Quer seja a energia que utilizamos dentro das nossas próprias casas para tomar banho, cozinhar, iluminar o livro que estamos a ler, quer seja lá fora a energia que ilumina as ruas e que faz as portas automáticas se abrirem, constatamos que o nosso acesso à eletricidade é praticamente garantido. Mas e se não fosse? Será que viveríamos num país com acesso aos cuidados básicos de saúde, à educação, com direito a um salário mínimo digno? Provavelmente não.
A
ideia para escrever sobre este assunto surgiu enquanto lia o livro do Bill
Gates “How to avoid a climate disaster”. Ele apresentou um gráfico em que o
rendimento per capita de um país era
tanto maior quanto maior fosse o uso de energia por pessoa. Pode não parecer
óbvio à primeira vista, mas a correlação entre ambos é forte.
Fonte: European
Environment Agency
Gráfico 1- Demonstra, similarmente a um gráfico apresentado no livro mencionado à priori, que, quanto maior a quantidade de eletricidade consumida, maior é o PIB per capita
Nos
países de baixo rendimento, há três hipóteses: ou a população não tem acesso à
eletricidade; ou esta é de fraco desempenho e, como tal, há várias falhas
elétricas; ou, quando a energia existe, é demasiado cara. Por exemplo: segundo
o Banco Mundial, na Libéria apenas 2% da população tem acesso regular à
eletricidade; um terço dos países em desenvolvimento tem pelo menos 20 horas
mensais de falhas elétricas; e “em muitos países da África Subsariana pagam
cerca de 20 a 50 cêntimos por kilowatt-hora, contrastando com uma média global
de cerca de 10 cêntimos”.
Ora,
sem eletricidade, as crianças não têm luz para estudarem nas horas em que a luz
solar é fraca ou nenhuma, reduzindo a sua produtividade. Sem uma educação
adequada, nenhum país pode perspetivar um futuro de crescimento económico
sustentado. Por outro lado, sem energia a indústria e setor terciário não
funcionam. Com energia cara, a indústria não cresce por ter elevado custo de inputs, e o investimento estrangeiro não
surge. O próprio setor primário (o principal setor da economia de países em
desenvolvimento) pode ser deficiente: sem sistemas de rega automáticos,
maquinaria elétrica, etc., torna-se vulnerável e ineficiente, muitas das vezes,
suficiente apenas para consumo próprio. Também as infraestruturas das cidades
são mais fracas e subdesenvolvidas. Uma bola de neve que parece não terminar, impedindo
o desenvolvimento destes países.
É
fulcral que todos possam ter acesso a energia (funcional e barata) tal como nós
temos. Contudo, a abordagem terá que ser diferente. Não poderá ser energia tal
como a que nós temos. Terá que ser energia proveniente de fontes
renováveis. Estes países que não têm acesso a eletricidade acabam por ser os
que menos poluem. Se agora fôssemos implantar energia como a nossa em todos
eles, o planeta convergiria para um desastre climático de forma muito mais
acelerada. Portanto, é importante que a técnica seja outra. Que não se repitam
os erros que os países desenvolvidos já cometeram e continuam a cometer. É
importante que as fontes de energia instaladas nestes países sejam as energias
verdes. Mais eficientes e desenvolvidas, mais baratas (eventualmente, todos os
países deveriam “saltar” para estas energias, mas isso é outra discussão).
Assim
sendo, as evidências mostram que, para que estas populações evoluam para
estilos de vida mais dignos, a eletricidade tem que estar presente no seu
dia-a-dia, tal como está no nosso. Acredito na igualdade de oportunidades, de
acesso aos mesmos bens e serviços e, como tal, penso que as entidades
supranacionais e os governos dos países em questão deveriam unir esforços para
o conseguirem.
Bruna Sequeira
[artigo de opinião produzido no
âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do
curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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