Além de colocarem em
risco a biodiversidade planetária impactando o equilíbrio ecológico dos
ecossistemas, as mudanças climáticas ameaçam também a estabilidade económica
mundial, afetando a vida de milhares de pessoas. Uma vez que o funcionamento da
economia depende da manutenção do equilíbrio climático, uma pequena alteração
neste gerará consequências graves a curto, médio e longo prazos.
De
acordo com um relatório baseado na investigação do Swiss Re Institute e
divulgado este ano pela organização não governamental Oxfam, as nações do grupo
de países mais industrializados do mundo (intitulado de G7 e constituído
pelo Reino Unido, EUA, Japão, Canadá, França, Alemanha e Itália) podem perder,
em média, 8,5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) por ano até 2050, ou seja, o
dobro dos 4,2% atingidos pelas perdas económicas geradas pela covid-19, isto se os governos não
conseguirem lidar com o aumento do aquecimento global.
A economia do Reino Unido, por
exemplo, pode perder 6,5% anualmente até 2050, de acordo com as projeções e
políticas atuais, comparativamente aos 2,4% caso os objetivos do acordo
climático de Paris fossem atingidos.
Jerome Haegeli, economista-chefe do
grupo Swiss Re, considera que “as alterações climáticas são o risco número um
de longo-prazo para a economia global, e ficar onde estamos não é uma opção –
precisamos de mais progressos por parte do G7”. Com esta afirmação, Jerome
pretende realçar a importância da redução de emissões de CO2, mas principalmente
que os países desenvolvidos ajudem os países em desenvolvimento a lidarem com esta
crise climática.
Contudo,
a ajuda internacional tem sido o principal obstáculo para muitos, e o sucesso
da COP26 (órgão de tomada de decisões da Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Alterações Climáticas) dependerá, em grande parte, do Reino Unido
conseguir persuadir outras nações do G7 a apresentarem ofertas muito maiores de
assistência financeira aos países em desenvolvimento, de forma a ajudarem estes
a reduzirem as suas emissões e a lidar com os impactos da degradação do clima.
Segundo
Haegeli, a distribuição de vacinas contra a covid-19 é, também, uma forma de
ajudar os países mais pobres, “já que as suas economias foram duramente
atingidas pela pandemia e precisariam de ajuda para se recuperar num caminho
verde, em vez de aumentar o uso dos combustíveis fósseis”.
Antes
da COP26, que irá começar ainda este mês, o Reino Unido pediu a todos os países
que apresentassem medidas mais duras sobre a redução das emissões de carbono, de
maneira a limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC. O problema é que esse limite
está cada vez mais ameaçado uma vez que a emissão de gases de efeito estufa deverá
aumentar drasticamente este ano com a recuperação da recessão da covid-19 e com
o aumento do uso de carvão.
O
primeiro Registro de Ameaças Ecológicas (ETR), do Instituto de Economia e Paz,
alertou também que a crise climática pode levar a novas tendências de migração,
uma vez que certos países são confrontados com desastres naturais que põem em
risco a sua população, ou por escassez de alimentos e água, levando ao deslocamento
de mais de 1,2 biliões de pessoas até 2050, se a crise assim se mantiver. Além
disso, recentemente, o Banco Mundial revelou que os impactos causados pela
mudança climática poderão levar mais 100 milhões de pessoas à pobreza extrema
até 2030, devido ao aquecimento global.
Assim, e segundo a Swiss Re Institute, as políticas e as
atuais promessas dos governos para reduzir as emissões de gases de efeito
estufa ainda são inadequadas para cumprir as metas do acordo de Paris, ou seja,
se assim se mantiverem por muito mais tempo, as mudanças climáticas terão maior
impacto na economia global do que a crise covid-19.
Ângela Ferreira
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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