A
população portuguesa, com o surgimento da covid-19, sofreu um grande impacte ao
nível económico, social, cultural, sanitário, entre outros. Ao longo destes 2
anos, o setor de alojamento turístico e, tantos outros, viram-se obrigados a
reinventar-se para poderem sobreviver e crescer novamente depois do abalo
sofrido.
Portugal é amplamente reconhecido na
Europa pelo sol, pelas praias, pela gastronomia, pela sua herança cultural e
patrimonial, tal contribuindo assim para a afluência de turistas ao país. Neste
sentido, podemos afirmar que, para alcançar um bom desempenho a nível
económico, o setor de alojamento depende da atividade turística.
Em
2019, registou-se nas unidades de alojamento uma subida de 69,8 milhões de
dormidas, correspondendo a um aumento de quase 3% face ao ano anterior. Consequentemente,
verificou-se um acréscimo de 8,1% das receitas turísticas e 7,3% dos proveitos
totais. De acordo com esta perspetiva, o turismo foi, no ano de 2019, responsável
pela maior atividade económica exportadora do país, correspondendo a 52,3% das
exportações de serviços, e por 19,7% das exportações totais. Consoante o
referido, a meu ver, o retrato da atividade turística em 2019 foi estimulante e
a previsão para 2020 seria positiva e promissora.
A
declaração do primeiro Estado de Emergência, em 2020, foi o despoletar de uma
mudança drástica na economia e na população. Deste modo, que implicações teve o
Estado de Emergência? Estabeleceu-se o fecho ou paragem quase total da maior
parte de serviços e trabalhos de todos os setores de atividade, no qual para a
maioria dos empresários representou um período de faturação zero. Isto é, este
foi um período onde as empresas e atividades comerciais não registaram quaisquer
movimentos de caixa.
Acredito
que uma das medidas que se seguiu, nomeadamente a paralisação da mobilidade e
das viagens à escala global, teve um papel fundamental no declínio económico do
setor, dado que provocou uma diminuição de chegadas internacionais de 74%, de acordo
com a Organização Mundial do Turismo (OMT). Além disso, registou-se uma quebra
acentuada na procura internacional de 74,9%, correspondendo a 12,3 milhões de dormidas.
No que se refere ao mercado nacional, este registou 13,6 milhões de dormidas
(-35,4%) e nas receitas o decréscimo foi de -57,6%.
Perante
esta situação, os profissionais do setor viram-se obrigados a definir
estratégias e ações que promovessem a confiança dos hóspedes e a consequente
recuperação da área de atividade. Neste sentido, o Turismo de Portugal criou o
selo Clean & Safe, de forma a
certificar os estabelecimentos e atividades turísticas que assumissem o
compromisso de cumprir as recomendações dadas pela Direção Geral de Saúde (DGS)
com o intuito de reduzir os riscos de contaminação.
O
principal objetivo consistiu em sensibilizar as empresas turísticas para a
adoção de comportamentos apropriados à época pandémica e que adotassem
procedimentos de higiene e limpeza que assegurassem a segurança dos turistas e
colaboradores, incentivando a retoma da atividade a nível nacional e
internacional, proporcionando uma maior confiança a todos os que visitassem
Portugal enquanto destino turístico. Além disso, o governo criou, ainda,
juntamente com a coordenação do Turismo de Portugal, o programa de incentivo ao
consumo “Visita Portugal”, como promoção do destino, que visava estimular a
procura interna e incentivar o consumo num ambiente de negócios ainda frágil.
O
governo, em resultado do impacte significativo nos setores de atividade, decidiu
adotar medidas de apoio, nomeadamente a adoção do lay-off, linhas de crédito e moratórias de crédito. A meu ver,
estas medidas foram necessárias e fundamentais para evitar o fecho permanente
dos estabelecimentos, a destruição irreversível de empregos e da capacidade
produtiva. No entanto, apenas uma percentagem reduzida das empresas terá
beneficiado das medidas.
Em
suma, encontro-me numa posição de dilema, na medida em que o Estado estabeleceu
as restrições a pensar na população e na propagação da covid-19, agindo
corretamente nesta lógica, contudo, as suas ações refletem um esquecimento dos
setores de atividade económica que sofreram um abalo da qual difícil e
lentamente se vão recuperar.
Filipa Dias Barbosa
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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