O acesso à habitação é,
inquestionavelmente, uma necessidade e um direito básicos, indispensáveis e
essenciais de toda a população e sociedade, em geral. Contudo, ainda que se mostre
como uma dimensão central de bem-estar, o setor habitacional e o acesso a
moradias tornaram-se, devido aos nefastos efeitos da covid-19, cada vez mais
desafiadores em vários países, com os preços das casas e alugueres a subir e a
ocupar uma proporção cada vez maior dos rendimentos das famílias quando
comparados com outros gastos, como educação e saúde. Deste modo, Portugal
apresenta-se no topo dos países onde os agregados familiares mais sentem o peso
do crédito à habitação em comparação com os restantes países pertencentes à
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE).
Ao longo dos anos, também outros
fatores contribuíram para a sobrevalorização imobiliária e para a desregulação
entre a oferta e procura de imóveis que presenciamos atualmente, como por
exemplo a expansão da exploração de imóveis para turismo e a concessão de
crédito à habitação às famílias com taxas de juro muito reduzidas, enquadrada
numa política monetária expansionista em Portugal e na União Europeia.
Deste modo, é reivindicado pelos
agentes do setor imobiliário, como os construtores, a necessidade de medidas
políticas interventivas que permitam rever o paradigma atual do setor e fazer
com que este seja um propulsor para o contínuo desenvolvimento e progresso da
economia num período pós-pandemia, de forma a poder atender e amparar as
dificuldades habitacionais da população portuguesa. Uma das contestações
prende-se na revisão dos impostos, nomeadamente a redução do IVA dos materiais
de 23% para 6%. Com um IVA na construção de 23%, e com todos os restantes
custos que normalmente estão associados a um projeto imobiliário, é pouco
razoável haver habitação acessível.
A juntar a esta carga fiscal
desmedida, também o preço das matérias-primas tem apresentado valores
excessivos nos últimos meses, além da escassa mão-de-obra que também interfere
e exacerba o custo de investimento de um projeto. Dadas as evidentes
adversidades que a pandemia trouxe à economia portuguesa, a adoção de
providências que permitissem o incremento da construção a preços razoáveis, bem
como a dedução do IVA (idealmente para a sua taxa reduzida), seriam muito
favoráveis.
Como forma de mitigar os efeitos
provenientes da covid-19 no mercado habitacional, as moratórias bancárias
foram, sem dúvida, um balão de oxigénio para muitas famílias, uma vez que as
prestações relativas ao crédito de habitação foram suspensas e permitiram que
as famílias adiassem o pagamento desse crédito, na tentativa de evitar o
sobre-endividamento dos consumidores mais vulneráveis economicamente. Este
cenário parece, à partida, vantajoso para as famílias uma vez que as moratórias
funcionam como uma espécie de “almofada” para o mercado, mas o desfecho exato
desta situação específica não é ainda fácil de prever, havendo ainda várias
questões pendentes de resposta. Que impacto terá o fim das moratórias? Qual o
futuro para as famílias portuguesas que veem agora o seu “balão de oxigénio” a
esgotar? Tudo vai depender da forma como vai continuar a evoluir a pandemia e
da situação da economia aquando do fim das moratórias.
Num cenário em que as famílias se
encontram desempregadas ou com baixos rendimentos, é expectável que estas
continuem a ter dificuldade em efetuar os pagamentos suspensos, tendo,
portanto, as moratórias sido apenas uma forma de adiar o inevitável. É de notar
que caso se verifique esta última situação, vai haver motivação por parte dos
bancos para reduzir as concessões de crédito, resultando numa descida dos
preços do imobiliário.
Para
concluir, na minha opinião é fundamental rever as políticas de habitação em
Portugal e traçar estratégias habitacionais que influenciem positivamente a
população portuguesa, e assim ir de encontro às suas necessidades e desafios
atuais. Deste modo, é crucial definir estratégias habitacionais, facilitar a
mobilidade e providenciar mais acessos a apoios públicos, além de se
implementarem novas medidas que tornem as rendas privadas mais acessíveis.
Apesar de se notar um progresso
significativo e positivo no dinamismo do setor imobiliário face ao ano passado,
continua a ser fulcral ter em atenção a mediação imobiliária na economia
portuguesa. O mercado imobiliário continua a registar níveis elevados de
procura, o que revela que as famílias têm vontade e necessidade de mudar de casa.
Guilherme
António Rodrigues Augusto
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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