terça-feira, 25 de outubro de 2016

O interior também é Portugal

É sabido que as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto ocupam 5% da área total, mas acolhem 62% das pessoas em idade activa e quase 50% do tecido empresarial. Ora, a necessidade de contrariar esta situação urge cada vez mais e a solução pode estar no Programa Nacional para a Coesão Territorial, que foi, recentemente, aprovado pelo Conselho de Ministros.
A valorização deste território que se encontra mais perto dos mercados europeus é uma prioridade do Governo. Este Programa foi feito em consonância e diálogo com autarquias e demais parceiros locais, como as universidades, afirmou Eduardo Cabrita em conferência de imprensa após a reunião do Conselho de Ministros, em Lisboa.
Esta é a primeira vez que um governo define uma estratégia nacional para o desenvolvimento do interior, uma vez que o plano abrange todas as áreas de governação com o objetivo de mudar a imagem do interior, valorizar os recursos endógenos, dar benefícios fiscais às empresas, apostar numa nova relação transfronteiriça e na reabertura de parte dos serviços que fecharam nos últimos cinco anos.
Este programa não pretende o “regresso a qualquer passado”, com a reabertura de serviços anteriormente encerrados. Está antes virado para o futuro. Nos últimos anos fecharam, no interior,  1027 escolas e 50 extensões de saúde, no entanto, o plano não será reabri-las, mas sim estudar o impacto orçamental e, assim, pensar em turmas mais pequenas e no aumento dos incentivos para fixar médicos nos territórios carenciados.
E por falar em passado, é certo que ao longo dos anos o objetivo foi sempre o mesmo: combater o despovoamento e tornar o interior mais ativo. Deste modo, ouvimos sucessivos governos anunciar medidas de dinamização económica e social para zonas mais desfavorecidas, tal como aconteceu com o Programa de Apoio Específico à Deslocalização Industrial Regional (PAEDIR), promovido por António Guterres. Não há conhecimento do benefício que estes planos trouxeram ao nosso país, apesar de ser certo que sem eles o cenário que atualmente se verifica seria muito pior.
Focando novamente no presente, o documento aprovado apresenta grandes diferenças em relação aos anteriores, o que perspetiva um futuro mais risonho. É um plano que nasce de seis meses de trabalho de preparação com os sectores mais próximos. É uma proposta de abordagem integrada, entre turismo, agricultura, educação, empresas, entre outros sectores, e promete uma monitorização e uma avaliação do programa.
Desta forma, espera-se um cenário positivo com um território interior  “mais coeso, mais competitivo, mais sustentável, mais conectado, mais colaborativo” para, assim, tornar Portugal num país mais descentralizado. Basta, para isso, contar com o financiamento necessário (sobre o qual nada é dito) e passar da estratégia à ação.

Beatriz Couto Guedes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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