segunda-feira, 1 de novembro de 2021

A crise pandémica no futebol nacional e europeu: problemas e soluções

         Atualmente, o futebol é considerado o desporto mais famoso a nível mundial, dando origem a milhares de milhões de euros em receitas todos os anos. Estas receitas são divididas em três grandes grupos: receitas de bilheteira e hospitalidade; direitos televisivos e acordos comerciais; e de publicidade.

A interrupção do futebol profissional na Europa devido à pandemia da Covid-19 teve um forte impacto na economia dos clubes, numa temporada em que as receitas de todas as suas ligas e divisões sofreram uma queda de 3,7 mil milhões €. A adoção de medidas como suspensões de jogos, adiamento de competições e partidas realizadas à porta fechada foram os principais fatores para a crise no mercado futebolístico. No total, as receitas caíram 13%, para os 25,3 mil milhões €, de acordo com um relatório da Deloitte realizado em Julho de 2021.

 O maior impacto foi observado nas cinco maiores ligas europeias (inglesa, espanhola, alemã, italiana e francesa), conhecidas como as “big five”, com uma queda de 11% nas receitas. Dentro destas, a que sentiu um impacto menor foi a liga alemã, uma vez que reativou o campeonato mais cedo, mesmo que à porta fechada, com uma quebra de 4% nas receitas, para os 3,4 mil milhões de euros durante a temporada. Por outro lado, a que mais sofreu com a pandemia foi a inglesa, a liga que gera mais receitas em todo o mundo, tendo caído 13%, para os 5,2 mil milhões €.

Em Portugal, as quebras nas receitas também foram acentuadas, tendo em conta a dimensão da liga e dos respetivos clubes. Apenas nos “três grandes”, estima-se que se tenha observado uma perda de 60 milhões €, tendo em conta os três meses sem futebol (março a maio de 2020). Além do adiamento de jogos e competições, uma das soluções foi estabelecer cortes salariais, tal como aconteceu com diversos clubes europeus, recorrendo ao regime de lay off simplificado - uma das medidas extraordinárias aprovadas pelo Governo português para proteger os postos de trabalho face à crise pandémica. Deste modo, a Belenenses SAD foi o primeiro representante da primeira liga portuguesa a formalizar o recurso parcial ao lay-off, seguido de clubes como o Sporting CP. Neste regime, os salários dos jogadores, técnicos e dos restantes funcionários são reduzidos para dois terços, para um máximo de 1905 euros (11% descontado para a Segurança Social), sendo que 70% desse valor é suportado pelo Estado.

A meu ver, as medidas tomadas pelo Governo português no combate à Covid-19 no que respeita aos eventos futebolísticos foram necessárias, ainda que, por vezes, insatisfatórias. O facto do final da temporada 2019/2020 ter sido disputada com os estádios à porta fechada, assim como o início da temporada de 2020/2021, sem dúvida que ajudou na redução dos casos de infetados em Portugal, uma vez que estes eventos eram categorizados pela WHO como super-spreaders. No entanto, durante estas duas temporadas sob a pandemia, foram realizados dois eventos europeus de futebol, nomeadamente a fase final da UEFA Champions League 2019/2020, em Lisboa, e a final, também da UEFA Champions League, da época 2020/2021, esta já com a presença de adeptos, no Porto. Estes dois eventos causaram revolta nos adeptos portugueses, principalmente o segundo, uma vez que comprovaram a capacidade dos clubes, como o FC Porto no Estádio do Dragão, para receber adeptos, no caso um total de 16.500, numa altura em que os jogos das competições portuguesas continuavam a ser realizados à porta fechada, afetando as receitas de todos os intervenientes das ligas profissionais.

Apesar disso, o retorno dos adeptos às cadeiras dos estádios foi realizado com sucesso, não havendo qualquer ligação entre as partidas e um aumento significativo de casos. Mesmo assim, é necessário que o Governo continue a acompanhar e a apoiar o setor futebolístico, visto que este impacto pode perdurar até 2024, segundo um estudo realizado pela World Footbal Summit (WFS) e pela empresa SPSG Consulting.

 

Miguel Vilaça Duarte

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

 

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