A indústria têxtil encontra-se entre os maiores e mais importantes setores empresariais nacionais e mundiais. O setor do vestuário é caraterizado por ciclos de vida do produto muito curtos, instabilidade nas preferências do consumidor e heterogeneidade das atividades de produção.
Para esta indústria,
2020 foi o ano em que tudo mudou. A pandemia tomava conta do mundo e a moda
registava um dos piores anos de sempre. O comportamento dos consumidores mudou
e as empresas tiveram de se adaptar, nomeadamente em termos de crescimento no
digital.
As pessoas continuam
relutantes em juntar-se em ambientes com muita gente e o tráfego nas lojas
mantém-se baixo; por isso, o digital é a melhor opção para grande parte da população,
principalmente na Europa, onde as restrições ainda são bastante significativas.
A indústria têxtil sofreu uma redução acentuada do volume de negócios e de
emprego. Em Portugal, muitas empresas tiveram de fechar portas, o que levou o
setor a perder cerca de 5000 empregos em 2020. No resto da Europa, o cenário
não foi diferente. As cerca de 267 mil empresas localizadas neste continente obtiveram
os piores valores de sempre, vendo uma queda nas vendas a rondar os 24,4%.
O setor têxtil, no
referente à parte do vestuário, tem elevada maturidade, sendo que muitas das
empresas têm mais de 25 anos. Apesar de serem bem estabelecidas e responsáveis
por um volume de negócios elevado, as vendas em 2021 estão muito aquém do
ambicionado. Num mês, os empresários vão amortizar o prejuízo, no mês seguinte
vão tentar falar com os clientes para negociar um aumento do preço final dos
produtos, mas esta situação é inconcebível no longo prazo, pelo que não se pode
prolongar por muito tempo.
E se, antes da
pandemia, a redução da carga fiscal já era prioridade, face às quebras no
setor, tornou-se ainda mais necessário. Portugal é um dos países da Europa com
maior carga de impostos sobre as empresas, o que compromete a competitividade
no setor. Por este motivo, a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP)
destaca a necessidade dos Orçamentos do Estado futuros terem em vista medidas
que reduzam os custos e a carga fiscal.
A indústria queixa-se
da “culpa” dos impostos na falta de dimensão para competir a nível internacional
e ambiciona que, com a redução na carga fiscal, seja possível a fusão com
outras empresas do setor. O solicitado é no sentido da redução de impostos como
o IRS e o IRC, além disso a ATP propôs também uma redução da carga fiscal sobre
a eletricidade, de modo a atenuar o custo deste serviço.
Como já mencionei, as
empresas do setor têxtil estão a passar por uma fase crítica no que diz
respeito à tesouraria. Então, o setor alude à necessidade de encontrar soluções
de forma a amenizar os efeitos das quebras. Uma solução proposta é o pagamento
do montante correspondente aos impostos em prestações e sem vencimento de
juros.
A venda de empresas
também é uma proposta em cima da mesa. Muitos empresários têm vontade de vender
e muitos novos empresários estariam dispostos a comprar, mas a legislação
portuguesa aparenta não compactuar com isso. A diferença entre o preço de venda
e o valor do balanço é enorme e, por outro lado, quem compra sai prejudicado
porque não consegue amortizar o novo ativo.
Concluindo: o setor
têxtil, que já se encontrava algo debilitado, encontra-se agora numa situação
quase decrépita com o impacte da pandemia de covid-19. Sejam crises económicas
ou crises pandémicas, o setor tem de se manter resiliente a fim de acelerar a
sua recuperação. Na minha opinião, e face aos problemas do setor, resultado da
pandemia da COVID-19, o aspeto do ponto de vista fiscal é crítico e deve ser
avaliado e, na melhor das hipóteses, modificado.
Maria Mateus
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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