No dia 31/01/2020, o Reino Unido deixou de ser um Estado-Membro da União Europeia. A partir desse momento, entrou em vigor o Acordo de Saída, designadamente “Brexit”.
O Brexit pode ter consequências económicas
que podem acarretar valores entre os 40 e os 60 mil milhões de €. A economia
britânica deverá sofrer variadas quedas, eclodindo dessa forma, com um
arrefecimento e desvalorização da libra após a saída da UE, qualquer que seja o
acordo posterior que venha a acontecer com Bruxelas. O Jornal Económico aponta
para a possível ocorrência de um “Hard Brexit”, onde cálculos estimam uma
previsão da queda do PIB em 8%, que poderá eventualmente se desenrolar nos
próximos 15 anos.
Os efeitos do resultado no referendo
alastraram-se aos mercados bolsistas mundiais, o que levou a uma descida de 8,62%
no Índice Euro Stoxx, concretizando a maior queda diária em 30 anos. A
primeira consequência imediata do Brexit foi o
aumento da volatilidade dos mercados, que mergulhou a economia britânica num
clima de incerteza, provocando uma depreciação abrupta na cotação da libra
esterlina, que refletiu no
seu pico uma desvalorização de quase 8% face ao euro.
A desvalorização da libra provocará o aumento dos custos de importação
de bens, tendo como principal consequência a subida da inflação. No entanto, é
expectável que a procura por parte do consumidor atinja valores inferiores,
levando as empresas a desempenhar um processo de maior cautela, de forma a
evitar a subida dos preços junto dos clientes. Perante este cenário de retração
das margens de lucro, o setor empreendedor vai sofrer pesadas consequências,
refletindo um crescente aumento da taxa de desemprego, que pode chegar aos 6% a
curto/médio prazo, o que corresponde a um aumento efetivo de 230 mil britânicos
desempregados.
Numa perspetiva mais abrangente, constata-se também que o Brexit irá ter
implicações diretas no aumento das barreiras ao comércio, nos fluxos de capital e na mobilidade de mão-de-obra
afeta à produção e emprego, não só no Reino Unido como em todos os 27 países
integrantes da União Europeia. Isso irá implicar elevadas perdas e custos para
ambas as partes. Numa visão de longo-prazo,
esta reversão da integração irá prejudicar o rendimento, as taxas de
empregabilidade e o produto real.
Desta forma, se o Reino
Unido e a UE optarem por um acordo de livre comércio (ALC) com tarifas baixas
sobre o comércio de bens, estima-se que, em comparação com a situação atual, o
produto real da UE diminuirá em cerca de 0,8%, e o emprego em 0,3%. No longo-prazo,
se forem aplicadas por ambos as normas regidas pela OMC, a queda do produto
real será ainda mais relevante (1,5% no longo-prazo), enquanto que a taxa de
empregabilidade sofrerá perdas na ordem dos 0,7%.
Segundo dados da
Bloomberg Economics, a economia britânica poderia ter somado 153 mil milhões de
€ a mais de 2016 até 2019 num cenário sem o Brexit. Este valor pode ainda
ascender a uma quantia de 63 mil milhões de € até final de 2021, atingindo um
total de 216 mil milhões em 5 anos.
Em 2017, a economia começou a desacelerar, uma vez que a queda da libra condicionou altamente a inflação, deteriorando assim o rendimento real disponível. Em 2018 e em 2019, a crescente incerteza sobre o tipo de saída, nomeadamente se haveria ou não acordo entre o Reino Unido e a União Europeia, fomentou uma maior desaceleração do PIB (poderia ter-se verificado um aumento de 3% do PIB).
Em suma, na minha opinião, estando ela
suportada pelas estatísticas já evidenciadas, a economia do Reino Unido vai
sempre sair prejudicada com o “Brexit”, quando em comparação com a manutenção
do país no seio da União Europeia. A saída da UE representa assim um retrocesso
no setor económico e bancário, que acarreta diversos prejuízos que têm de ser tidos
em conta ao longo das futuras gerações.
A nível social, este Brexit revela-se
fulcral não só no setor político, mas fundamentalmente na mudança de paradigma
e mentalidade das culturas britânicas, eclodindo como o maior ponto de viragem
na História da UE. Desta forma, o Brexit pode marcar o início de um longo
período de desemprego estrutural, revertendo parte dos incríveis aumentos
registados no setor do emprego dos últimos anos.
Para combater estes efeitos devastadores,
políticas ativas para o mercado de trabalho, como a reconversão e a assistência
na recolocação profissional, serão decisivas na realocação e bem-estar dos
trabalhadores. Para isso, torna-se imperativo o apoio aos trabalhadores e não
aos setores ou empregos específicos.
Tiago Miguel Rodrigues Martins
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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