A emigração jovem tornou-se, a partir da crise financeira portuguesa de 2010, um fenómeno cada vez mais recorrente em Portugal. A conjuntura económica atual arrasta milhares de jovens para empregos precários ou para o desemprego.
Olhamos à nossa volta e
vemos, todos os meses, milhares de jovens portugueses a embarcarem num avião low-cost, com bilhete só de ida, rumo ao
desconhecido. Ouvimos amigos a falar dos seus planos para partir. Não com a
satisfação de quem procura novas experiências, mas com a frustração de quem
sente que o país onde nasceu não lhe dá nem lhe dará no futuro qualquer
oportunidade. Chegamos mesmo a pensar, será também este o meu futuro?
Os emigrantes dos anos 60
eram, maioritariamente, analfabetos ou com baixas qualificações. Atualmente,
falamos numa emigração cada vez mais qualificada e jovem, que procura construir
carreira a longo-prazo, facto assustador e preocupante para um país envelhecido
como Portugal.
Várias são as causas
apontadas para esta emigração portuguesa tão precoce, nomeadamente, a
dificuldade de integração dos jovens no mercado de trabalho e a existência de
condições de trabalho precárias, como é o caso de contratos temporários,
trabalho a recibos verdes e estágios não remunerados. Todas estas condições, ou
falta delas, levam os jovens portugueses a verem o mercado de trabalho
estrangeiro como um escape da realidade em Portugal.
De acordo com o PORDATA,
em 2020, observou-se uma taxa de desemprego da população jovem licenciada de
5,3%, o que demonstra que nem sempre o investimento na educação superior
assegura o rendimento. Como já era expectável, a crise pandémica aumentou em
muito o desemprego, e teve impacte redobrado no desemprego jovem: cerca de 1 em
cada 4 jovens estavam desempregados em 2020. Durante crises socioeconómicas
como esta, são acentuadas questões que enfatizam ainda mais a ideia de emigrar nos
nossos jovens portugueses. É o caso do aumento da inflação, nomeadamente, e o
aumento do preço da habitação, que faz com que, segundo o Eurostat, 45,5% dos jovens-adultos
portugueses vivessem em casa dos pais, em 2018.
Podemos interpretar o
aumento da emigração jovem qualificada como um empobrecimento da população
residente no país, uma vez que estamos a comprometer a inovação, a investigação
e o desenvolvimento e, consequentemente, o crescimento económico do país. Este
subaproveitamento de habilitações em nada contribui para a criação de riqueza e
competitividade do país e, principalmente, para o bem-estar dos jovens, levando
à chamada “fuga de cérebros”.
Se pensarmos na questão
do sistema de segurança social português adotado, o “Fully Funded System”,
percebemos que este depende em muito dos jovens. Basicamente, a população ativa
financia as pensões da população idosa. Então, se a população jovem já é reduzida,
a emigração sistemática faz com que não contribua para o financiamento das
pensões, podendo levar a tornar insustentável este tipo de sistema em Portugal.
É importante percebermos
que o desenvolvimento económico de um país passa pela qualificação dos jovens
porque é com estes que irão surgir novas ideias, novos processos e,
consequentemente, o desenvolvimento. Então, será necessário não só qualificar
os jovens, mas, principalmente, mantê-los no país. Para isto, será necessário
criar uma série de condições que
façam quebrar a “espiral de morte demográfica”, como
Paul Krugman caraterizou os impactes da emigração na economia portuguesa.
É urgente agir de modo a aumentar a criação
de mais e novos postos de trabalho, apostar na criação de melhores condições de
trabalho, no surgimento de novos centros de investigação e desenvolvimento.
Também é importante existirem incentivos para as empresas contratarem jovens
licenciados, entre tantas outras possibilidades.
Em forma de conclusão, é
obvio que os jovens portugueses têm uma grande necessidade de emigrar e o mais importante
será travar esta saída de população qualificada do país, a qual foi considerada
a geração mais qualificada que Portugal já teve, e que tanta falta faz e fará
aos portugueses.
Juliana
Castro
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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