quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A saída do Reino Unido da União Europeia

           A saída do Reino Unido da União Europeia tem sido um objetivo perseguido por vários indivíduos e partidos políticos desde 1973, aquando a entrada do Reino Unido na então chamada Comunidade Económica Europeia, estabelecida em 1957 pelo Tratado de Roma. Dois anos após a sua adesão à CEE, foi realizado um referendo sobre a sua permanência, relativamente à qual 67% dos eleitores se mostraram a favor.
        Um novo referendo foi realizado a 23 de Junho de 2016, após a aprovação do European Union Referendum Act de 2015 pelo Parlamento britânico e, tal como prometido pelo então primeiro-ministro David Cameron, caso ganhasse as eleições parlamentares de 2015 (embora este fosse a favor da permanência, alertando para as possíveis consequências negativas de uma saída). Este referendo tratou-se de uma resposta a uma pressão crescente associada a questões como a soberania nacional, o controlo de fronteiras (sobretudo da imigração), a segurança interna, a defesa e a centralização versus controlo nacional. No dia seguinte, o mundo acordou para a notícia de que o Reino Unido iria mesmo deixar a UE - depois de 52% dos mais de trinta milhões de votantes terem decidido a favor da saída -, bem como da demissão de Cameron e a queda dos mercados globais. Trata-se da primeira vez que um país abandona esta união económica, que só tem vindo a crescer desde o seu início.
        No entanto, uma vez encerrado o referendo, começou-se a perceber que nem todos os britânicos conheciam as consequências do seu voto, apesar do assunto ter dominado os meios de comunicação nos meses anteriores ao referendo – segundo o Google Trends, as pesquisas no Google com a pergunta “what happens if we leave the EU?” (“o que acontece se deixarmos a UE”) aumentaram cerca de 250%. Assim, após o anúncio do resultado do referendo, as cinco perguntas mais populares no Reino Unido eram “o que significa deixar a UE?”, “o que é a UE?”, “quais países pertencem à UE?”, “o que irá acontecer agora que deixamos a UE?” e “quantos países pertencem á UE?”.
Analisando a geografia dos votos, é possível ainda constatar que nem todas as regiões se mostravam a favor da saída – enquanto que a Inglaterra e o País de Gales votaram para sair, a Escócia e a Irlanda do Norte votaram para ficar. Contudo, 59,9% dos votantes em Londres mostraram-se a favor da permanência, bem como noutras cidades circundantes.
        Quais são, então, as consequências desta saída para o Reino Unido, para a União Europeia e para Portugal? O mercado único, sem barreiras ao comércio, tais como tarifas, é o grande pilar da UE. Os defensores da saída afirmam que é possível integrar o mercado único e não a UE, dado que a economia britânica é forte e dela dependem muitos países-membros. Por outro lado, há quem defenda que estes seriam de certa forma obrigados a punir o Reino Unido, de forma a dissuadir outras potenciais saídas. Uma análise do Tesouro britânico afirma que os prejuízos seriam permanentes e que levariam a uma redução do PIB em 6% até 2030. O ministro da economia, George Osborne, defendia que este teria de ser coberto com aumentos de impostos, cortes (na saúde, educação e defesa) e anos de políticas de austeridade.
Quanto à UE, esta poderia tornar-se num parceiro comercial menos atraente a nível mundial, perdendo algum poder; no entanto, dado que o Reino Unido era um dos países-membros que mais se opunha ao aprofundamento da integração, a saída poderá resultar numa maior coesão dos países restantes.
Para Portugal, um dos maiores impactos esperados será sentido na emigração: o RU passou a ser o principal destino dos portugueses. Uma queda da economia e do poder de compra, acentuada pela desvalorização da libra face ao euro, tem efeitos negativos no turismo e castiga ainda as empresas exportadoras portuguesas, aliadas ao regresso de taxas alfandegárias sobre os produtos exportados (o RU é o quarto mercado mais importante para as empresas portuguesas).
        O artigo 50º do Tratado de Lisboa será evocado em março de 2017, dando início à saída.

Alexandra de Sousa Fernandes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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