sexta-feira, 26 de novembro de 2021

4 dias por semana - o futuro do trabalho?

A semana de trabalho de 5 dias foi praticada pela primeira vez em 1908 numa fábrica de algodão na Nova Inglaterra. Mais tarde Henry Ford, em 1926 começou a fechar a sua fábrica aos Sábados e Domingos, com o intuito de aumentar a produtividade dos seus trabalhadores. Esta alteração, que hoje tomamos por garantida, foi na altura algo que levantou críticas a Ford. Na mesma altura, o economista John Maynard Keynes também previa que no futuro íamos acabar a trabalhar apenas 15 horas por semana. Mas será que a semana de apenas 4 dias de trabalho também se tornará uma realidade no futuro, como outrora se tornou a semana de 5 dias?

Esta redução do horário de trabalho, hoje em dia, seria apenas possível com a redução do salário ou através da divisão das horas de trabalho correspondentes a um dia pelos outros 4 dias de trabalho. Os proponentes desta alteração da semana de trabalho acreditam que esta redução levaria a um aumento da produtividade, o que permitiria ao empregador pagar o mesmo por apenas 4 dias de trabalho, sem que o horário de trabalho seja aumentado nesses dias.

Ou seja, o fator central desta medida, reside na produtividade, e se as vantagens associadas a um dia adicional de lazer, que, supostamente, levariam a um aumento de produtividade dos trabalhadores. Este aumento de produtividade foi verificado em duas empresas que reduziram o seu horário de trabalho mantendo o mesmo salário: a primeira, uma empresa neozelandesa, Perpetual Gardening, que encontrou um aumento de 20% de produtividade; outro exemplo foi o teste feito pela Microsoft no Japão, que registou um aumento na produtividade na ordem dos 40%. Associado ao aumento de produtividade. foi registado menos stress e maior satisfação dos trabalhadores em relação aos seus trabalhos.

Mas uma diminuição do horário de trabalho pode acarretar um aumento da pressão para realizar a mesma quantidade de trabalho em menos tempo. Especialmente quando tomamos em conta as diferenças de produtividade entre países ou sectores de indústria, esta alteração poderia levar a um aumento das desigualdades, aumentando ainda mais o fosso de competitividade entre estes.

A principal vantagem para os trabalhadores é o aumento de tempo livre, que estes podem utilizar para a sua família, lazer e desporto, entre outras atividades, tendo este um efeito na saúde física e mental, algo que procuramos cada vez mais valorizar nas nossas sociedades. Outra vantagem relaciona-se com o desenvolvimento da automação. Uma diminuição do horário de trabalho associada ao aumento da produtividade, devido a automação, pode ser a solução para a manutenção de postos de trabalho.

A nível económico, um dia a menos de trabalho significaria uma redução dos gastos com energia e eletricidade, na ordem dos 20%, de acordo com a US Energy Information Association, sendo isto uma vantagem se ocorrer o aumento de produtividade. Um fim-de-semana mais prolongado também seria um estímulo importante ao turismo, especialmente após a crise pandémica, devido à valorização do turismo doméstico.

Hoje em dia, qualquer discussão que façamos sobre o horário de trabalho terá que assentar no balanço trabalho-vida, para que não só tenhamos uma maior produtividade nas nossas economias mas, também, uma maior satisfação humana nesta dimensão importante da nossa vida. Tal como Henry Ford disse: “é altura de perdermos a noção de que o lazer de um trabalhador é tempo perdido ou um privilégio de uma classe”.


João Lopes 

https://www.economist.com/the-economist-explains/2021/07/08/could-a-four-day-working-week-become-the-norm

https://applied.economist.com/articles/four-day-week

https://www.forbes.com/sites/alexledsom/2021/10/09/tourism-and-the-four-day-work-week-a-win-win-post-covid-19/?sh=105ce6c4176a

https://www.fastcompany.com/90325704/this-new-zealand-company-proves-how-4-day-work-weeks-are-great-for-business

https://blog.abacus.com/heres-how-much-a-4-day-work-week-saves-on-business-expenses/

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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