Em setembro de 2008, o Lehman Brothers, um dos maiores bancos de investimento da história dos Estados Unidos, acabava de anunciar falência. Após o desencadeamento da crise dos subprimes no ano anterior, várias instituições financeiras acabaram por seguir o mesmo caminho, levando a um colapso do sistema financeiro à escala mundial, com consequências que ainda hoje se sentem, sobretudo no nosso país. Desde então, e como resposta às adversidades sentidas ao longo dos anos que se seguiram, os bancos centrais mais influentes do mundo, como o BCE e a FED, começaram a adotar políticas monetárias expansionistas, diminuindo drasticamente as taxas de juro, até aos atuais 0,0% na zona euro, desde 2016, e aumentando de forma exponencial a quantidade de moeda oferecida nas respetivas economias, numa década que se caraterizou por alguma estabilidade financeira nos países desenvolvidos, até ao ano passado.
A 13 de março de 2020, quase doze anos depois do crash de Wall Street, a OMS classificava o novo surto provocado pelo SARS-CoV-2 como uma pandemia, confirmando o cenário expectável de que os próximos tempos viriam a ser atribulados. Para além dos desafios sanitários impostos aos governos pelo globo fora, seguiram-se meses de uma elevada necessidade de despesa pública, de volatilidade nos mercados financeiros e de alastrada instabilidade social.
De modo a impulsionar as economias fortemente afetadas pela pandemia e financiar programas de apoio governamental, a necessidade de se injetar mais capital na economia também cresceu. Essa necessidade foi correspondida pelos grandes bancos centrais do mundo, de forma mais ou menos semelhante, através da compra recorde de dívida pública aos governos à procura de financiamento, aumentando a dívida dos países e a quantidade de moeda em circulação, algo que se verificou, como demonstram os seguintes gráficos, tanto na União Europeia como nos EUA.
EU - Debt to GDP
USA
– Money Supply (M1)
Com
os apoios monetários em grande escala que se têm vindo a observar, a recuperação
económica após o impacte inicial da pandemia tem sido forte, pelo menos no que
toca à produção total dos países. A taxa de crescimento do PIB atingiu valores
na ordem das dezenas, 33,8% nos EUA e 12,6% na Zona Euro, na segunda metade de
2020, depois da queda abrupta do início do ano.
Apesar
disso, no último ano e meio têm-se verificado algumas falhas nos mercados dos
países desenvolvidos. Situações como escassez de produtos nos supermercados e afetação
insuficiente de produtos energéticos, como por exemplo o gasóleo, têm sido cada
vez mais normais numa economia caraterizada pelo excesso de procura de bens e
serviços, aliada à expansão monetária recorde, relativamente à diminuição da
oferta agregada, afetada por consideravelmente maiores custos de produção e
transporte.
Aparentemente sem qualquer surpresa, vão-se observando, simultaneamente, ao longo dos meses, fenómenos de inflação pelos custos e inflação pela procura, para além da gigantesca expansão monetária que por si só seria suficiente para causar preocupação relativamente à subida dos preços nas economias afetadas. Os mercados de ações e imobiliário também não escaparam à especulação desmedida dos últimos meses, batendo recordes de índices compostos diariamente, triplicando os valores que se verificaram antes do colapso financeiro de 2007-2008.
USA - Inflation Rate
USA - S&P500
EU - Housing Prices Index
A
partir daqui tudo o que se pode prever é, apesar de tudo, apenas uma previsão. Factos
são que os valores de crescimento do produto estão a voltar a estagnar, todos
os países estão mais endividados do que nunca, as taxas de juro continuam a
zero, a China poderá estar a entrar em recessão, a inflação não dá sinais de
abrandamento e os bancos centrais continuam a injetar dinheiro como nunca antes
visto. Sem dúvida que estamos perante um momento delicado no que ao futuro dos
países desenvolvidos diz respeito. Teremos uma espécie de época dourada no que
à política monetária diz respeito, anos de subida de preços abrupta ou estaremos
a um passo da nova maior crise do século XXI?
Rodrigo Oliveira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]