sábado, 8 de outubro de 2016

Afinal Bruxelas quer ver o défice corrigido ou estará a agravá-lo?

A União Económica e Monetária da Europa assenta num conjunto de regras, a maioria das quais aplicáveis a todos os Estados-Membros da UE. Contudo, há regras específicas que se aplicam exclusivamente aos países que têm como moeda o euro. Para assegurar umas finanças públicas dos Estados-Membros sólidas, as regras estabelecem que o total da dívida pública de qualquer país não deverá exceder 60% do PIB, e que, em qualquer ano, o défice orçamental do Estado não deverá ultrapassar 3% do PIB.
Em 2011, numa carta conjunta enviada ao Presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, Nicolas Sarkozy, apelaram à suspensão dos fundos estruturais aos países da zona euro que não reduzam os seus défices.
Segundo dados do INE, o défice orçamental português ficou nos 4,4% do PIB no ano de 2015. Como tal, o Parlamento Europeu e a Comissão arrancaram no passado dia 3 de Outubro com as conversações sobre uma eventual suspensão dos fundos estruturais a Portugal e Espanha, que também se encontra numa situação de défices excessivos.
Por não cumprirem os objetivos com que se comprometeram em Bruxelas, os países da Península Ibérica enfrentam um cenário bastante negativo. Por um lado, podiam ser aplicadas multas financeiras, por outro, a suspensão parcial de novos fundos europeus e obrigatoriamente um acompanhamento mais rígido das contas públicas por parte da Comissão Europeia.
Em Julho, a Comissão considerou que Portugal, tal como Espanha, não tinham tomado as medidas necessárias para corrigir os respetivos défices das contas públicas para que não excedessem os 3%. Coube, portanto, ao Governo atual português apresentar a argumentação contra a aplicação de sanções, que incluía a garantia de que a execução orçamental deste ano e o OE 2017 vão correr de acordo com o previsto. Posteriormente, a Comissão Europeia decidiu recomendar a suspensão de multas a Portugal e Espanha. No entanto, o processo de congelamento parcial de fundos mantém-se automaticamente.
Mais recentemente, durante o mês de setembro, o Governo de Costa, apanhado nesta armadilha de défices excessivos, causado em grande parte pela queda do BANIF (segundo o INE), escreveu aos eurodeputados das diversas comissões parlamentares. Chamou-lhes a atenção para o efeito negativo de uma suspensão de fundos estruturais. Deputados de diferentes grupos políticos parecem concordar com António Costa.
A discussão sobre o corte dos fundos estruturais já se vem arrastando há mais de cinco meses e esta vem acompanhada de um clima de desconfiança dos cidadãos e instabilidade nas expectativas de investimento, prejudiciais no combate constante do governo português ao défice. Fernando Ruas, do PSD, Marisa Matias, do BE, e Pedro Silva Pereira, do PS, concordam que suspender verbas, neste momento, destabiliza a própria trajetória de correção do défice. Marisa Matias vai mais longe e culpa Bruxelas de querer “manter deliberadamente os países em causa numa situação de vulnerabilidade”.  
Afinal, Bruxelas deseja “incentivar e evitar incentivos erróneos para que os países atuem e façam o que têm de fazer” (declaração do Ministro das Finanças alemão) ou está a ajudar a agravá-lo?

Ana Luísa Lopes Correia

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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