No dia 21 de janeiro deste ano, o Banco do Japão decidiu manter a política expansionista que tem vindo a seguir, não prevendo, portanto, que a inflação supere 1% nos próximos 2 anos, muito aquém do objetivo de 2% fixado pela política nipónica. Contrariamente às tendências praticadas pelas demais economias desenvolvidas, no sentido de os bancos começarem a reduzir ou até mesmo descontinuar as políticas de estímulos, o Banco do Japão (BoJ) pretende vincar a sua estratégia expansionista de compra de dívida pública através do controlo das taxas de juro das obrigações a 10 anos em perto de 0%, bem como das taxas de depósito em -0,1%/ano.
Novidades acerca de novas medidas têm
sido, ultimamente, alvo de discussão, baseadas, por exemplo, no lançamento de
linhas de crédito direcionadas a iniciativas sustentáveis sem incidência de
juros, medida essa que considero bastante arrojada e progressista, posto que
proporciona ao Banco do Japão a conceção de empréstimos aos bancos comerciais
para que ajudem as empresas a financiar projetos no sentido de mitigar os
efeitos das mudanças climáticas. À semelhança, a compra de “bónus verdes”
emitidos por governos estrangeiros por parte do BoJ vem ainda intensificar e
expandir o papel das autoridades monetárias, que deixaram de se cingir apenas
ao controlo da estabilidade de preços.
Este cenário dá aso a que uma questão pertinente
se levante: será a conjuntura político-económica viável? Perante esta evidência
face ao quadro de inflação muito baixa no Japão (o FMI projeta em 2026 atingir
míseros 0,9%), acredito que os bancos japoneses fiquem sem margem de manobra,
de tal forma que serão obrigados a preservarem a política monetária
expansionista nos próximos anos.
O contexto pandémico atual obriga à adoção
de medidas mais rígidas e melhor coordenadas para evitar uma “segunda Grande
Recessão”, num contexto em que o BoJ tem decidido expandir o seu programa de estímulo
monetário, através da compra de títulos estaduais e corporativos, tendo em
vista a possibilidade de tomar ações adicionais para revitalizar a terceira
maior economia do mundo. A grande prioridade referenciada por Kuroda, presidente do BoJ, no contexto da atual fase
de contração da procura e da atividade industrial passa por “apoiar o
financiamento das empresas para que estas possam manter os negócios e os
funcionários”, apontando simultaneamente para a possibilidade de tomar medidas
que ofereçam liquidez ao setor privado.
Aliada às mais recentes decisões levadas
a cabo pelo BoJ, o Governo liderado por Shinzo Abe não quis ficar indiferente a
toda esta conjuntura e criou um pacote económico de emergência sem precedentes,
cujo principal objetivo passa pela ajuda direta a cidadãos e empresas, o que do
meu ponto de vista constitui uma medida bastante oportuna e que deveria ser
tida em conta por mais governos, até mesmo o português, para facilitar a
alavancagem e florescimento da economia. Para a concretização efetiva deste
cenário, torna-se imperativa, a meu ver, a necessidade de uma maior cooperação
entre as medidas aplicadas pelo governo e as autoridades monetárias.
Ainda que sobre um cenário aparentemente
debilitado pelas sequelas da pandemia, o Banco do Japão melhorou a sua previsão
de crescimento para o próximo ano fiscal para uma expansão de 3,9%, face aos
3,6% de há 3 meses, com base na esperança de que o enorme pacote de gastos do
governo vá colmatar os estragos que a pandemia impeliu nos demais setores
económico-sociais. A projeção de uma conjuntura favorável no futuro vai de
encontro às profecias de esperança demonstradas por Kuroda relativamente à
melhoria nas perspetivas de recuperação, através de exportações robustas e da
distribuição, a grande escala, das vacinas.
Uma das medidas que considero bastante
pertinente e que tem sido levada a cabo pelo BoJ diz respeito à compra e venda
de fundos de índice (ETF’s), posto que auxiliam as ferramentas de
flexibilização a tornarem-se mais flexíveis e sustentáveis sob a política de
controlo da curva de juros, dando aso a uma maior eficácia da política de
retardamento monetário.
Em suma, e tendo por base um discurso proferido por Kuroda, considero que o principal foco a curto/médio prazo deve passar por atingir uma meta de inflação de 2% para o Japão, analisada como um padrão global, no sentido de ajudar a estabilizar as moedas das principais economias e contribuir para um melhor funcionamento da atividade económica, ao redor do globo.
Tiago Miguel Rodrigues Martins
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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