sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Estará a política nipónica na vanguarda ou simboliza uma tentativa falhada de inovação?

         No dia 21 de janeiro deste ano, o Banco do Japão decidiu manter a política expansionista que tem vindo a seguir, não prevendo, portanto, que a inflação supere 1% nos próximos 2 anos, muito aquém do objetivo de 2% fixado pela política nipónica. Contrariamente às tendências praticadas pelas demais economias desenvolvidas, no sentido de os bancos começarem a reduzir ou até mesmo descontinuar as políticas de estímulos, o Banco do Japão (BoJ) pretende vincar a sua estratégia expansionista de compra de dívida pública através do controlo das taxas de juro das obrigações a 10 anos em perto de 0%, bem como das taxas de depósito em -0,1%/ano.

Novidades acerca de novas medidas têm sido, ultimamente, alvo de discussão, baseadas, por exemplo, no lançamento de linhas de crédito direcionadas a iniciativas sustentáveis sem incidência de juros, medida essa que considero bastante arrojada e progressista, posto que proporciona ao Banco do Japão a conceção de empréstimos aos bancos comerciais para que ajudem as empresas a financiar projetos no sentido de mitigar os efeitos das mudanças climáticas. À semelhança, a compra de “bónus verdes” emitidos por governos estrangeiros por parte do BoJ vem ainda intensificar e expandir o papel das autoridades monetárias, que deixaram de se cingir apenas ao controlo da estabilidade de preços.

Este cenário dá aso a que uma questão pertinente se levante: será a conjuntura político-económica viável? Perante esta evidência face ao quadro de inflação muito baixa no Japão (o FMI projeta em 2026 atingir míseros 0,9%), acredito que os bancos japoneses fiquem sem margem de manobra, de tal forma que serão obrigados a preservarem a política monetária expansionista nos próximos anos.

O contexto pandémico atual obriga à adoção de medidas mais rígidas e melhor coordenadas para evitar uma “segunda Grande Recessão”, num contexto em que o BoJ tem decidido expandir o seu programa de estímulo monetário, através da compra de títulos estaduais e corporativos, tendo em vista a possibilidade de tomar ações adicionais para revitalizar a terceira maior economia do mundo. A grande prioridade referenciada por Kuroda,  presidente do BoJ, no contexto da atual fase de contração da procura e da atividade industrial passa por “apoiar o financiamento das empresas para que estas possam manter os negócios e os funcionários”, apontando simultaneamente para a possibilidade de tomar medidas que ofereçam liquidez ao setor privado.  

Aliada às mais recentes decisões levadas a cabo pelo BoJ, o Governo liderado por Shinzo Abe não quis ficar indiferente a toda esta conjuntura e criou um pacote económico de emergência sem precedentes, cujo principal objetivo passa pela ajuda direta a cidadãos e empresas, o que do meu ponto de vista constitui uma medida bastante oportuna e que deveria ser tida em conta por mais governos, até mesmo o português, para facilitar a alavancagem e florescimento da economia. Para a concretização efetiva deste cenário, torna-se imperativa, a meu ver, a necessidade de uma maior cooperação entre as medidas aplicadas pelo governo e as autoridades monetárias.  

Ainda que sobre um cenário aparentemente debilitado pelas sequelas da pandemia, o Banco do Japão melhorou a sua previsão de crescimento para o próximo ano fiscal para uma expansão de 3,9%, face aos 3,6% de há 3 meses, com base na esperança de que o enorme pacote de gastos do governo vá colmatar os estragos que a pandemia impeliu nos demais setores económico-sociais. A projeção de uma conjuntura favorável no futuro vai de encontro às profecias de esperança demonstradas por Kuroda relativamente à melhoria nas perspetivas de recuperação, através de exportações robustas e da distribuição, a grande escala, das vacinas.

Uma das medidas que considero bastante pertinente e que tem sido levada a cabo pelo BoJ diz respeito à compra e venda de fundos de índice (ETF’s), posto que auxiliam as ferramentas de flexibilização a tornarem-se mais flexíveis e sustentáveis sob a política de controlo da curva de juros, dando aso a uma maior eficácia da política de retardamento monetário.

Em suma, e tendo por base um discurso proferido por Kuroda, considero que o principal foco a curto/médio prazo deve passar por atingir uma meta de inflação de 2% para o Japão, analisada como um padrão global, no sentido de ajudar a estabilizar as moedas das principais economias e contribuir para um melhor funcionamento da atividade económica, ao redor do globo.


Tiago Miguel Rodrigues Martins

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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