No
passado dia 10 de outubro de 2021, as bolsas asiáticas entraram em colapso, pois
temia-se a possibilidade da empresa Evergrande falir, uma das principais
imobiliárias da China e da Ásia. Segundo os analistas, dois fatores
foram fundamentais para esta possibilidade: o primeiro resultante da
desaceleração nas vendas de imóveis, explicada pela atividade económica chinesa
que foi menor do que o esperado devido à COVID-19;
e o segundo advém de um aperto do governo chinês no setor para fazer frente à
especulação imobiliária. O aperto que representava o plano “três linhas vermelhas” exigia às construtoras
a garantia de um rácio passivo-ativo inferior a
70%, e um rácio de alavancagem líquido inferior a 100%.
A
crise que o governo chinês deseja evitar advém do modo como o mercado
imobiliário (que cada vez mais se compara a um esquema em pirâmide) cresceu de
forma descontrolada nestas primeiras duas décadas do século XXI. As maiores
construtoras do país contraíram enormes dívidas para poderem financiar os seus
projetos, que por sua vez se encontram abandonados pela diminuição da procura
de habitações.
Estima-se
que a China ainda detenha cerca de 30 milhões de propriedades não vendidas, onde
podem habitar 80 milhões de pessoas. Além disso, de acordo com
estimativas da Capital Economics, o país possui cerca de 100
milhões de propriedades que já foram compradas mas não foram ocupadas,
o que demonstra a grande farsa do crescimento económico chinês.
O caso da
Evergrande tornou-se um dos símbolos destes excessos da bolha
imobiliária chinesa. Nos dias de hoje, a empresa acumula dívidas no valor
de mais de 300 mil milhões de dólares, cerca de 2% do PIB chinês, e terá
que arcar com pagamentos de juros milionários nas próximas semanas. Até agora, neste
ano, as ações da empresa perderam cerca de 90% do seu valor e as agências de
classificação de risco rebaixaram o seu crédito.
Porém,
o maior problema recai sobre os bancos e outras entidades (cerca de 300
empresas) que concederam empréstimos à empresa e correm o risco de nunca mais
receberem o dinheiro investido, o que teria consequências graves para a
economia global. Os mais pessimistas relembram a crise financeira de 2008, que
começou por uma bolha no mercado imobiliário. No entanto, a maior parte dos
analistas, até agora, aponta que as situações são diferentes e que um eventual
colapso do setor imobiliário chinês ou quebra de bancos no país não teria o
mesmo efeito dominó a nível global.
Esta
opinião deve-se ao facto de a maior parte da dívida da Evergrande ser detida
por credores na China e não por um conjunto alargado de países. Ainda assim, é
necessário não esquecer que as quedas dos mercados imobiliários são geralmente acompanhadas
por gastos de consumo reduzidos. Se a Evergrande entrar em colapso, a procura
chinesa de matérias-primas do setor de construção, como o aço e serviços
internacionais, poderão cair. Isso afetaria os mercados mundiais, já que a
China é um importante parceiro comercial de mais de 100 países em todo o mundo.
Por
fim, uma das grandes incógnitas recai sobre o governo chinês, que terá de
decidir se vai resgatar a gigante, que emprega 200 mil pessoas diretamente e
3,8 milhões indiretamente. Na avaliação de
especialistas, o cenário mais provável é
uma quebra ordenada da Evergrande, com uma cisão da empresa ou a assimilação da
massa falida por concorrentes ou até mesmo por uma cooperativa de trabalhadores,
uma vez que o setor de construção chinês é privado. Neste cenário, a
expectativa é de que o governo privilegie os pagamentos a empresas
terceirizadas e fornecedores. O CEO da empresa, Xu Jiayin, que já foi considerado o homem mais rico da China, foi
convocado por Pequim e será obrigado a pagar parte da dívida com a sua fortuna
pessoal.
Paulo Henrique da Costa Gonçalves
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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