quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Tecido empresarial português - abundância de microempresas

Microempresa é uma empresa de pequena dimensão que emprega menos de 10 trabalhadores e cujo volume de vendas não ultrapassa os 2 milhões de euros.
Desde sempre, Portugal foi um país com um elevado número de micro, pequenas e médias empresas e esta situação ainda é bem atual: “As micro, pequenas e médias empresas eram em 2008 responsáveis por quase três quartos dos empregados no sector privado não financeiro em Portugal e mais de metade do volume de negócios. Entre todas as 350 mil empresas portuguesas, mais de 85% empregam menos de 10 trabalhadores. Em 2008, existiam 349756 micro, pequenas e médias empresas em Portugal, representando 99,7% das sociedades do sector não financeiro. Entre este universo, as microempresas (que empregam menos de 10 trabalhadores) predominam, representando 86% do total das PME.” (fonte: jornal de negócios)
Parte destas microempresas são o “ganha-pão” do agregado familiar e os funcionários geralmente são os familiares diretos. Nas pequenas e médias empresas deixamos de ter tantas empresas “familiares” e começamos a ter uma maior produção e um maior volume de negócios, no entanto nada tem a ver com o volume de negócios de grandes empresas tanto no global da empresa como per capita. “O volume de negócios per capita nas PME registou um valor de aproximadamente de 93 mil euros por trabalhador, em oposição aos cerca de 178 mil euros observados nas grandes empresas.” (fonte: jornal de negócios).
No ano passado, verificou-se um maior aumento no emprego por parte das grandes empresas do que nas PME. Em relação à criação de riqueza e de emprego, a situação é diferente, pois o aumento da faturação ou volume de negócios das PME cifrou-se nos 3,4% enquanto que o aumento nas grandes empresas ficou-se pelos 0,8% (dados do INE).
Na região Norte, a indústria têxtil sempre foi a grande dinamizadora da economia desde o início do século passado até, mais ou menos, aos anos 80, gerando emprego para a maioria da população aí residente. A partir dessa altura verificou-se uma enorme crise neste setor derivado da concorrência vinda, principalmente, dos países Asiáticos e outros países emergentes, nomeadamente países Sul-Americanos, o que acabou por nos afetar pois esta atividade era um dos pilares da nossa economia.
Com esta quebra enorme da atividade do setor têxtil, aliada a um surto de desemprego daí decorrente, bem visível na zona do Vale do Ave, houve a necessidade de nos adaptarmos às novas exigências do mercado global (ao qual não estavamos minimamente “ligados”), despoletando a criação de microempresas que diversificassem os seus produtos e reintegrassem estes trabalhadores que tinham acabado de ficar desempregados. O governo teve um papel muito importante ao aplicar políticas de incentivo à criação de emprego, o que também levou à proliferação de novas microempresas.
Uma forma de as microempresas crescerem é terem ajuda por parte de grandes empresas, tanto a nível financeiro como organizacional, pois uma coisa é organizar um pequeno armazém, gerir menos de 10 pessoas e ter apenas alguns clientes e fornecedores de pequenas quantidades, outra coisa é ter vários armazéns, mais de 250 trabalhadores e ter vários clientes e fornecedores, lidando com quantidades enormes. Se houver uma ajuda por parte das grandes empresas, a transição de microempresa para pequena ou média empresa torna-se mais fácil e no futuro o passo para grande empresa também será mais acessível. O facto de muitas grandes empresas serem internacionais também pode ajudar nas relações entre as microempresas portuguesas e empresas estrangeiras devido aos contactos que as grandes empresas internacionais têm.
Em jeito de conclusão, penso que, em Portugal, o facto de ainda não haver uma estratégia de fundo a nível nacional de médio/longo prazo no que respeita a um programa de reestruturação do nosso tecido empresarial e industrial faz com que estejamos sempre dependentes de fatores externos.

Paulo Alves

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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