sábado, 27 de novembro de 2021

Comércio Internacional de Portugal: pós-pandemia

O comércio internacional de bens e serviços é extremamente importante na economia de um país, sendo avaliado em termos de balança comercial, que representa a diferença entre importações e exportações. Este tem sido um dos principais responsáveis pelo crescimento económico das nações, contudo, tem sofrido transformações significativas nas últimas décadas (por exemplo, com o aumento do protecionismo) mas, sobretudo, na pandemia, afetando de forma direta e indireta os países e os seus habitantes (quer como trabalhadores, quer quanto consumidores).

Como era expectável, o surgimento da covid-19 conduziu a muitos desequilíbrios no comércio, que se propagaram rapidamente a nível mundial, seja pelos decorrentes encerramentos de unidades produtivas, seja pelas dificuldades de transporte associadas às medidas de contenção. Este colapso das trocas comerciais levou a um saldo negativo da balança comercial de 3 583 milhões de euros, em 2020, uma recaída de cerca de 2 024 milhões desde o ano anterior. No entanto, se compararmos os valores acumulados até ao 3º trimestre, verificamos que 2021 apresentou uma recuperação, tendo inclusive registado valores superiores a 2019. 

Contrariamente ao que se possa pensar, não existe uma degradação da taxa de cobertura das exportações pelas importações durante a pandemia, sendo até possível apurar um aumento. Em 2019, a taxa apresentava um valor de 74,90% e, em 2020, as exportações passaram a cobrir 78,89% das importações.

Em conformidade com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes ao período acumulado de janeiro a setembro de 2021, verifica-se nas exportações um acréscimo de 4,8% face a 2019 e 20,1% relativamente a 2020. Já sob a perspetiva das importações, verifica-se, no mesmo período, uma diminuição de 1,5% em relação a 2019 e um aumento de 18,1% face a 2020. 

Se analisarmos os dados ao nível das grandes categorias económicas de bens, no período acumulado até ao término do 3º trimestre de 2021, é possível ainda inferir que houve, nas exportações, um acréscimo de 9,4% e de 26,3% nos Fornecimentos industriais, relativos a 2019 e 2020, respetivamente. Em sentido inverso, é de realçar um decréscimo do Material de transporte e acessórios em cerca de 11,8%, face a 2019, e um crescimento de 13,3%, relativo a 2020, sendo esta a única categoria que apresentou valores inferiores aos auferidos no período pré-pandemia (2019). Tendo em consideração as importações, salienta-se a diminuição do Material de transporte de 32,8%, em comparação com 2019, e um acréscimo de 4,9%, em relação a 2020. É ainda de destacar o aumento, face a 2019, nos Fornecimentos industriais, de 16,4%, e de 32,4% face a 2020.

Ora, mas com que países é que Portugal realizou mais transações no presente ano? Ao examinar o mês de setembro de 2021, apura-se um acrescento tanto nas exportações, 16,8% (2020) e 24,24% (2019), como nas importações, 18,2% (2020) e 14,1% (2019), com a Espanha. É de salientar este aumento de transações na categoria de Combustíveis e lubrificantes relativo às importações e de Fornecimentos industriais em ambos os fluxos. 

Todavia, apesar de o país vizinho continuar a ser o principal destino das exportações portuguesas, segundo o INE, as trocas comerciais com outros países cresceram significativamente, assim, olhando para as variações do 9º mês, é de salientar o aumento de 54,3%, face ao ano passado, das exportações para os Estados Unidos, e de 79,3%, considerando o ano de 2019, maioritariamente na categoria de Combustíveis e lubrificantes. E ainda, no lado das importações, vale realçar o aumento de 121,0% com o Brasil.

Assim, tomo o bom desempenho das exportações de Portugal como essencial para um crescimento económico equilibrado, acarretando melhorias das condições de vida de largas parcelas da população nacional. Além disso, numa perspetiva pessoal e tendo em mente as evidências supramencionadas, é fácil considerar que a crise pandémica não foi simétrica, pelo que essa perceção é importante de maneira a podermos considerar um ponto de viragem no qual a Covid-19 tenha apenas efeitos residuais na vida das pessoas, mas também, nas economias dos países.


Bruna Freitas Lomba Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: