sábado, 15 de outubro de 2016

Sanções: afinal qual era o objetivo?

Já há dois anos que a União Europeia impõe sansões económicas à Rússia por atentar contra a soberania da Ucrânia ao intervir no conflito da Crimeia. "Esta é a prova de que os governos da UE estão preparados para fazer o que for preciso para mostrar à Rússia as consequências de seus atos", afirmava José Manuel Barroso.
Uma das primeiras medidas tomadas pela UE e pelos EUA foi o congelamento de bens e a proibição de viagem de 146 pessoas, bem como de 37 entidades que eram responsáveis por comprometer a integridade e a independência da Ucrânia. As medidas de cariz económica consistiam em limitar o acesso aos mercados de capitais primário e secundário da UE às principais empresas russas do setor da energia e no domínio da defesa; proibição de importação e exportação de armas; restinguir o acesso da Rússia a determinados serviços e tecnologias sensíveis que possam ser utilizados na produção e exploração de petróleo. Esta última medida foi uma das mais duras pois, sendo a Rússia um dos maiores exportadores de petróleo, dependia fortemente deste setor energético.
Ironicamente, as sanções não tocaram o gás natural: para a maioria dos países europeus, o gás era a energia mais utilizada. Para além das medidas já mencionadas, o Banco Europeu de Investimentos e os estados-membros da UE suspenderam todos os investimentos na Federação Russa.
A Rússia, embora sem resultado, negou todas as acusações que lhe foram feitas. Usou o princípio de reciprocidade nas relações internacionais e impôs embargo aos produtos alimentares europeus (produtos agrícolas, carnes, peixe, laticínios). Ao mesmo tempo, anunciou a lista de deputados do congresso americano que passaram a ter entrada proibida no território russo. O porta-voz do presidente Putin afirmou que “a implementação de novas sanções aplicadas pelos EUA e UE não contribuem para o desenvolvimento de uma relação política baseada na paz”.
O primeiro ano com as sanções foi de facto complicado para a economia russa: a atividade industrial parou, houve a diminuição da procura de serviços devido a uma inflação de 15%, e uma recessão do PIB em cerca de 1/6 devido à baixa do preço do petróleo. Era necessário encontrar soluções eficazes através do desenvolvimento do mercado e indústrias nacionais: fizeram-se investimentos no setor agrícola e nas manufaturas.
Ao fim de 16 meses desde a imposição das primeiras sanções, embora o PIB não tenha crescido muito, a Rússia consegui estabilizar a inflação e começou a explorar novos mercados. Passou a importar cerca de 39% da produção de carne do Brasil e 16,4% da produção da China. Por outro lado, também, cerca de 60% das exportações de armamento vão para a Ásia (China e Índia). A nível da ciência, fez-se a aposta no desenvolvimento de produtos de alta tecnologia. Desta forma, no final de 2015, o lucro das empresas aumentou em cerca de 43% e as ações dos bancos russos passaram a subir.
A UE não estava à espera deste resultado. Enquanto a Rússia estava a superar os obstáculos das sanções, os mercados europeus enfrentavam descontentamentos em vários setores de atividade. A Rússia era um dos maiores importadores da Alemanha na área de engenharia. No 3º trimestre de 2015, as exportações para a Rússia diminuíram em 27%, o que corresponde a uma perda de 3,58 milhões de euros. Os agricultores franceses manifestaram-se contra a imposição das sanções à Rússia para a qual, antes, exportavam a maior parte da produção de produtos de grãos; agora a produção abrandou pois não existe mercado importador suficiente. Para além disso, as multinacionais francesas, britânicas e alemãs continuam a enfrentar dificuldades na área das vendas pelo mesmo motivo.
Enquanto isso, a vice-presidente do Centro Político de Estudos Estratégicos de Washington afirma que não vale a pena insistir na ideia de que a Rússia enfraqueceu com as sanções. O Ministro das Relações Internacionais da Alemanha reconhece que a Europa deve parar a guerra das sanções contra a Rússia. Os maiores bancos americanos também confirmaram que os lucros que as empresas russas têm obtido são bastante significativos e contribuem de uma forma positiva para a estabilização da economia. Os media americanos concluem que a Rússia, agora, tem a maior quota parte no mercado do armamento asiático.
Os EUA e a UE deixaram bem claro que “a duração das sanções está diretamente ligada à completa aplicação dos Acordos de Minsk e ao respeito pela soberania da Ucrânia. As sanções serão levantadas quando a Rússia cumprir esses compromissos”. O que se observou é que, de facto, as sanções foram um fator que impulsionou o desenvolvimento da economia russa e o crescimento do mercado, enquanto a Europa enfrenta dificuldades económico-sociais. E, independentemente da opinião dos vários políticos e economistas que afirmam que é necessário travar esta “Guerra Fria”, é decidido prolongar o período das sanções até março de 2017 (segundo as últimas notícias).

Marta Dainovich

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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