sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A problemática do endividamento das famílias em Portugal

O endividamento das famílias é um problema cada vez mais evidente na sociedade portuguesa. Constata-se este fenómeno a partir da segunda metade da década de 90, tendo-se verificado um aumento per capita do consumo associado a uma diminuição da poupança. Em sequência, o endividamento das famílias em termos agregados continuou a crescer, atingindo um valor máximo de cerca de 130% do rendimento disponível em 2009, sendo um dos mais elevados no contexto da área euro.
Existem vários fatores que explicam esse incremento, nomeadamente a adesão à zona euro, que proporcionou uma aproximação significativa da adoção de um elevado padrão de vida das famílias portuguesas face à média europeia, originando uma era de estabilidade de preços e de juros nominais e reais historicamente baixos.
As facilidades no acesso ao crédito, potenciado pela liberalização e desregulamentação do sistema bancário português e por uma forte competição entre a oferta, desenvolveu na população portuguesa o seu lado mais consumista. A partir de então, criaram-se novos hábitos, com um padrão de qualidade e estilos de vida os quais não estariam em condições de manter com o rendimento auferido. Coloca-se aqui a questão do sobre-endividamento, que ocorre quando os consumidores perdem a capacidade e condições de pagamento das suas dívidas.
A variação do aumento da taxa de endividamento chegou a atingir os 15% entre 1998 e 1999, sendo menor nos anos mais recentes. O crédito à habitação representa a esmagadora maioria do endividamento das famílias portuguesas, sendo aproximadamente 71% do endividamento total das famílias.
De acordo com o Diário Económico, baseado em dados do Banco de Portugal, os cartões de crédito continuam a ser o principal meio de endividamento, sendo estes os responsáveis por 41% dos processos de incumprimento iniciados em 2014. Este é o segmento de crédito mais caro do mercado, com a taxa de juro média dos contratos de descobertos bancários a fixar-se em 15,5.
Em face do exposto, podemos concluir que a população portuguesa é convidada a comprar dinheiro em função de um poderoso marketing, que tenta passar para cada individuo a possibilidade de usufruir antecipadamente de um bem, o que o leva a um impulso instintivo como resposta emocional. Existem fatores de ordem cultural e social que, aliados a uma ausência de literacia económico-financeira, conduzem a uma má gestão pessoal e familiar, onde o bom-senso não se impõe como o mais necessário.
Estamos a viver uma era dos mass media em que a imagem pessoal é extremamente valorizada e a projeção nas redes sociais são indicadores que constroem cognições de necessidades que conduzem a perceções precipitadas perante a oferta dos créditos.

Nair Mendes 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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