Hoje em dia, Portugal, a par de toda a Europa, encontra-se de braço dado com uma forte crise. A sua origem remonta à escassez de matérias-primas, que, consequentemente, despoleta um aumento do seu preço, assim como um aumento do custo da energia. Tornando este cenário ainda mais tempestuoso, o transporte marítimo acaba por sofrer também um incremento.
A pandemia que se instalou em 2020, teve repercussões ao nível da saúde e, ainda, em inúmeros setores da economia, uma vez que vários foram os negócios que não conseguiram sobreviver à mesma. Desta feita, é possível afirmar que todo o cenário que a Covid-19 instaurou, por todo o mundo, acabou por ser o impulsionador da crise, que se revela cada vez mais próxima. No âmbito, por exemplo, da indústria automóvel, é possível sublinhar o atraso na entrega de matérias-primas. Já no ramo vidraceiro, verificaram-se 2 subidas, cada uma de 15%, num intervalo de 2 semanas. No setor têxtil, as matérias-primas, como é o caso do algodão, viram o preço a aumentar de forma incomportável e abrupta, e no setor do ferro foram observados aumentos de 100%.
Posto isto, é de capital importância referir que, para além da pandemia, muitos foram os fatores que contribuíram para esta crise. Entre eles, é possível apontar a falta de contentores, que originou uma acumulação e retenção das mercadorias nos respetivos portos. Neste sentido, a esta conjuntura, acrescente-se a falta de ligações e rotas fixas, que teve reflexo direto nos atrasos de encomendas. Como a China e a Coreia retomaram a sua atividade pós-pandémica primeiro que a Europa, os contentores acabaram por, forçosamente, terem de ser deslocados para as rotas do Pacífico.
A este leque de fatores, é perene apontar o grande êxodo nos Estados Unidos, acompanhado de um forte investimento na construção. Por este mesmo motivo, e como consequência do seu vasto capital, ofereciam preços com os quais a Europa não conseguia competir, pelo que as matérias-primas, já escassas, eram detidas maioritariamente por eles. Assim, as empresas portuguesas, ainda a reajustar-se a todo o cenário pandémico, não conseguiam obter matérias nem matérias-primas nem preços de mercado decentes.
Por fim, a dependência europeia do continente asiático numa série, ainda ao nível de matérias-primas, resultou, em última instância, em que muitas empresas se vissem obrigadas a parar a produção, havendo posteriormente uma escassez de produtos nacionais no mercado.
Note-se que a crise que se está a formar irá ter grande impacto nas empresas e, ainda, nos próprios consumidores. Segundo um estudo conduzido pelo Dr. Nuno Mello, as empresas portuguesas já enfrentam uma subida brutal de custos, que se refletiu num aumento homólogo, em agosto, de 11% dos preços de produção industrial. O deputado realçou, também, que, com o objetivo de manter a sua carteira de clientes, muitas são as empresas que se viram obrigadas a abdicar das suas margens de lucro para compensar o aumento dos custos.
No que concerne às despesas empresariais, entra também na equação o combustível e a energia, que se encontram no seu expoente máximo ao nível dos preços. Tudo isto recai, num plano posterior, sobre o consumidor, que vê o produto final encarecer.
Como possíveis soluções
para este problema, a curto prazo, é necessária a ajuda do governo. O órgão superior
da administração pública teria de, a título de exemplo, refletir sobre uma
eventual redução na tributação dos combustíveis e nas energias.
A solução poderia passar
também por uma recapitalização, ou, em
alternativa, por uma paragem na criação de novos custos de contexto,
nomeadamente a nível laboral. Desta forma, surge a hipótese de uma imposição de
um quadro legal mais rígido, adequado aos desafios de um mercado de trabalho
que é dinâmico e se encontra numa profunda transformação. Para além
disso, toda esta situação revela
vulnerabilidades e dependências que devem ser combatidas através de uma
reindustrialização do país.
Em jeito de conclusão, direi que o país enfrenta, já, uma grande crise, sendo que o governo deve-se precaver, atenuando o impacto da mesma, tal como a Europa. Daqui, tanto a nível interno como comunitário, devem ser retirados ensinamentos, em ordem a que a situação, num futuro, ainda que longínquo, não se repita. Ressalva-se que alguns economistas preveem, contudo, que durante o próximo ano, o panorama normalize.
Tomaz Silva
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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