Os últimos 2 anos foram atípicos em relação ao que se pode considerar como ‘normalidade económica’. A crise sanitária provocada pelo vírus sars-cov-2, o lockdown realizado por muitos países para conter a disseminação do vírus, a desaceleração generalizada das economias ao redor do mundo e a inviabilidade de algumas indústrias, como algumas do setor de serviços, foram alguns dos fatores que os governos e os seus respetivos bancos centrais tiveram de enfrentar.
Neste cenário, com uma economia fragilizada, onde parte da
sociedade não podia sair para trabalhar e, consequentemente, não tinha forma de
se sustentar, com indústrias que empregam milhões de pessoas totalmente
paradas, os bancos centrais das maiores economias do mundo tomaram uma decisão
para tentar mitigar os efeitos devastadores que estavam a ocorrer no momento: Quantitative Easing.
O
Quantitative Easing é uma forma do
Banco Central de um país injetar liquidez na sua economia. Compra títulos de
longo prazo no mercado, e, assim, cria ‘dinheiro novo’ para pôr em circulação.
Num primeiro momento, como a atividade económica estava bem escassa, a
circulação de pessoas na rua era pequena e muitas empresas paralisaram ou
diminuíram consideravelmente suas atividades, muitos economistas foram a favor
desta medida como forma de aquecer momentaneamente a economia e garantir a
existência de programas sociais que se faziam necessários naquele contexto.
Portanto,
o ano de 2020 ficou marcado por essa liquidez excessiva no mercado, com muitos
dólares, euros, e outras moedas em circulação. Como é de imaginar, não apenas
pela relevância da economia americana mas também pelo facto do dólar ser adotado
como unidade de troca por países ao redor do mundo, de entre os Bancos
Centrais, o mais relevante em relação a projeções e expectativas é o FED, o Banco
Central Americano. Um facto curioso e útil para ilustrar esse excesso de
liquidez é que 40% de todos os dólares em circulação hoje foram impressos em
2020.
Felizmente,
graças a evolução da vacinação e dos cuidados sanitários, a vida começa a
voltar ao normal e a retoma da economia passou a ser feita de forma gradual.
Nesta altura, com muito dinheiro em circulação, começa a se perceber a
valorização de ativos financeiros (bolsas de valores ao redor do mundo atingem os
seus máximos históricos). Afinal, os investimentos são um possível destino para
todo este dinheiro em circulação. E também se começa a perceber a inflação
(cenário oposto ao desenhado por alguns economistas no auge da pandemia, que previam
uma deflação caso os bancos centrais não aumentassem a base monetária).
É
então que chegamos ao Tapering,
anunciado pelo FED e que vai começar no fim do mês de novembro. O Tapering pode ser explicado como um
instrumento antagónico do Quantitative
Easing, onde o Banco Central vai retirar gradualmente os estímulos
monetários da economia. A projeção do FED é que ele terá duração de 7 meses, do
final de novembro até junho de 2022. Já no Banco Central Europeu a situação é
um pouco diferente. Apesar da presidente Christine Lagarde ter anunciado que o
BCE vai reduzir a compra de ativos, logo, a injeção de liquidez, ela afirmou
que este ainda não é o momento do Tapering,
e classificou essa movimentação do Banco Central como um “reequilíbrio”.
Situações
como estas nos ajudam a perceber a importância dos bancos centrais na economia,
o poder que eles têm, através das atitudes corretas, para conduzir a economia e
suavizar consequências de situações extremas, como as da pandemia. Por outro
lado, a partir de uma sucessão de decisões equivocadas, também podem prejudicar
o andamento da economia de um país, como provocar uma inflação persistente, por
exemplo.
João
Pedro Pinto Duarte
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário