quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Seremos heróis ou deixaremos morrer o sonho da Europa?

A entrada de refugiados na Europa é um tema que, para além de atual e de crescente importância, urge de cada um de nós ter uma opinião. A atual crise dos refugiados não é só a maior crise humanitária na Europa desde a II Guerra Mundial, mas um grito para a união e definição da Europa como uma pátria fraterna e acolhedora.
Mas afinal o que significa acolher refugiados? Será partilhar ou dar? E então será que entre os refugiados vêm terroristas preparados para causar a desgraça na Europa? Será que vão tentar “islamizar” a Europa como em tempos os cristãos tentaram com as cruzadas? Todas estas questões são centrais para a compreensão deste debate e para a consciencialização da melhor resposta possível que, no meu entendimento, é dizer: “bem-vindos à Europa”. Em caso de referendo, eu direi sim e tu?
Acolher os refugiados é dar-lhes condições para que possam ter uma vida estável sem que, como no seu país de origem, corram perigo de vida, sejam perseguidos ou maltratados por outros cidadãos ou por forças estatais. É importante frisar que este acolhimento é imprescindível, apesar dos riscos que possa acartar se queremos viver numa Europa com consciência moral coletiva. O risco da entrada de terroristas na Europa deve ser interpretado como o mesmo risco atribuído à permissão de movimento livre de pessoas dentro da União Europeia. Um cidadão naturalizado num país pertencente à União Europeia pode ser um terrorista assim como um cidadão nacional. Haverá sempre o risco de alguém com intenções negativas entrar na Europa pois vivemos num mundo globalizado.
Quanto à questão da “Islamização” da Europa tomemos Portugal como exemplo, onde foi decidido pelo parlamento a integração e acolhimento de cinco mil refugiados, o que representaria 0,05% da população nacional. Em média, poderíamos dizer que seria um refugiado por cada dois mil habitantes, uma proporção sem significado quanto ao problema de tentativa de imposição de religião. Para além disso, a maioria dos refugiados são muçulmanos, professam a fé islâmica mas sem transporem o plano político como os islamitas e sem intenções ou doutrinas violentas como os jihadistas. Em suma, os refugiados são apenas pessoas que, apesar de terem uma fé diferente da cristã, saem do seu país de origem não para evangelizar mas por temerem pela sua própria vida.
Entendo que a Europa necessita de se assumir verdadeiramente como a pátria dos Direitos Humanos. Não conheço ninguém que não fique desarmado com os números registados de mortes ou desaparecimentos de pessoas que tentavam chegar ao continente do sonho. Desde 1993 até 2015, este número registava 31 mil e quinhentos e dois mortos/desaparecidos, sendo que só entre 2011 e 2015, no mar mediterrâneo, registaram-se 11 mil e vinte e oito mortes. Se perante estes números somos capazes de ficar indiferentes, então, já perdemos o que nos define como Humanidade. Fechar as Fronteiras é assinar o pacto com o Diabo, é render-nos ao medo e dar a vitória a terroristas com os da Daesh, cujo propósito é causar o pânico e terror nas pessoas. Eu não quero ser parte da Europa que ergue um muro com 175 quilómetros e quatro metros de altura só porque tem medo. Quero ver para além da desgraça, da miséria, da Indiferença… Quantos dos refugiados que chegam com formação e não poderão vir a ser os novos génios das ciências? Porque nos recusamos a ver que acolhê-los poderá ajudar-nos a combater a falta de população ativa e que contribuirão para a sociedade sustentável?
Um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) releva que o acolhimento rápido de refugiados pode atenuar o problema do envelhecimento populacional e incrementar o consumo e investimento, conduzindo a um aumento do produto interno bruto (PIB). Mais de um milhão de migrantes chegou à Europa em 2015 e estes poderão ser uma parte da resolução do problema geracional e económico.
Poderão chamar-me de sonhadora ou até mesmo de irrealista, mas eu quero acreditar na Europa Unida, a que ouviu França gritar na sua revolução “igualdade, liberdade e fraternidade”, a que derrotou a ideia de uma raça pura como única, a que se uniu porque acreditava que juntos somos mais fortes.

Joana Vilaça Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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