O recente chumbo do orçamento, para além de muitas outras questões, teve como dilema o aumento do salário mínimo. Mas será que a questão dos salários baixos no nosso país passa apenas pelo aumento do salário mínimo?
Portugal
está preso numa “armadilha” de salários baixos e acaba por perder boa parte da
população ativa mais qualificada. Se há algo de que não podemos ter dúvidas é
que estamos mesmo perante a geração mais bem preparada de sempre. Nunca antes,
de acordo com as estatísticas, tivemos o grupo etário entre os 30 e os 34 anos
com 45,5% de licenciados no Ensino Superior (em 2015, não ultrapassava os 30%).
Mais de metade dos portugueses com 20 anos frequenta também, atualmente, o
Ensino Superior, do qual saíram, no último ano letivo, 86 mil diplomados, o
maior valor de sempre. Os números são consideráveis sobre o grau de preparação
desta geração, quando comparado com o das anteriores, o que nos deixa a par dos
valores médios europeus. Só que depois, como bem sabemos, há outras realidades
que lançam sombras no brilho desta geração.
Os
jovens portugueses, por exemplo, são dos europeus que saem mais tarde da casa
dos pais, segundo o Eurostat. E a razão para isso acontecer nada tem que ver
com hábitos familiares enraizados, mas simplesmente com duas razões: salários
baixos; e falta de habitação a preços acessíveis.
Um
estudo publicado pela Fundação José Neves indicava que os salários dos jovens
licenciados foram dos que mais diminuíram desde 2010. Em 2010, um licenciado
entre os 24 e os 35 anos tinha um salário médio de 1537€. Em 2018, um jovem nas
mesmas condições recebia 1280€ por mês. Uma contração de 17%.
Afinal
de contas, estamos perante a geração mais bem qualificada de sempre e também
alvo de cobiça pelos empregadores do resto da Europa ou do mundo. Como segurar
e valorizar esta nova geração torna-se o desafio do século.
No
entanto, os dados estatísticos são preocupantes. Segundo o economista Eugénio
Rosa, a remuneração média nacional aumentará 10,1% entre 2015 e 2022, ao mesmo tempo
que o salário mínimo subirá 39,6%, fazendo com que Portugal se transforme num
país de salários mínimos. “Como é que o país assim pode reter quadros
qualificados?”, questiona o economista.
Cerca
de 56% da riqueza total está concentrada em 1% da população, revelando o enorme
fosso que existe entre os poucos que muito têm e os muitos que pouco têm. E se,
em 1975, 59% da riqueza nacional correspondia a salários e 24,3% eram
rendimentos de capital, no final de 2020 a situação inverteu-se e os salários
somente correspondem a 35% da riqueza nacional e os rendimentos de capital já
atingem 41%.
Quando
analisado o peso das remunerações na estrutura de custos das empresas e o seu
efeito negativo para a competitividade, verificamos que se trata de uma falsa
questão. As remunerações têm apenas um peso de 18% na estrutura de custos das
empresas.
Tendo em conta este cenário, a solução para o desenvolvimento económico e social passará sempre pela valorização do trabalho e dos trabalhadores, em que o aumento dos salários, incluindo o salário dos licenciados, é determinante. Como poderá existir crescimento económico e desenvolvimento sem trabalhadores qualificados? Manter uma política de baixos salários só contribui para o incremento das desigualdades sociais.
Joana
Maria Alonso Gomes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade
curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º
ciclo) da EEG/UMinho]
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