segunda-feira, 22 de novembro de 2021

O impacte da Covid-19 no mercado petrolífero

              O petróleo é uma das matérias-primas que gera produtos derivados com elevada procura a nível mundial, e é uma grande fonte de rendimento na economia global. Daí ser de elevada importância. Escolhi abordar esta temática pois o ano de 2021 está a ser marcado por uma crise económica sem precedentes causada pela Covid-19, aliada a uma crise na indústria petrolífera. Estamos a assistir a mudanças drásticas no mercado (não só́ petrolífero) nunca antes verificadas e de extrema preocupação.

Consultando os preços do petróleo antes da pandemia, verificamos que o preço se encontrava a 18$ por barril (17 de abril), sendo que sofreu uma queda abrupta para valores negativos: -37$ a 20 de abril.  É a primeira vez, desde a criação do contrato de entrega futura WTI (West Texas Intermediate), em 1983, que o preço do petróleo atinge um valor negativo. Verifica-se, assim, uma queda de 66% no 1º trimestre, queda essa que foi causada por dois fatores interligados.

O primeiro, trata-se do “problema-mãe”, o grande impulsionador desta crise económica mundial: a Covid-19. Devido à pandemia, várias empresas tiveram de interromper a sua atividade, ou seja, dá-se uma redução da procura, o que origina uma pressão para a redução dos preços. No caso do segundo fator, falamos de uma guerra comercial entre a Rússia e a Arábia Saudita, por não terem entrado no acordo da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). O que se sucedeu foi que ambos aumentaram a oferta do produto, justamente numa altura de baixa procura. Ambos os países acabaram depois por ceder à pressão feita por outros países, como os EUA, e fecharam o acordo da OPEP para um corte de produção petrolífera, de modo a estabilizar o mercado.

Ora, podemos nomear alguns impactos na economia causados pelos fatores nomeados anteriormente. O primeiro diz respeito à redução do preço dos combustíveis. Existem empresas, como é o caso da Petrobras, que têm adotado uma política de paridade do preço da gasolina em relação ao mercado internacional. Segundo os relatórios da Petrobras, do dia 14 de janeiro até ao dia 23 de março de 2020, esta já́ tinha feito uma redução de aproximadamente 40% no preço da gasolina. Com isto, o primeiro impacto recai sobre os consumidores, ou seja, haverá́ uma redução nos preços dos combustíveis, nomeadamente do diesel e da gasolina. Além disso, com esta redução, teremos uma queda nos preços logísticos de transporte, tanto de mercadorias, como de pessoas, bens ou serviços. Sem dúvida que esta descida beneficia os consumidores, mas, por outro lado, prejudica principalmente as empresas no setor energético.

Por outro lado, temos a redução nos preços dos produtos derivados do petróleo. É importante realçar que não só́ a gasolina e o diesel são derivadas deste, mas também uma quantidade vasta de produtos que utilizamos diariamente, tais como pneus, tintas, lubrificantes, entre outros. Assim sendo, com uma queda do preço destes produtos, as empresas que os utilizam terão uma queda no Custo Marginal de Produção, em função do preço do petróleo.

Por fim, refiro a redução da competitividade das energias renováveis. Com uma redução do preço do petróleo no mercado internacional, os biocombustíveis e as energias renováveis acabam perder competitividade, pois o seu custo de produção e de exploração acabam sendo superiores ao preço do petróleo. Com isto, as energias renováveis tendem a impedir, por exemplo, o desenvolvimento de veículos elétricos.

Atualmente, em Portugal, apesar da crise pandémica, era de se esperar que os preços dos combustíveis diminuíssem (assim como o preço do petróleo), mas, por outro lado, estes continuam a subir exponencialmente. Deste modo, esta subida é mais sentida nas famílias com rendimentos mais baixos, tornando-se, assim, mais inacessível. No entanto, isto pode ser justificado pela luta da União Europeia contra o excessivo consumo de energias não renováveis poluentes, o que implica impostos aplicados pelo Estado.

A meu ver, estas medidas são, de certa forma, compreensíveis e deveriam ser apoiadas, dado o panorama climático no qual estamos inseridos. Assim sendo, deveriam ser criadas estratégias de informação às pessoas com baixo rendimento e incentivos à compra de viaturas elétricas, assim como um maior investimento nos transportes públicos, de modo a tornarem-se mais atrativos e acessíveis a toda a população.

 

Miguel Vilaça Duarte

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]   

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