terça-feira, 23 de novembro de 2021

Impacte da covid-19 no setor de alojamento turístico em Portugal

A população portuguesa, com o surgimento da covid-19, sofreu um grande impacte ao nível económico, social, cultural, sanitário, entre outros. Ao longo destes 2 anos, o setor de alojamento turístico e, tantos outros, viram-se obrigados a reinventar-se para poderem sobreviver e crescer novamente depois do abalo sofrido.  

Portugal é amplamente reconhecido na Europa pelo sol, pelas praias, pela gastronomia, pela sua herança cultural e patrimonial, tal contribuindo assim para a afluência de turistas ao país. Neste sentido, podemos afirmar que, para alcançar um bom desempenho a nível económico, o setor de alojamento depende da atividade turística.

Em 2019, registou-se nas unidades de alojamento uma subida de 69,8 milhões de dormidas, correspondendo a um aumento de quase 3% face ao ano anterior. Consequentemente, verificou-se um acréscimo de 8,1% das receitas turísticas e 7,3% dos proveitos totais. De acordo com esta perspetiva, o turismo foi, no ano de 2019, responsável pela maior atividade económica exportadora do país, correspondendo a 52,3% das exportações de serviços, e por 19,7% das exportações totais. Consoante o referido, a meu ver, o retrato da atividade turística em 2019 foi estimulante e a previsão para 2020 seria positiva e promissora.  

A declaração do primeiro Estado de Emergência, em 2020, foi o despoletar de uma mudança drástica na economia e na população. Deste modo, que implicações teve o Estado de Emergência? Estabeleceu-se o fecho ou paragem quase total da maior parte de serviços e trabalhos de todos os setores de atividade, no qual para a maioria dos empresários representou um período de faturação zero. Isto é, este foi um período onde as empresas e atividades comerciais não registaram quaisquer movimentos de caixa.

Acredito que uma das medidas que se seguiu, nomeadamente a paralisação da mobilidade e das viagens à escala global, teve um papel fundamental no declínio económico do setor, dado que provocou uma diminuição de chegadas internacionais de 74%, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT). Além disso, registou-se uma quebra acentuada na procura internacional de 74,9%, correspondendo a 12,3 milhões de dormidas. No que se refere ao mercado nacional, este registou 13,6 milhões de dormidas (-35,4%) e nas receitas o decréscimo foi de -57,6%.

Perante esta situação, os profissionais do setor viram-se obrigados a definir estratégias e ações que promovessem a confiança dos hóspedes e a consequente recuperação da área de atividade. Neste sentido, o Turismo de Portugal criou o selo Clean & Safe, de forma a certificar os estabelecimentos e atividades turísticas que assumissem o compromisso de cumprir as recomendações dadas pela Direção Geral de Saúde (DGS) com o intuito de reduzir os riscos de contaminação.

O principal objetivo consistiu em sensibilizar as empresas turísticas para a adoção de comportamentos apropriados à época pandémica e que adotassem procedimentos de higiene e limpeza que assegurassem a segurança dos turistas e colaboradores, incentivando a retoma da atividade a nível nacional e internacional, proporcionando uma maior confiança a todos os que visitassem Portugal enquanto destino turístico. Além disso, o governo criou, ainda, juntamente com a coordenação do Turismo de Portugal, o programa de incentivo ao consumo “Visita Portugal”, como promoção do destino, que visava estimular a procura interna e incentivar o consumo num ambiente de negócios ainda frágil.

O governo, em resultado do impacte significativo nos setores de atividade, decidiu adotar medidas de apoio, nomeadamente a adoção do lay-off, linhas de crédito e moratórias de crédito. A meu ver, estas medidas foram necessárias e fundamentais para evitar o fecho permanente dos estabelecimentos, a destruição irreversível de empregos e da capacidade produtiva. No entanto, apenas uma percentagem reduzida das empresas terá beneficiado das medidas.

Em suma, encontro-me numa posição de dilema, na medida em que o Estado estabeleceu as restrições a pensar na população e na propagação da covid-19, agindo corretamente nesta lógica, contudo, as suas ações refletem um esquecimento dos setores de atividade económica que sofreram um abalo da qual difícil e lentamente se vão recuperar.

 

Filipa Dias Barbosa 

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]   

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