sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Como se explica a rápida recuperação da economia chinesa após a crise pandémica?

Além das consequências ao nível da saúde, a pandemia do COVID-19 levou a uma severa contração das economias mundiais. Surpreendentemente, enquanto os outros países sofriam com novos surtos e variantes, a China saiu vitoriosa, sendo a única grande economia mundial com um crescimento económico positivo em 2020 (2,3%).

Todos sabemos que a China é uma das grandes potências mundiais, líder nas exportações e soberana em relação a outros países. Entre 1999 e 2019, o seu PIB cresceu a um ritmo impressionante – de acordo com os dados do World Bank, em 1999, o PIB era de 1.094 mil milhões de dólares americanos e, em 2019, era de 14.280 mil milhões de dólares americanos. Este crescimento dá-se sobretudo devido à migração de trabalhadores das áreas rurais para áreas urbanas e industriais, o que se traduziu no aumento da produção de bens finais, levando o país a ser considerado “uma fábrica para o mundo”.

Quando foi descoberto o primeiro caso de COVID-19 em Wuhan, e à medida que o vírus se foi alastrando, foi cada vez mais notável a submissão dos outros países à China. A meu ver, esta dependência é claramente um problema, e se há uma lição que aprendemos (ou devíamos ter aprendido) com a crise pandémica é que algo deve ser feito para atenuar esta subordinação.

Apesar da pandemia se ter iniciado na China, o país registou no 3º trimestre de 2020 um crescimento de 4,9%, em termos homólogos, sendo até considerada a economia “vencedora no jogo do tabuleiro económico mundial” (El País, 2020). Muitos se questionam: como foi isto possível? Ora, há várias explicações, mas acredito que a mais importante e primordial é a resposta que o país deu à pandemia: a adoção de medidas longas e rígidas de confinamento fez com que durante no mês de setembro de 2020 o país registasse zero infeções locais – ao mesmo tempo, Portugal arrecadava, em 29 dias, 17299 casos de infeção.

No que diz respeito à economia, pode considerar-se o comércio exterior como um dos grandes impulsionadores deste crescimento: segundo o BBC News, em termos homólogos, as exportações recuperaram em 9,9% em setembro de 2020, enquanto as importações aumentaram 13,2%. Pode também destacar-se o turismo como estimulador da economia, através dos movimentos internos: durante a Semana Dourada, 637 milhões de habitantes deslocaram-se, gerando uma receita de 69,6 mil milhões de dólares americanos (dados do Ministério da Cultura e Turismo).

Por último, outra medida importante foi a conceção de créditos e subsídios às empresas, como forma de investimento no setor público, em áreas geradoras de muitos postos de trabalho. Apesar de considerar esta medida um grande passo na melhoria da economia, acredito que leva também a uma recuperação desigual: de facto, ao impulsionar o setor produtivo, a economia cresce. No entanto, estes apoios foram apenas para as grandes empresas, deixando as pequenas empresas e as famílias de baixo rendimento de fora, que ainda não conseguiram recuperar do impacto inicial da pandemia. Com o aumento da produção aumentaram também as vendas, mas de produtos caros e não essenciais, como joias e cosméticos, entre outros. Curiosamente, o consumo privado tem vindo a cair, uma vez que muitas famílias ainda se encontram em situação de desemprego. De acordo com Louis Kuijs, da Oxford Economics, “a recuperação total do consumo das famílias depende da campanha de vacinação e de uma melhoria do mercado de trabalho”.

Assim, encontro-me numa posição paradoxal: numa perspetiva macroeconómica, a forma como a China lidou com a pandemia e os resultados que obteve foram, sem dúvida, brilhantes. Contudo, não consigo aplaudir o país, porque se focou completamente na recuperação económica e no apoio às grandes empresas, não criando qualquer tipo de apoio para as famílias, que foram igualmente (ou mais) afetadas pela situação pandémica. Acredito que se fossem criados estes apoios, o crescimento económico seria ainda mais notável.

 

Ana Rita Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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