O petróleo é uma das matérias-primas que gera produtos derivados com elevada procura a nível mundial, e é uma grande fonte de rendimento na economia global. Daí ser de elevada importância. Escolhi abordar esta temática pois o ano de 2021 está a ser marcado por uma crise económica sem precedentes causada pela Covid-19, aliada a uma crise na indústria petrolífera. Estamos a assistir a mudanças drásticas no mercado (não só́ petrolífero) nunca antes verificadas e de extrema preocupação.
Consultando os preços do petróleo
antes da pandemia, verificamos que o preço se encontrava a 18$ por barril (17
de abril), sendo que sofreu uma queda abrupta para valores negativos: -37$ a 20
de abril. É a primeira vez, desde a criação do contrato
de entrega futura WTI (West Texas Intermediate), em 1983, que o preço do petróleo
atinge um valor negativo. Verifica-se, assim, uma queda de 66% no 1º trimestre,
queda essa que foi causada por dois fatores interligados.
O primeiro, trata-se do
“problema-mãe”, o grande impulsionador desta crise económica mundial: a
Covid-19. Devido à pandemia, várias empresas tiveram de interromper a sua
atividade, ou seja, dá-se uma redução da procura, o que origina uma pressão
para a redução dos preços. No caso do segundo fator, falamos de uma guerra
comercial entre a Rússia e a Arábia Saudita, por não terem entrado no acordo da
OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). O que se sucedeu foi
que ambos aumentaram a oferta do produto, justamente numa altura de baixa
procura. Ambos os países acabaram depois por ceder à pressão feita por outros países,
como os EUA, e fecharam o acordo da OPEP para um corte de produção petrolífera,
de modo a estabilizar o mercado.
Ora, podemos nomear alguns impactos
na economia causados pelos fatores nomeados anteriormente. O primeiro diz
respeito à redução do preço dos combustíveis. Existem empresas, como é o caso
da Petrobras, que têm adotado uma política de paridade do preço da gasolina em relação
ao mercado internacional. Segundo os relatórios da Petrobras, do dia 14 de
janeiro até ao dia 23 de março de 2020, esta já́ tinha feito uma redução de
aproximadamente 40% no preço da gasolina. Com isto, o primeiro impacto recai
sobre os consumidores, ou seja, haverá́ uma redução nos preços dos combustíveis,
nomeadamente do diesel e da gasolina. Além disso, com esta redução, teremos uma
queda nos preços logísticos de transporte, tanto de mercadorias, como de pessoas,
bens ou serviços. Sem dúvida que esta descida beneficia os consumidores, mas,
por outro lado, prejudica principalmente as empresas no setor energético.
Por outro lado, temos a redução nos preços
dos produtos derivados do petróleo. É importante realçar que não só́ a
gasolina e o diesel são derivadas deste, mas também uma quantidade vasta de
produtos que utilizamos diariamente, tais como pneus, tintas, lubrificantes, entre
outros. Assim sendo, com uma queda do preço destes produtos, as empresas que os
utilizam terão uma queda no Custo Marginal de Produção, em função do preço do petróleo.
Por fim, refiro a redução da
competitividade das energias renováveis. Com uma redução do preço do petróleo
no mercado internacional, os biocombustíveis e as energias renováveis acabam
perder competitividade, pois o seu custo de produção e de exploração acabam
sendo superiores ao preço do petróleo. Com isto, as energias renováveis tendem
a impedir, por exemplo, o desenvolvimento de veículos elétricos.
Atualmente, em Portugal, apesar da
crise pandémica, era de se esperar que os preços dos combustíveis diminuíssem
(assim como o preço do petróleo), mas, por outro lado, estes continuam a subir
exponencialmente. Deste modo, esta subida é mais sentida nas famílias com
rendimentos mais baixos, tornando-se, assim, mais inacessível. No entanto, isto
pode ser justificado pela luta da União Europeia contra o excessivo consumo de
energias não renováveis poluentes, o que implica impostos aplicados pelo
Estado.
A meu ver, estas medidas são, de
certa forma, compreensíveis e deveriam ser apoiadas, dado o panorama climático
no qual estamos inseridos. Assim sendo, deveriam ser criadas estratégias de
informação às pessoas com baixo rendimento e incentivos à compra de viaturas
elétricas, assim como um maior investimento nos transportes públicos, de modo a
tornarem-se mais atrativos e acessíveis a toda a população.
Miguel Vilaça Duarte
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário