quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Emigração – um fenómeno plurifacetado

          A emigração portuguesa tem aumentado de ano para ano, no decorrer do século XXI. Trata-se, essencialmente, de fluxos migratórios caracterizados pela fuga de mão-de-obra jovem e qualificada, que “partem com frustração de sentir que o país não lhes dá nenhuma oportunidade”, afirma José Soeiro.
Segundo dados do Pordata, o número de emigrantes permanentes têm vindo a aumentar: em 2008, saíram do país 20357 emigrantes permanentes, e em 2014 o número subiu para 49572. Trata-se de um problema que acarreta imensa inquietação, pois significa que cada vez mais pessoas que emigram não voltam para o seu país de origem. A situação ainda se torna mais preocupante quando se verifica estes valores por grupos etários: as pessoas com idades entre os 20 e os 29 anos são as que mais emigram, contribuindo deste modo para o envelhecimento da população.
Levanta-se, então, uma questão controversa, dado que o estado português aposta enormes quantias monetárias na educação, oferecendo ferramentas de trabalho à sua população, porém, na altura dos recém-licenciados entrarem no mercado de trabalho, não existem condições para tal, uma vez que encontram-se num cenário trágico, com uma elevada taxa de desemprego (que só não é maior devido a formações profissionais dos centros de emprego, que servem, no fundo, para “camuflar” esta taxa). Sendo assim são obrigados a abandonar o país.
Ora, é certo que há um esforço significativo na formação dos jovens; mas, também, há um certo desleixo na criação de postos de trabalho para que as pessoas que usufruíram do privilégio de prosseguir estudos possam depois retribuir ao país o esforço efetuado na sua formação, contribuindo para a criação da riqueza interna. Assim, subentende-se que Portugal faz um investimento sem grande retorno nacional, dado que esse investimento é aproveitado, sobretudo, pelo resto do mundo.
Constituirá, então, o elevado número de licenciados um problema, como muitas pessoas têm vindo a afirmar? A mim não me parece. A meu ver é sempre bom ter uma população instruída, que tenha ferramentas para progredir na carreira. Precisamos de pessoas que sintam que podem, de algum modo, contribuir para o desenvolvimento do seu país.
Há ainda quem diga que não precisamos de tantos licenciados, para um país tão pequeno. Há uns anos atrás, eu pensava da mesma maneira. No entanto, hoje tenho uma visão diferente. O mercado não se restringe ao mercado português. Devemos procurar alcançar a vantagem competitiva sobre os nossos concorrentes internacionais. Talvez até cooperar com alguns deles. O que não será, assim, tão estranho como parece à primeira vista. Na verdade, já há quem o faça. A Apple e a Samsung são concorrentes diretos e já o fizeram.
 Acredito que será muito mais fácil sair da crise com pessoas motivadas; pessoas que se sintam realizadas; pessoas que tenham reais e efetivas oportunidades. A solução para sair da presente crise pode passar por incentivar o investimento nacional e internacional, de modo a gerar mais postos de trabalho, e isto poderá ser feito não só através de incentivos fiscais mas, também, com medidas como a redução da burocracia e a criação de mecanismos que permitam acelerar processos judiciais, construindo, assim, um alicerce fundamental nas decisões de investimento de longo prazo. Tal que permite assegurar o cumprimento de contratos. A burocracia e os mecanismos de processos judiciais são variáveis determinantes, sobretudo para investidores internacionais que à partida serão mais relutantes a investir em países onde haja muita burocracia e onde os processos judiciais se prolongam durante anos.
Quem entra pela primeira vez no mercado de trabalho precisa da ajuda de trabalhadores experientes, esta que por vezes é recusada devido ao medo de serem dispensados no futuro. Ensinar bem pode então pôr o posto de trabalho em causa. Isso permite afirmar que existe muito individualismo que elimina oportunidades aos mais jovens. Quanto a este problema, cabe às próprias empresas encontrar soluções que visem o trabalho de equipa e a cooperação entre os seus colaboradores.
A medida do alargamento da idade da reforma também pode ter sido um fator responsável pela saída de vários portugueses para o exterior. Esta medida teve como objetivo menos pensões e reformas para pagar, contudo tem um efeito profundamente negativo, uma vez que a mão-de-obra mais velha trabalha mais anos, criando assim barreiras ao primeiro emprego de jovens que acabam por o procurar fora do país.
Em suma, a emigração é um tema complexo que se deve à crise, à burocracia, à pouca eficácia dos processos judiciais, às medidas insuficientes de apoio a e criação a novas empresas, e ao individualismo no mercado de trabalho. Combater este problema ajudará a manter no país aqueles em quem o estado fez um grande investimento.

Diogo Meneses 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: