quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Orçamento do Estado CHUMBADO. E agora?

      Foi chumbada quarta-feira pp. a proposta do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022). A votação ocorreu no plenário da Assembleia da República, com o PS a ser o único partido a votar a favor da proposta orçamental. PSD, BE, PCP, CDS-PP, PEV, Chega e IL votaram contra, dando ainda lugar às abstenções do PAN e das duas deputadas não-inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues.

Ao longo dos últimos anos, e com o apoio dos partidos mais à esquerda, o PS conseguiu ver viabilizados seis orçamentos. Todavia, desta vez, e para o espanto da Nação, tanto o PCP como o BE rumaram em sentidos opostos, acusando o Governo de não mostrar flexibilidade e abertura para avanços que permitissem repetir o desfecho comum.


O quadro acima assinala as propostas essenciais dos bloquistas e dos comunistas, propostas estas não viabilizadas pelo Partido Socialista. Por exemplo, o PCP considera que o Orçamento de Estado proposto é insuficiente na valorização dos salários, reclamando uma subida do salário mínimo para os 850 euros. António Costa, por outro lado, afirma que uma subida tão avultada é colocar em “risco a recuperação e subsistência de milhares de micro, pequenas e médias empresas que enfrentam a maior crise económica da nossa história".

O Partido Comunista Português defende, ainda, um maior aumento extraordinário das pensões. O líder do PS diz que tal poderia comprometer a “garantia de um sistema de segurança social público que respeite os atuais pensionistas e garanta o futuro dos trabalhadores de hoje e das novas gerações”.

O PCP defende, também, a construção de uma rede pública de creches, um maior investimento nos serviços públicos, menos impostos sobre a eletricidade, uma progressiva gratuitidade para os transportes públicos, e uma maior intervenção por parte do governo nas rendas, entre outros.

O Bloco de Esquerda considera também que este OE “não cumpre os objetivos a que se propõe e falha ao país”. Catarina Martins enumera vários pontos deste Orçamento que não considera suficientes, nomeadamente na questão fiscal, onde considera que se mantêm “enormes injustiças”. Salienta ainda que “o alívio do IRS em 2018, num orçamento que o Governo quis negociar com o Bloco representa mais do dobro da reforma do IRS que o Governo anuncia como grande bandeira em 2022”.

A coordenadora do Bloco afirma ainda que no combate à pobreza o governo escolheu uma “política pouco ambiciosa”, que “recusa alteração estrutural” ao que a determina. Critica também a abordagem à saúde, atestando que “muitos dos projetos para 2022 reiteram promessas dos anos anteriores” e que o regime de exclusividade anunciado se “limita a aumentar o horário de trabalho”.

E agora?

Neste momento, a decisão cabe ao Presidente da República. Este irá para já reunir-se com todos os partidos com assento parlamentar no sábado e, posteriormente, com o Conselho de Estado na quarta-feira, segundo nota divulgada por Belém.

         Como explica o líder do Chega, “É verdade que, juridicamente, constitucionalmente, (…) o governo poderia apresentar outro Orçamento no prazo de 90 dias, ou até podíamos ficar simplesmente em duodécimos”.

Existem também várias divergências partidárias em relação a este assunto. Os partidos de esquerda já sublinharam não querer eleições antecipadas, enquanto que os partidos de direita as querem.

O mais certo será mesmo haver eleições. Marcelo Rebelo de Sousa já tinha feito saber que, a confirmar-se um Chumbo do Orçamento, iria iniciar “logo, logo a seguir o processo” de dissolução do parlamento e consequentemente de convocação de eleições legislativas antecipadas. A confirmarem-se, estas deverão ocorrer entre Janeiro e Fevereiro, de modo a minimizar as “paragens no Governo, na economia e nos Fundos europeus”.

Para já, o que se sabe é que o país irá funcionar em duodécimos enquanto não houver novo orçamento.

 

João Rodrigo da Silva Barros

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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