segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Emigração jovem: vontade ou necessidade?

         A emigração jovem tornou-se, a partir da crise financeira portuguesa de 2010, um fenómeno cada vez mais recorrente em Portugal. A conjuntura económica atual arrasta milhares de jovens para empregos precários ou para o desemprego.

Olhamos à nossa volta e vemos, todos os meses, milhares de jovens portugueses a embarcarem num avião low-cost, com bilhete só de ida, rumo ao desconhecido. Ouvimos amigos a falar dos seus planos para partir. Não com a satisfação de quem procura novas experiências, mas com a frustração de quem sente que o país onde nasceu não lhe dá nem lhe dará no futuro qualquer oportunidade. Chegamos mesmo a pensar, será também este o meu futuro?

Os emigrantes dos anos 60 eram, maioritariamente, analfabetos ou com baixas qualificações. Atualmente, falamos numa emigração cada vez mais qualificada e jovem, que procura construir carreira a longo-prazo, facto assustador e preocupante para um país envelhecido como Portugal.

Várias são as causas apontadas para esta emigração portuguesa tão precoce, nomeadamente, a dificuldade de integração dos jovens no mercado de trabalho e a existência de condições de trabalho precárias, como é o caso de contratos temporários, trabalho a recibos verdes e estágios não remunerados. Todas estas condições, ou falta delas, levam os jovens portugueses a verem o mercado de trabalho estrangeiro como um escape da realidade em Portugal.

De acordo com o PORDATA, em 2020, observou-se uma taxa de desemprego da população jovem licenciada de 5,3%, o que demonstra que nem sempre o investimento na educação superior assegura o rendimento. Como já era expectável, a crise pandémica aumentou em muito o desemprego, e teve impacte redobrado no desemprego jovem: cerca de 1 em cada 4 jovens estavam desempregados em 2020. Durante crises socioeconómicas como esta, são acentuadas questões que enfatizam ainda mais a ideia de emigrar nos nossos jovens portugueses. É o caso do aumento da inflação, nomeadamente, e o aumento do preço da habitação, que faz com que, segundo o Eurostat, 45,5% dos jovens-adultos portugueses vivessem em casa dos pais, em 2018.

Podemos interpretar o aumento da emigração jovem qualificada como um empobrecimento da população residente no país, uma vez que estamos a comprometer a inovação, a investigação e o desenvolvimento e, consequentemente, o crescimento económico do país. Este subaproveitamento de habilitações em nada contribui para a criação de riqueza e competitividade do país e, principalmente, para o bem-estar dos jovens, levando à chamada “fuga de cérebros”.

Se pensarmos na questão do sistema de segurança social português adotado, o “Fully Funded System”, percebemos que este depende em muito dos jovens. Basicamente, a população ativa financia as pensões da população idosa. Então, se a população jovem já é reduzida, a emigração sistemática faz com que não contribua para o financiamento das pensões, podendo levar a tornar insustentável este tipo de sistema em Portugal.

É importante percebermos que o desenvolvimento económico de um país passa pela qualificação dos jovens porque é com estes que irão surgir novas ideias, novos processos e, consequentemente, o desenvolvimento. Então, será necessário não só qualificar os jovens, mas, principalmente, mantê-los no país. Para isto, será necessário criar uma série de condições que façam quebrar a “espiral de morte demográfica”, como Paul Krugman caraterizou os impactes da emigração na economia portuguesa.

É urgente agir de modo a aumentar a criação de mais e novos postos de trabalho, apostar na criação de melhores condições de trabalho, no surgimento de novos centros de investigação e desenvolvimento. Também é importante existirem incentivos para as empresas contratarem jovens licenciados, entre tantas outras possibilidades.

Em forma de conclusão, é obvio que os jovens portugueses têm uma grande necessidade de emigrar e o mais importante será travar esta saída de população qualificada do país, a qual foi considerada a geração mais qualificada que Portugal já teve, e que tanta falta faz e fará aos portugueses.

 

Juliana Castro

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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