Particularmente desde a crise de 2008, e agora no pós-pandemia, que se tem vindo a dar especial atenção a um setor populacional em específico: jovens que nem estudam, nem trabalham. Os nem-nem, em inglês NEET (Not in Employment, Education or Training), têm vindo a crescer nas últimas décadas ao ponto de chegarem a ser hoje, aproximadamente, um quinto da população jovem mundial.
O problema é, afinal, muito mais complexo do que a típica conjuntura do
mercado de trabalho, colocando em foco questões psicológicas,
sociodemográficas, culturais e económicas. Vários governos pelo mundo fora têm
tentado implementar medidas que contrariem esta tendência, apesar das fortes
contrariedades modernas que o setor mais jovem enfrenta, desde os níveis de
preços atuais no mercado imobiliário ao cada vez mais presente ceticismo moral,
religioso e institucional.
Como tudo o que é complexo, a definição da questão em estudo também não há-de ser simples. Afinal, quem são os NEET? A resposta a esta pergunta pode variar consideravelmente em diferentes países, dado que a idade em que se é “jovem” depende de cultura para cultura: uma criança de 13 anos a trabalhar no Bangladesh não será o mesmo que um “jovem” de 29 anos na Europa, no entanto, podem ser ambos incluídos nessa mesma faixa etária. Para além disso, alguns países começaram a adotar programas de treino / educacionais não com o intuito de os preparar para o futuro mas tendo em vista a diminuição dos valores estatísticos, dificultando a análise e camuflando o problema.
Mas, afinal, porque é que
alguém escolhe nem estudar, nem trabalhar? E será, de facto, uma escolha? Com
cada vez mais interesse acerca deste setor social em específico, cada vez mais
respostas e conclusões se têm conseguido obter também. Entre as razões mais
importantes que levam alguém a permanecer nessa condição, transversalmente ao
longo de vários estudos, estão fatores económicos, mentais e familiares.
A classe económica a que um indivíduo jovem pertence é importante na
quantidade de oportunidades, conhecimentos e facilidade de entrada no mercado
de trabalho não primário, cujo muitos jovens acabam por abandonar, não se
sentindo realizados nem motivados para continuar. O apoio familiar que se
recebe também é influenciador da abordagem que se tem perante a própria vida e a
saúde mental. Este fator, cada vez mais objeto de estudo, tem-se vindo a
revelar nos últimos anos como o de, provavelmente, maior influência nos jovens NEET.
No entanto, há que reconhecer que nenhum terá a totalidade da influência
para escolher não estudar nem trabalhar, sendo uma junção de várias questões
distintas e interligadas.
A saúde mental destes indivíduos, apesar de ser um fator de risco para a
população nem-nem, é também uma consequência de se viver nessa condição. Alguém
que não tem horários estruturados e se sente fracassado perante as expetativas
pessoais e familiares, juntando a falta de apoio familiar e o estigma social
que existe perante alguém que “não quer fazer nada da vida”, levam a que um
jovem sinta uma insatisfação e desmotivação geral por qualquer atividade,
estando mais propício a abusos de substâncias psicoativas, crime organizado,
terrorismo e suicídio. Tendo todas estas consequências sociais sido enunciadas,
há também um grande problema económico: a quantidade de trabalho, como fator
produtivo e recurso escasso que é, que se perde num país.
Sendo assim, é possível verificar que existe ainda muito a fazer em relação
a este problema económico-social. O principal dos problemas será a longevidade
com que alguém permanece nessa condição, agravando sintomas, consequências e
cada vez afastando mais o indivíduo da sociedade. A integração destas pessoas é
urgente, necessária e, porque não, essencial, seja pela via do ensino público
ou com medidas de apoio à empregabilidade jovem. Um país que se esquece da sua
juventude é um país à espera da sua morte.
Rodrigo Oliveira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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