Depois de muito tempo do mundo “de pernas para o ar” graças a uma crise sanitária, que rapidamente se tornou económica, social e política, quais foram, então, os efeitos da Covid-19 no mercado imobiliário do sul da Europa?
Em relação à evolução do
preço médio unitário (€/m2) em Portugal, Espanha e Itália durante 2020,
concluiu-se que as localidades costeiras têm, normalmente, preços unitários
superiores. Contudo, até ao momento, a pandemia não teria ainda influenciado de
forma significativa os preços em nenhum destes três países. As zonas mais
dependentes do turismo sofreram mais com o impacto da pandemia, mas mesmo
nestas os preços não desceram, como muitos esperavam no início de março do ano
passado.
Em relação à procura,
sabemos que houve uma queda considerável na altura do primeiro confinamento,
mas apesar desta queda, até maio de 2020, os três países recuperaram, tendo até
Espanha e Itália apresentado valores superiores ao pré-pandemia. Portugal
também recuperou, de forma mais lenta que os outros dois países, uma vez que se
fez sentir uma tendência decrescente respetiva ao período da segunda vaga da
Covid.
No que toca ao mercado de
arrendamento, Portugal atingiu o máximo de procura no início de 2020, mas com o
confinamento esta diminuiu significativamente, não tendo recuperado face aos
valores do início de 2019. Espanha e Itália recuperaram no verão de 2020, mas
apresentaram uma tendência decrescente em Agosto, principalmente causada pela
falta de turismo.
Nas grandes cidades
portuguesas, como Porto e Lisboa, o preço unitário continuou estável, sendo que,
contrariamente à descida esperada, até subiram ligeiramente devido à redução da
oferta de imóveis no mercado causada pela pandemia.
Ao contrário do que
aconteceu em Espanha e Itália, as propriedades de arrendamento de curto prazo
viradas para o turismo não entraram para o mercado de arrendamento a longo-prazo,
o que fez com que o stock de arrendamento não aumentasse como esperado em Portugal
devido à falta de turismo.
Nos três países, os consumidores
começaram a dar preferência a espaços exteriores, isto é, imóveis com terraços,
jardins e/ou piscinas, tanto no mercado de venda como no mercado de
arrendamento. A procura destes espaços deve-se ao confinamento e à
obrigatoriedade de passar mais tempo fechados em casa. Posto isto, a procura destes
imóveis aumentou exponencialmente, e a procura de espaços mais pequenos e
fechados desceu bastante.
Concluímos então que os
efeitos da Covid-19 no mercado imobiliário passaram por uma ligeira descida dos
preços nas zonas dependentes do turismo, mas no geral não houve grande
alteração do preço unitário em nenhum dos três países. O mesmo aconteceu com a
procura a longo-prazo, uma vez que apesar de uma grande queda no período do
primeiro confinamento, os países acabaram por recuperar ou até apresentar
valores superiores (caso da Espanha e Itália). Ou seja, o maior impacto da
Covid-19 no mercado imobiliário acabou por ser nas preferências dos
consumidores, que passou a ser virada para os espaços grandes e exteriores, desvalorizando
os espaços pequenos e fechados.
António
Vieira Trabulo
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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