sexta-feira, 26 de novembro de 2021

A Emigração em Portugal

            Como bem sabemos, Portugal é um país de emigrantes. Muitos são os portugueses que deixam o seu país e se dispõem a arriscar uma nova vida, na esperança de alcançar melhores condições de vida e de trabalho. Os principais países de destino são: Reino Unido, Luxemburgo, Suíça, Alemanha, Holanda, França, Espanha, Moçambique, Angola, Brasil e EUA.

No início do novo século, Portugal assinalou níveis de emigração historicamente baixos, registando apenas cerca de 5.000 emigrantes permanentes anuais. Todavia, com a crise financeira de 2008-2009 este número tomou valores muito elevados, atingindo o número recorde de 85.000 emigrantes em 2014.

Contudo, consoante os dados mais recentes do Observatório da Emigração, o número de emigrantes portugueses tem vindo a decair desde os anos negros em que a troika esteve instalada no país. O processo de retoma económica em Portugal, associado com o crescimento do emprego e descida do desemprego, parece ter incentivado o regresso dos seus conterrâneos. No entanto, é de notar que no ano de 2017 Portugal foi o país da União Europeia com mais emigrantes, em proporção da população residente, para além de que quase 70 mil portugueses deixaram o país em 2020.

A descida do número de emigrantes portugueses pode em parte ser explicada pela diminuição acentuada da emigração para o Reino Unido. Após a sua saída da EU, aquele impôs novas regras de imigração para o país, para além de que a crise pandémica restringiu a mobilidade entre os territórios, o que se mostrou ser mais um entrave. De 2019 para 2020, o número passou de 24.593 para 6.664, o que indica uma queda de cerca de 73%.

Já a Suíça volta a apresentar uma diminuição significativa da emigração portuguesa. Também a tendência recessiva no Brasil verificada nos últimos anos traduziu-se numa perda de Lusitanos, sendo que apenas 439 deram entrada no país, no ano anterior. Do mesmo modo, a crise económica e financeira em Angola, que se agravou neste último ano, não foi um fator a favor na escolha do país como destino de trabalho, contribuindo para esta queda.

Já as novas tendências no mercado de trabalho português, como novas oportunidades de emprego, a possibilidade de formação e requalificação de pessoas e ainda a eventual atualização do salário mínimo nacional têm um efeito positivo nos fluxos migratórios de e para Portugal. Grosso modo, a década passada configura uma evolução muito significativa do número de imigrantes em Portugal (6% de população estrangeira no total da população residente). De tal modo que, em 2020, o INE apurou um saldo migratório positivo de 41.271, pois o número de imigrantes permanentes (67.160) ultrapassou o de emigrantes permanentes (25.886), o que resultou num aumento da população residente em Portugal.

De qualquer modo, é importante notar que entre os portugueses emigrados observa-se um crescimento da proporção de diplomados emigrados nos países da OCDE. A probabilidade de os portugueses com qualificações emigrarem é maior do que os menos qualificados.

Assim, a meu ver, Portugal é hoje um país de repulsão migratória. Facilmente damos conta de que em períodos menos favoráveis os portugueses emigram, e em períodos de alguma prosperidade a emigração decai. Para uma boa parte dos nossos compatriotas, na ínfima possibilidade de terem o mesmo estilo de vida que têm no estrangeiro, em Portugal, não hesitaria em voltar a casa.

Como filha de um emigrante, sei o quão difícil é a vida no estrangeiro. Por mais que seja possível criar uma vida lá fora, as saudades dos amigos e família são imensas. Mas tal como o meu pai, muitos deixam o país à procura de uma vida melhor, que lhes permita acumular riqueza. E custa ver tantos portugueses emigrados, tendo nós um país tão evoluído e seguro e com o potencial para oferecer aquilo que os “outros” oferecem. Mas se permanecem longe de casa é porque têm motivos.  Cabe a Portugal tornar-se um país capaz de oferecer amplamente condições dignas a todos os portugueses. Ou Portugal ou uma vida digna!

 

Bruna Daniela Rodrigues Oliveira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Sem comentários: