quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Importância da literacia financeira numa realidade pós-pandémica

         A literacia financeira pode ser descrita como a capacidade de compreensão da gestão do dinheiro, consumo racional, investimentos e poupanças, tendo como objetivo a tomada de decisões racionais no que toca a finanças pessoais ou empresariais. Na verdade, em tempos de crise económics, esta é encarada como um fator essencial para o sucesso económico das famílias e empresas. Os cidadãos tomam decisões cada vez mais informadas, contribuindo para a estabilidade económica do país, fazendo com que a literacia financeira seja, cada vez mais, uma preocupação do Governo português.

A atribuição de um apoio monetário às PMEs mais afetadas pela pandemia, pelo Fundo InvestEU, é um grande exemplo da necessidade de conhecimento e gestão financeira por parte destas empresas, pois vai permitir que os fundos sejam aplicados de forma efetiva, contribuindo para a recuperação económica do país.

Em maio de 2020, foram publicados os resultados de 2018 relativos à avaliação em literacia financeira do Programme for International Student Assessment (PISA), conduzido pela OCDE:

- em termos globais, a literacia financeira dos jovens de 15 anos entre 2012 e 2018 manteve-se estável;

- Portugal, na sua primeira participação, ficou posicionado na média da OCDE (505 pontos), correspondendo ao 7.º lugar no ranking;

Já em 2021, segundo o estudo “Financial literacy for investors in the securities market in Portugal”, divulgado pela Comissão Europeia, apesar do claro aumento do conhecimento financeiro:

- 64% da população portuguesa nunca investiu;

- programas de formação (49%), workshops e seminários (35%) são as iniciativas que os inquiridos mais recomendariam para aumentar a perceção dos concidadãos sobre os investimentos;

- a TV ou rádio (46%) e a internet (43%) são os meios onde os respondentes, maioritariamente, procuram informação sobre assuntos financeiros (sendo que o recurso à internet decresce com a idade).

O período de incerteza vivido devido à Covid-19 é, sem dúvida, uma boa oportunidade para os encarregados de educação falarem com as crianças sobre a situação financeira mundial atual e a grande necessidade de gestão financeira. No entanto, observo que as redes sociais são um grande desafio, pois existem muitas ofertas fraudulentas, o que leva a decisões de investimento incorretas. Isto obriga a um maior esforço das instituições para a promoção da literacia financeira e proteção do consumidor. Em causa não estão apenas investidores individuais mas, também, empresas.

Decorrente da análise destes estudos, percebemos que existe uma grande necessidade de formações na área financeira. Portugal tenta responder a estas necessidades de formas diferentes, como, por exemplo:

- Plano Nacional de Formação Financeira (PNFF), criado em 2011 no âmbito do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF), que contribui para aumentar o nível de conhecimentos financeiros da população e promover a adoção de comportamentos financeiros adequados;

- Programa de Literacia Digital, que visa promover um conjunto de competências básicas e contribuir para a capacitação da população sénior para a utilização dos canais digitais, e ações de formação para jornalistas e para PMEs, cujos temas abordados passam por financiamento e crédito bancário, produtos bancários e sistema financeiro (APB – Associação Portuguesa de Bancos);

- produção de conteúdos informativos sobre o investimento no mercado de capitais (CMVM – Comissão do Mercado de Valores Mobiliários).

          Na minha opinião, e remetendo ao referido acima, uma boa gestão dos fundos financeiros atribuídos, a continuação do bom trabalho no que toca à literacia financeira entre os jovens e a promoção de um investimento informado, nomeadamente através de formações e controlo e utilização das redes sociais a favor da educação financeira são os pontos-chave para caminhar ao encontro da recuperação da economia portuguesa.

Em jeito de conclusão, a literacia financeira, no período de crise pós-pandémico, tem um papel bastante importante pois, se promovida corretamente, vai contribuir para a estabilidade económica do país.

 

Marisa Moreira

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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