Como bem sabemos, Portugal é um país de emigrantes. Muitos são os portugueses que deixam o seu país e se dispõem a arriscar uma nova vida, na esperança de alcançar melhores condições de vida e de trabalho. Os principais países de destino são: Reino Unido, Luxemburgo, Suíça, Alemanha, Holanda, França, Espanha, Moçambique, Angola, Brasil e EUA.
No início do novo
século, Portugal assinalou níveis de emigração historicamente baixos,
registando apenas cerca de 5.000 emigrantes permanentes anuais. Todavia, com a
crise financeira de 2008-2009 este número tomou valores muito elevados,
atingindo o número recorde de 85.000 emigrantes em 2014.
Contudo, consoante os
dados mais recentes do Observatório da Emigração, o número de emigrantes
portugueses tem vindo a decair desde os anos negros em que a troika esteve
instalada no país. O processo de retoma económica em Portugal, associado com o
crescimento do emprego e descida do desemprego, parece ter incentivado o
regresso dos seus conterrâneos. No entanto, é de notar que no ano de 2017 Portugal
foi o país da União Europeia com mais emigrantes, em proporção da população
residente, para além de que quase 70 mil portugueses deixaram o país em 2020.
A descida do número de
emigrantes portugueses pode em parte ser explicada pela diminuição acentuada da
emigração para o Reino Unido. Após a sua saída da EU, aquele impôs novas regras
de imigração para o país, para além de que a crise pandémica restringiu a
mobilidade entre os territórios, o que se mostrou ser mais um entrave. De 2019
para 2020, o número passou de 24.593 para 6.664, o que indica uma queda de
cerca de 73%.
Já a Suíça volta a
apresentar uma diminuição significativa da emigração portuguesa. Também a
tendência recessiva no Brasil verificada nos últimos anos traduziu-se numa
perda de Lusitanos, sendo que apenas 439 deram entrada no país, no ano
anterior. Do mesmo modo, a crise económica e financeira em Angola, que se
agravou neste último ano, não foi um fator a favor na escolha do país como
destino de trabalho, contribuindo para esta queda.
Já as novas tendências
no mercado de trabalho português, como novas oportunidades de emprego, a
possibilidade de formação e requalificação de pessoas e ainda a eventual
atualização do salário mínimo nacional têm um efeito positivo nos fluxos migratórios
de e para Portugal. Grosso modo, a década passada configura uma evolução muito
significativa do número de imigrantes em Portugal (6% de população estrangeira
no total da população residente). De tal modo que, em 2020, o INE apurou um
saldo migratório positivo de 41.271, pois o número de imigrantes permanentes
(67.160) ultrapassou o de emigrantes permanentes (25.886), o que resultou num
aumento da população residente em Portugal.
De qualquer modo, é
importante notar que entre os portugueses emigrados observa-se um crescimento
da proporção de diplomados emigrados nos países da OCDE. A probabilidade de os
portugueses com qualificações emigrarem é maior do que os menos qualificados.
Assim, a meu ver,
Portugal é hoje um país de repulsão migratória. Facilmente damos conta de que
em períodos menos favoráveis os portugueses emigram, e em períodos de alguma
prosperidade a emigração decai. Para uma boa parte dos nossos compatriotas, na
ínfima possibilidade de terem o mesmo estilo de vida que têm no estrangeiro, em
Portugal, não hesitaria em voltar a casa.
Como filha de um emigrante, sei o quão difícil é a vida no
estrangeiro. Por mais que seja possível criar uma vida lá fora, as saudades dos
amigos e família são imensas. Mas tal como o meu pai, muitos deixam o país à
procura de uma vida melhor, que lhes permita acumular riqueza. E custa ver
tantos portugueses emigrados, tendo nós um país tão evoluído e seguro e com o
potencial para oferecer aquilo que os “outros” oferecem. Mas se permanecem
longe de casa é porque têm motivos. Cabe a Portugal tornar-se um país capaz de
oferecer amplamente condições dignas a todos os portugueses. Ou Portugal ou uma
vida digna!
Bruna Daniela Rodrigues
Oliveira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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