Já
há dois anos que a União Europeia impõe sansões económicas à Rússia por atentar
contra a soberania da Ucrânia ao intervir no conflito da Crimeia. "Esta é a
prova de que os governos da UE estão preparados para fazer o que for preciso
para mostrar à Rússia as consequências de seus atos", afirmava José Manuel
Barroso.
Uma das primeiras medidas
tomadas pela UE e pelos EUA foi o congelamento de bens e a proibição de viagem
de 146 pessoas, bem como de 37 entidades que eram responsáveis por comprometer
a integridade e a independência da Ucrânia. As medidas de cariz económica
consistiam em limitar o acesso aos mercados de capitais primário e secundário
da UE às principais empresas russas do setor da energia e no domínio da defesa;
proibição de importação e exportação de armas; restinguir o acesso da Rússia a
determinados serviços e tecnologias sensíveis que possam ser utilizados na
produção e exploração de petróleo. Esta última medida foi uma das mais duras
pois, sendo a Rússia um dos maiores exportadores de petróleo, dependia
fortemente deste setor energético.
Ironicamente, as sanções
não tocaram o gás natural: para a maioria dos países europeus, o gás era a
energia mais utilizada. Para além das medidas já mencionadas, o Banco Europeu
de Investimentos e os estados-membros da UE suspenderam todos os investimentos na
Federação Russa.
A Rússia, embora sem
resultado, negou todas as acusações que lhe foram feitas. Usou o princípio de
reciprocidade nas relações internacionais e impôs embargo aos produtos
alimentares europeus (produtos agrícolas, carnes, peixe, laticínios). Ao mesmo
tempo, anunciou a lista de deputados do congresso americano que passaram a ter entrada
proibida no território russo. O porta-voz do presidente Putin afirmou que “a implementação
de novas sanções aplicadas pelos EUA e UE não contribuem para o desenvolvimento
de uma relação política baseada na paz”.
O primeiro ano com as
sanções foi de facto complicado para a economia russa: a atividade industrial
parou, houve a diminuição da procura de serviços devido a uma inflação de 15%, e
uma recessão do PIB em cerca de 1/6 devido à baixa do preço do petróleo. Era
necessário encontrar soluções eficazes através do desenvolvimento do mercado e
indústrias nacionais: fizeram-se investimentos no setor agrícola e nas
manufaturas.
Ao fim de 16 meses desde
a imposição das primeiras sanções, embora o PIB não tenha crescido muito, a Rússia
consegui estabilizar a inflação e começou a explorar novos mercados. Passou a
importar cerca de 39% da produção de carne do Brasil e 16,4% da produção da
China. Por outro lado, também, cerca de 60% das exportações de armamento vão
para a Ásia (China e Índia). A nível da ciência, fez-se a aposta no
desenvolvimento de produtos de alta tecnologia. Desta forma, no final de 2015, o
lucro das empresas aumentou em cerca de 43% e as ações dos bancos russos
passaram a subir.
A UE não estava à espera
deste resultado. Enquanto a Rússia estava a superar os obstáculos das sanções,
os mercados europeus enfrentavam descontentamentos em vários setores de
atividade. A Rússia era um dos maiores importadores da Alemanha na área de
engenharia. No 3º trimestre de 2015, as exportações para a Rússia diminuíram em
27%, o que corresponde a uma perda de 3,58 milhões de euros. Os agricultores
franceses manifestaram-se contra a imposição das sanções à Rússia para a qual,
antes, exportavam a maior parte da produção de produtos de grãos; agora a
produção abrandou pois não existe mercado importador suficiente. Para além
disso, as multinacionais francesas, britânicas e alemãs continuam a enfrentar
dificuldades na área das vendas pelo mesmo motivo.
Enquanto isso, a
vice-presidente do Centro Político de Estudos Estratégicos de Washington afirma
que não vale a pena insistir na ideia de que a Rússia enfraqueceu com as
sanções. O Ministro das Relações Internacionais da Alemanha reconhece que a
Europa deve parar a guerra das sanções contra a Rússia. Os maiores bancos
americanos também confirmaram que os lucros que as empresas russas têm obtido
são bastante significativos e contribuem de uma forma positiva para a
estabilização da economia. Os media
americanos concluem que a Rússia, agora, tem a maior quota parte no mercado do
armamento asiático.
Os EUA e a UE deixaram
bem claro que “a duração das sanções está diretamente ligada à completa
aplicação dos Acordos de Minsk e ao respeito pela soberania da Ucrânia. As
sanções serão levantadas quando a Rússia cumprir esses compromissos”. O que se
observou é que, de facto, as sanções foram um fator que impulsionou o
desenvolvimento da economia russa e o crescimento do mercado, enquanto a Europa
enfrenta dificuldades económico-sociais. E, independentemente da opinião dos
vários políticos e economistas que afirmam que é necessário travar esta “Guerra
Fria”, é decidido prolongar o período das sanções até março de 2017 (segundo as
últimas notícias).
Marta Dainovich
[artigo de opinião produzido no âmbito da
unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de
Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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