada de sempre. Nunca antes, de acordo com as estatísticas, tivemos o grupo etário entre os 30 e os 34 anos com 45,5% de licenciados no Ensino Superior (em 2015, não ultrapassava os 30%). Mais de metade dos portugueses com 20 anos frequenta também, atualmente, o Ensino Superior, do qual saíram, no último ano letivo, 86 mil diplomados, o maior valor de sempre. Os números são consideráveis sobre o grau de preparação desta geração, quando comparado com o das anteriores, o que nos deixa a par dos valores médios europeus. Só que depois, como bem sabemos, há outras realidades que lançam sombras no brilho desta geração.

Os jovens portugueses, por exemplo, são dos europeus que saem mais tarde da casa dos pais, segundo o Eurostat. E a razão para isso acontecer nada tem que ver com hábitos familiares enraizados, mas simplesmente com duas razões: salários baixos; e falta de habitação a preços acessíveis.

Um estudo publicado pela Fundação José Neves indicava que os salários dos jovens licenciados foram dos que mais diminuíram desde 2010. Em 2010, um licenciado entre os 24 e os 35 anos tinha um salário médio de 1537€. Em 2018, um jovem nas mesmas condições recebia 1280€ por mês. Uma contração de 17%.

Afinal de contas, estamos perante a geração mais bem qualificada de sempre e também alvo de cobiça pelos empregadores do resto da Europa ou do mundo. Como segurar e valorizar esta nova geração torna-se o desafio do século.

No entanto, os dados estatísticos são preocupantes. Segundo o economista Eugénio Rosa, a remuneração média nacional aumentará 10,1% entre 2015 e 2022, ao mesmo tempo que o salário mínimo subirá 39,6%, fazendo com que Portugal se transforme num país de salários mínimos. “Como é que o país assim pode reter quadros qualificados?”, questiona o economista.

Cerca de 56% da riqueza total está concentrada em 1% da população, revelando o enorme fosso que existe entre os poucos que muito têm e os muitos que pouco têm. E se, em 1975, 59% da riqueza nacional correspondia a salários e 24,3% eram rendimentos de capital, no final de 2020 a situação inverteu-se e os salários somente correspondem a 35% da riqueza nacional e os rendimentos de capital já atingem 41%.

Quando analisado o peso das remunerações na estrutura de custos das empresas e o seu efeito negativo para a competitividade, verificamos que se trata de uma falsa questão. As remunerações têm apenas um peso de 18% na estrutura de custos das empresas.

Tendo em conta este cenário, a solução para o desenvolvimento económico e social passará sempre pela valorização do trabalho e dos trabalhadores, em que o aumento dos salários, incluindo o salário dos licenciados, é determinante. Como poderá existir crescimento económico e desenvolvimento sem trabalhadores qualificados? Manter uma política de baixos salários só contribui para o incremento das desigualdades sociais.


Joana Maria Alonso Gomes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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