O modelo das economias nórdicas é, acima de tudo, caraterizado por ser um Estado universalista de bem-estar social, que envolve acordos em que representantes do trabalho e empregadores negociam salários e políticas de mercado de trabalho mediadas pelo governo, conjugando tudo isso com uma economia de livre mercado. Mantêm um modelo que muitos analistas dizem não ser sustentável, no qual o Estado paga (quase) tudo e as pessoas pagam (muitos) impostos.
No
entanto, os nórdicos estão em primeiro lugar nos rankings de qualidade de vida,
de democracia e de competitividade. A Noruega lidera o Índice de
Desenvolvimento Humano das Nações Unidas e o índice de prosperidade elaborado
pelo britânico Legatum Institute, que mede os níveis de riqueza e
bem-estar (aqui, a Dinamarca está em 2.º, a Finlândia em 3.º e a Suécia em
6.º). A Suécia está em 1.º no Índice de Democracia da Economist, a
Dinamarca é o 2.º país mais pacífico do mundo e um dos menos corruptos.
Fig.1 – Índice de Desenvolvimento Humano por região, em 2019
Fonte: OCDE
Qual
é, afinal, o segredo dos nórdicos? Segundo o editor Erik Rassmussen, "A
resposta é aconfiança". Isto é, os escandinavos (particularmente os
dinamarqueses) veem a pesada carga fiscal como um investimento a longo prazo
numa sociedade sustentável e acreditam que esse dinheiro vai ser aplicado da
forma mais correta e benéfica para o país. O welfare state representa um
fator de identidade destas economias, pelo que muito dificilmente será, alguma
vez, posto em causa.
Na Dinamarca, a população paga (quase) metade dos seus rendimentos em impostos mas, em contrapartida, não pagam hospitais, nem escolas e recebem dinheiro para frequentar o ensino superior, o suficiente para suportarem todas as despesas que o mesmo pode implicar.
Fonte: Eurostat
Há,
por último, outro elemento importante para se perceber o sucesso do modelo
nórdico atual. Resume-se nisto: "Aprender com os erros do passado". Após
a crise no início dos anos 1990, os nórdicos viram-se obrigados a fazer
reformas profundas e isso deixou-os mais bem preparados para a crise atual. Para
além disso, segundo Steinar Holden, especialista em questões de macroeconomia e
política monetária da Universidade de Oslo, “A receita foi a inevitável: corte
nas despesas do Estado. Mas a isso somou-se a reforma do sistema de pensões”.
"No antigo sistema, os trabalhadores de hoje pagavam pelos reformados de
hoje. Em 93, cada pessoa devia pagar pelo seu próprio sistema de pensões, que
assim deixa de estar sujeito a flutuações económicas ou demográficas.”
Após
toda esta reflexão, chego à conclusão de que a ideia de que não se pode ser
competitivo e ter impostos altos está simplesmente errada. A partir do momento
em que é atingido um grau de confiança da sociedade no estado, as políticas
podem ser implementadas de modo a garantir uma melhoria na qualidade de vida da
população, sem comprometer a competitividade do Estado. E, acima de tudo,
considero que não existe nada mais importante numa nação do que a garantia de
padrões de vida básicos, como a saúde, a educação e a segurança. Considero,
então, que o PIB não representa o fator mais importante da grandeza de uma
sociedade e as pessoas antes de serem um número são, tal como o nome indica,
pessoas, com necessidades e expectativas para um futuro repleto de
oportunidades que lhes serão facultadas, independentemente da situação económica
da família onde cresceram.
Margarida
Costa
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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