A tecnologia surgiu e desde então que a evolução do mundo tem sido exponencial. As vantagens são claras e a vida de muitos ficou facilitada. No entanto, como em tudo, vem acompanhada de desvantagens.
Já há alguns anos que a
introdução da inteligência artificial traz consigo a questão da eliminação de
empregos, mas será isso real? Diz-se também que novas profissões surgirão e que
a qualificação será fundamental. O Think Tank Bruegel estima que 54% dos
empregos na União Europeia podem estar em risco, nos próximos 20 anos. Os
cenários de desemprego abundantes e em escala global assustam, mas também vêm
acompanhados da expectativa de crescimento económico e da geração de novos
tipos e emprego, mas será isso suficiente? Segundo 32 países membros da OCDE,
quase um em cada dois empregos será afetado pela automação.
David Autor e
Anna Salmons desenvolveram um paper
que, em 2017, foi apresentado pelo BCE no fórum de bancos centrais. Este paper aborda mais o lado do crescimento
da produtividade, no qual a robotização é apenas uma influência. Os autores
analisaram 19 países ao longo de quatro décadas e tentaram perceber em que
medida é que a produtividade influencia o emprego. O objetivo passou por
descobrir se a inovação, que faz com que seja cada vez mais fácil produzir mais
bens e serviços com menos pessoas, tende a criar uma massa cada vez maior de desempregados.
Os dados sugerem que é exatamente o contrário. Existe uma ligação positiva
entre produtividade e emprego, porque apesar do aumento de produtividade numa
determinada indústria reduzir o volume de postos de trabalho nessa mesma indústria
tal acaba por ser contrabalançada pela criação de empregos noutras que mais do
que compensam o choque inicial. Os países mais robotizados: Alemanha, EUA e
Japão, são exatamente aqueles em que o desemprego é mais baixo.
Para além disso, estudos
de consultoras de renome indicam que o impacto da Inteligência Artificial na
economia pode ser estimado em mais de 15,7 triliões de dólares na próxima
década [Rao e Verweij, 2017]. Deste valor estimado, 6,6 triliões ocorrerão do
aumento da produtividade, enquanto 9,1 triliões estão associados aos efeitos no
consumo. Este impacto ocorrerá em todos os setores da economia. Além disso,
[Brynjolfsson et. al., 2019] é necessário considerarmos, inclusive no PIB, o
valor intangível dos bens digitais. Muitos destes bens digitais são derivados
de técnicas e ferramentas da inteligência artificial e ciência da computação.
Brynjolfsson e os seus
colaboradores mostraram experiências em que os consumidores são convidados a
avaliar o preço dos bens digitais que consomem diariamente (como as redes
sociais, Instagram, Facebook e motores de busca, como o Google) e concluíram que
os consumidores pagariam entre 40 dólares (no caso do Facebook) e 1.500 dólares
por mês (no caso dos motores de busca, como o Google) pelos serviços que hoje
obtemos de forma gratuita. A consequência do estudo é um forte indício da forma
como estes bem digitais impactam na economia.
Adicionalmente,
indicadores económicos mostram que, nas últimas décadas, organizações de base
tecnológica (Amazon, Microsoft, Alphabet (Google), Apple e Facebook) tiveram
valorizações crescentes em termos de capitalização de mercado. A valorização
das ações destas empresas representa, entre outros fatores, uma expectativa de
desempenho baseada nas tecnologias e dados que estas empresas detêm.
Em junho de 2020, a Amazon,
Microsoft e Apple atingiram, cada uma, mais de 1,3 triliões de dólares de capitalização
de mercado. Neste mesmo tempo, a gigante de óleo e gás, maior do setor nos EUA,
atingiu valores abaixo dos 300 biliões de dólares. Estes números ilustram
algumas caraterísticas da economia: organizações centradas em dados,
conhecimento e capital intelectual, hoje têm maior impacto entre investidores. Adicionalmente,
a base de negócios e tecnologias destas empresas é fundamentada na ciência da
computação e, recentemente, na adoção de tecnologias inovadoras de inteligência
artificial. De facto, temos de refletir e perceber que a adoção destas
tecnologias fez com que estas empresas se tornassem paradigmas de uma nova era
da economia do conhecimento. Ao contrário de tecnologias inovadoras do passado
recente, a Inteligência Artificial tem maior potencial de impacto econômico,
social, cultural e político por ser uma tecnologia de aplicação e impacto em
todos os setores económicos.
Podemos ter a certeza de
que a inteligência artificial terá impactos muito positivos no crescimento
económico, na produtividade e no aumento da riqueza. É expectável que o
desemprego, apesar de poder atingir níveis indesejáveis, o que provoca um
impacto negativo na economia, não seja algo fulcral, visto que poderá ser
contrabalançado pela criação de outros empregos. Tudo dependerá de se conseguir
compatibilizar o ritmo acelerado de tecnologias e a velocidade de adaptação do
fator trabalho.
Renata
Salgueiro
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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