Como qualquer outra ciência, a economia possui um conjunto próprio de ferramentas. Através destas ferramentas, os economistas elaboram modelos com o intuito de compreender as recessões e expansões que ocorrem na economia, influenciados por variáveis como é o caso da taxa de inflação.
Um
aumento da taxa de inflação reflete um aumento do nível geral de preços. Isto
provoca um aumento dos custos de produção para as empresas, uma vez que as matérias-primas,
mão de obra e I&D passam a ser mais dispendiosos. Assim, a empresa perde
rendibilidade, vê os seus lucros reduzidos e é expectável que um aumento da
taxa de inflação se traduza num maior risco de insolvência (Pacheco, 2018). O
produto cai do seu nível de produto natural. Outro aspeto a ter em consideração
é o lado dos consumidores, que veem o seu salário real cair.
Sendo
o salário real composto pelo rácio entre o salário nominal e o nível geral de
preços (W/P), um aumento da inflação conduz a um salário real inferior, pois o
aumento do salário nominal não é proporcional ao aumento do nível geral de
preços. Resumindo, W/P diminui, pois, o aumento de W é inferior ao aumento de
P. Assim, os consumidores perdem poder de compra, reduzindo a procura agregada
de bens e serviços colocando a economia fora do seu equilíbrio, num ponto em
que o produto é inferior ao seu nível natural.
Em ambos os casos temos um momento de recessão na economia, traduzido por um aumento do nível de preços e uma redução do produto.
Focando agora a
nossa atenção em Portugal, o gráfico seguinte mostra a evolução da taxa de
inflação do país nos últimos anos.
A
taxa de inflação em Portugal tem sofrido oscilações ao longo dos últimos anos.
Segundo os dados da PORDATA, 2011 registou o valor mais alto dos últimos anos,
que rondava perto dos 3,7%, seguido de uma sucessiva redução nos anos
seguintes, atingindo valores negativos no ano de 2014. No ano seguinte, em
2015, a taxa de inflação voltou a subir até ao ano de 2017. Seguiu-se novamente
um declínio da taxa de inflação, apresentando em 2020 valores próximos dos 0%.
No mês de outubro do ano presente atingiu-se uma taxa de inflação de 1,8%,
segundo o INE, aumentando 0,4% desde o mês precedente. A previsão até ao final
do ano é que a inflação se mantenha ascendente.
A imagem acima
ilustra a variação do PIB per capita
nos últimos 10 anos e é de notar que em 2011 e 2012, quando a taxa de inflação
apresentava valores mais altos, por sua vez, o PIB per capita sofreu uma redução. Por outro lado, em 2019, quando a
taxa de inflação apresentava dos seus valores mais baixos, o PIB per capita atingiu o seu valor mais
elevado.
O gráfico acima permite-nos também estabelecer a relação
entre a inflação e a taxa de desemprego. A taxa de desemprego regista subidas
significativas no período de 2009 a 2012, período esse em que a taxa de
inflação registava também um aumento enorme. Isto pode ser explicado pelo facto
de um aumento dos preços conduzir a uma redução da procura por parte dos
consumidores, que consequentemente se traduz numa menor produção e menor
necessidade de mão-de-obra, levando a um aumento da taxa de desemprego.
Os agentes adaptativos elaboram as suas expectativas de inflação futura com base na observação da inflação presente. São estas expectativas que lhes indicam como se comportar, quanto consumir, quanto exigir de salários, etc.. Com isto, temos inflação porque esperamos inflação e esperamos inflação porque a temos.
Com tudo isto, na minha opinião, estas consequências do aumento da inflação poderiam ser travadas com a credibilidade de uma política para reduzir a inflação. Esta seria uma forma de conseguir desinflação indolor, isto é, se os formuladores de política económica estiverem comprometidos a reduzir a inflação e possuírem a credibilidade necessária para convencer os indivíduos, não tardará que estes baixem as suas expectativas em relação à inflação. Assim, a inflação poderá ser reduzida sem que ocorra uma diminuição de produto nem um aumento de desemprego.
Ana Sofia Rodrigues Meireles
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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